NELSON COELHO DE SENNA

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 04

Por Raul Bernardo Nelson de Senna

Na História dos povos fulguram, aqui e além, ao longo dos séculos, pontos de rara luminosidade firmados por homens que se destacaram, ou pelo intenso clarão do saber, ou pelo trabalho, ou pelo devotamento às artes, às ciências, às letras, às armas ou à Pátria.

Nelson Coelho de Senna, mineiro nascido às 5 horas de 11 de outubro de 1876, no seu amado Serro – O “ninho de águias” – escritor e historiador, professor universitário, jurista, político e, sobretudo um apaixonado pela mineiridade e pelo Brasil, é dessas estrelas de brilho singular e permanente a derramar suas luzes sobre as gentes das Gerais.

Filho de professores empenhou-se, desde muito cedo, nos estudos das Letras, da História e do Direito, principiando também a ensinar, quando a maioria dos jovens de sua geração ainda permanecia desinteressada pelas coisas sérias da vida.

Com efeito, aos vinte anos incompletos viria substituir, na Cadeira de História Universal e Brasileira (da qual veio a se tornar Lente Catedrático), no então famoso e tradicional Ginásio mineiro, nada menos do que o já então muito festejado professor e político Afonso Arinos de Melo Franco.

Mas foi em criança, ainda menino e estudante da Escola Normal de Diamantina, que Nelson de Senna aderiu ao Jornalismo, onde revelou particular talento, não apenas como redator, mas também como diretor e administrador de jornal. Na verdade, foi em Diamantina que fundou e dirigiu “O aprendiz”, um quinzenário quase todo feito por ele. Mais tarde, em Ouro Preto, foi redator-chefe da “Academia”, órgão da classe dos estudantes de Direito de que então participavam Arthur Bernardes, Raul Soares e outros nomes ilustres que despontavam para a vida nacional.

Sua estréia como escritor deu-se em 1895, em Ouro Preto, onde publicou um folheto intitulado “Memória Histórica e Descritiva da Cidade e Município do Serro”, em que revela seus pendores, ao mesmo tempo, de historiador e de literato. Mais ainda: proclamou seu devotamento ao torrão natal.

Desde então, nunca mais deixou de escrever. Sua obra, volumosa e fértil, compreende os mais diversos e diversificados assuntos: contos, biografias, discursos, arrazoados forenses, teses de concurso, questões nacionais e internacionais, geografia, estatísticas, crônicas, conferências, anotações gramaticais, e até mapas, ajudando a compor o do Estado de Minas Gerais.

Quando se candidatou à Cátedra de Filosofia e História do Direito, da tradicional “Casa de Afonso Pena”, em Belo Horizonte, escreveu sua tese de concurso, publicada no opúsculo “As Novas Questões Internacionais”, trabalho esse elogiado por Rui Barbosa, Clóvis Bevilacqua e Carlos de Carvalho.

Em 1916 fundou e dirigiu, até 1918, sua maior publicação e uma das mais expressivas, o “Anuário de Minas”, obra esgotada, minuciosa e de precioso conteúdo, versando História, corografia, estatística e literatura do imenso território de Minas.

Lente substituto da Cadeira de Economia Política, Direito Administrativo e Legislação de Terras, da Escola de Engenharia da Capital mineira, foi efetivado em 1919, tornando-se Catedrático.

Era um intelectual incansável e minucioso e não enjeitava tarefas. Dedicou-se, também, aos estudos dos Indios, dos cursos d’água, rios e bacias. O trabalho intitulado “A Hulha Branca em Minas Gerais” contém a relação de 1.160 quedas d’água existentes no território do Estado mineiro. Em um estudo simultaneamente crítico, histórico e literário, publicado em 1917, na “Revista Americana”, Nelson de Senna põe em relevo o talento de Thomaz Antonio Gonzaga, para ele o “Petrarca de Laura de Vila Rica”.

Os discursos de Nelson de Senna na Câmara dos deputados, suas conferências nas Academias de Letras de todo o País, sua preocupação em fundar não somente academias, mas Institutos Históricos, levou-o a percorrer todo o Brasil, em defesa dos interesses nacionais, dando assim o seu melhor e maior exemplo, confirmador da energia e da capacidade realizador a do nosso povo, sempre destacando, com grande espírito de mineiridade, essa capacidade, através da nossa evolução social, econômica e política e, mostrando, em várias das suas 68 obras publicadas, a necessidade de altos poderes da República, naquela época, melhor acudirem às reais necessidades de algumas opulentas e várias regiões brasileiras, como por exemplo, o Vale da Amazônia, tão distinguido em seus estudos. Dizia ele que a cobiça imperialista de outros povos poderia desalojar a soberania do Brasil.

Pelejador contumaz e incessante, Nélson de Senna teve o seu perfil traçado pelo imortal Oscar Mendes (seu sucessor na cadeira de que é patrono José Eloy Otoni, na Academia Mineira de Letras), com estas palavras:

“O homem foi sempre assim: uma atividade em contínua ação. Era um tipo bem representativo do mineiro tradicional. Na calma e na gravidade sisuda da aparência exterior, na sua tenacidade no trabalho, no seu culto à tradição, na sua fidelidade à religião, no seu apego à terra natal, no seu interesse pelo Brasil, na sua experiência da política, no seu amor à liberdade e à justiça e, sobretudo, no seu amor à família. A morte da esposa muito amada e de um filho em plena varonilidade e no exercício de uma carreira futurosa abalou-o profunda e intensamente, como o magoavam também com intensidade a injustiça, a deslealdade, a irreverência e a estupidez humana.

Dono de uma personalidade fascinante, pelo duplo prestígio da inteligência e da nobreza de caráter, não pôde Nélson de Senna esquivar-se aos apelos e solicitações de amigos – todos eles figuras exponenciais do pensamento político da época – para que pudesse a serviço de seus concidadãos, no Parlamento, o seu talento e o seu civismo.

Estreou pois, como Deputado, em 1906, eleito pela 6ª Circunscrição. Foi reeleito, por mais quatro vezes, para as legislaturas posteriores. Depois, eleito Deputado Federal por Minas Gerais, a 5 de fevereiro de 1922 teve renovado seu mandato, por mais quatro vezes, até ver-se, em 1930, esbulhado do mesmo, “como castigo imposto pelo fulgor com que defendeu os ideais da Aliança Liberal”.

Como Deputado Federal e Estadual, destacou-se pela variedade e solidez de sua cultura, de que fazem prova os numerosos Projetos de Lei de sua autoria, todos eles versando matéria de indiscutível utilidade pública. No Parlamento Nacional, teve destacada atuação no Plenário, como festejado orador que foi, e nas Comissões Técnicas, na qualidade de membro efetivo da Comissão de Diplomacia e Tratados. Pertenceu Nélson de Senna à falange dos grandes Políticos do antigo Partido Republicano Mineiro, o PRM de Artur Bernardes, João Pinheiro, Raul Soares e outros políticos de projeção nacional, donde se acrisolaram suas excelentes virtudes de homem público. Com forte lastro de sua cultura geral – filosófica, sociológica, histórica, literária e científica – soube Nélson de Senna imprimir à sua ação política uma coerência que o tornou uma figura singular na vida parlamentar de nosso País.

Nelson de Senna preocupou-se sempre em demasia, sem ufanismo, mas sob acentuada visão técnica e econômica, com as grandes riquezas nacionais. Em 1923 realizou nesta Câmara dos Deputados amplo pronunciamento sobre essa magna questão, expendendo com clareza, precisão e incomparável ótica prospectiva, suas ideias sobre a siderurgia no Brasil, alinhando “as grandes riquezas do País em jazidas e minérios de ferro, cálculos e estimativas de sua presença em território de Minas Gerais; avaliação do nossopotencial de ‘hulha branca’ e resenha das maiores quedas de águas industrialmente aproveitáveis, nas regiões mais ricas em depósitos de minérios”.

Ao lado dessa febril atividade de político polígrafo, historiador, advogado, jornalista, professor e literato, foi Nélson de Senna um exemplo de homem dedicado à família. Casado com D. Emília Gentil Horta Gomes Cândido, mineira como ele (ela era natural de Mariana e foi uma das razões de sua força e de seu sucesso), viveram a vida na mais completa, comovente e duradoura harmonia, juntamente com seus sete filhos, todos por ele e por sua dedicada mulher encaminhados corretamente na vida, mercê de uma educação conduzida com os ensinamentos da moral e da honra, do dever e da caridade cristã.