ARTHUR DA SILVA BERNARDES

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 06

 

Por Fernando Araújo

Artur da Silva Bernardes nasceu em Viçosa (Minas Gerais) em 8 de agosto de 1875. Filho de um português, Antônio da Silva Bernardes e de Maria Aniceta Bernardes, foi o 4º filho de uma família de nove filhos. Aprendeu as primeiras letras com o professor Manuel de Deus Melo e na escola sempre obteve os primeiros lugares. Ainda criança trabalhou na casa comercial do seu cunhado Manuel Graça de Souza Pereira e mesmo na Casa Teles, de Visconde do Rio Branco.

Ao chegar a época de fazer o curso de humanidades foi
para o famoso e austero Colégio do Caraça, onde passou sua puberdade. O Caraça era um modelar estabelecimento de ensino, muito conhecido por já haver preparado para a vida muitas gerações de homens ilustres. Aí Arthur Bernardes obteve os ensinamentos que muito influíram na sua formação moral, religiosa e pública: o zelo pela causa pública, o escrúpulo na distribuição do dinheiro do governo, o espírito de disciplina, de ordem e de economia.

Concluiu os preparatórios em Ouro Preto, onde, ao mesmo tempo, trabalhou nos Correios e foi redator do jornal O Cisne. Latinista e profundo vernaculista, escrevia e falava corretamente e com facilidade.

Mantinha sempre a postura austera, sorrindo pouco, não frequentando serenatas e não dançando. Mudando-se para São Paulo para estudar na Faculdade de Direito, logo passou a trabalhar no Instituto de Ciências e Letras, como professor de latim e português.

Diplomou-se nessa faculdade em 1900, retornando logo para Viçosa, onde iniciou sua carreira de advogado. Aí casou-se com Clélia Vaz de Mello, filha do senador Carlos Vaz de Mello, com quem teve sete filhos. Isto facilitou a sua carreira política, pois o seu sogro era um destacado líder da região. Começou como vereador e, aos poucos, foi assumindo a direção da política local. A oposição ao seu nome era comandada por José Teotônio Pacheco, que mantinha um jornal A Reação, enquanto Bernardes, tornando-se redator do A Cidade de Viçosa, revidava com elegância mas com firmeza, os ataques ao seu nome. Eleito Deputado Estadual em 1907, Federal em 1909 e 1918, não terminado este mandato por ter sido nomeado Secretário das Finanças do Governo Bueno Brandão. Nesta Secretaria ele remodelou o regime tributário e conseguiu o equilíbrio orçamentário, organizando a vida financeira do Estado.

Nessa época, a Estrada de Ferro Leopoldina ficava a seis quilômetros de Viçosa, distância que tinha que ser vencida a cavalo. Bernardes conseguiu seu desvio para passar dentro de Viçosa, um melhoramento considerado impossível pelos seus opositores, os Pachecos. Consta que o doutor Pacheco, ao assistir à chegada do primeiro trem, afirmou a seus filhos: “Retiremo-nos da política, porque Bernardes acaba de dar a Viçosa a Estrada de Ferro.”

Em 1918 foi eleito para governador de Minas Gerais, apoiado por todas as correntes políticas. Seu manifesto contendo o programa de governo foi uma demonstração do pleno conhecimento que ele tinha dos problemas mineiros. E cumpriu o prometido, construindo 138 pontes em locais até então considerados difíceis e caros, aumentando em 1.498 quilômetros as estradas de rodagem, difundindo o ensino com a abertura de 421 escolas isoladas e 13 novos Grupos Escolares.

Criou e Construiu o Hospital do Radium, o primeiro da América Latina a dedicar-se ao tratamento do câncer. Fundou o Instituto de Química Industrial e o Instituto dos Alienados (Hospital Raul Soares). Construiu os Hospitais Regionais de Pouso Alegre, Viçosa, Pirapora e Patos. Iniciou as obras da Penitenciária-Modelo de Neves, fundou colônias agrícolas no interior do Estado e a Escola Superior de Agricultura de Viçosa.

Canalizou correntes imigratórias para Minas, considerando que não poderíamos progredir sem o braço estrangeiro.

Impediu a execução do contrato federal com a Itabira Iron, por considerá-lo lesivo aos Interesses de Minas Gerais. Da mesma forma, lutou posteriormente, no Congresso Nacional, pelo controle do petróleo e pela preservação da Hiléia Amazônica.

Deixou o Estado em excelente situação financeira. Essas grandes realizações no Governo de Minas Gerais, que impressionaram todo o Brasil, foram decisivas para a indicação do nome de Bernardes para a Presidência da República. No entanto, o dono do jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, Edmundo Bittencourt, que teve negada por Bernardes a indicação do nome do seu compadre José Felipe de Freitas Castro para sua vaga na Câmara Federal, iniciou uma campanha de desmoralização pública do candidato mineiro. A campanha teve por base a publicação de cartas falsas injuriosas às Forças Armadas e pretensamente escritas por Bernardes. Em pouco tempo, o falsário foi descoberto e toda a trama desfeita. Esta vaga de Artur Bernardes seria naturalmente de Emílio Jardim de Rezende.

Artur Bernardes foi eleito em 1º de março de 1922, por esmagadora maioria dos votos, tendo tomado posse no dia 15 de novembro de 1922, perante o Congresso Nacional.

Devido à ferrenha oposição de uma minoria atuante, governou praticamente em estado de sítio. Mesmo assim, tendo recebido uma dívida verdadeiramente angustiosa de seu antecessor, conseguiu regularizar a situação financeira e econômica do Brasil, além de pagar mais da quarta parte da dívida encontrada. Além disto, conseguiu um alto desenvolvimento da produção e do comércio exterior, principalmente, do algodão, tendo para tanto, instalado estações experimentais em Seridó (Rio Grande do Norte), Entre Rios (Bahia), ltaocara (Rio de Janeiro), Sete Lagoas (Minas Gerais) e Piracicaba (São Paulo). Idênticas estações para o trigo foram implantadas no Rio Grande do Sul. Para difusão das sementes foram instaladas fazendas experimentais na Bahia, Paraíba, Ceará e Alagoas. Cerca de oito Patronatos Agrícolas foram criados em São Paulo (2), Bahia (2), Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Paraíba. Hortos Florestais, destinados ao reflorestamento, foram inaugurados no Jardim Botânico e no Pico do ltatiaia.

Instituiu o Conselho Nacional do Trabalho para regular as relações entre empregados e patrões, no tocante às férias, aposentadorias e pensões dos industriários, ferroviários e comerciários.

Na saúde, ampliou consideravelmente, o departamento Nacional de Saúde Pública, que originou o futuro Ministério da Saúde. Inaugurou um completo serviço de radiotelegrafia unindo todas as unidades da Marinha e do Exército. Além do ativo material, Bernardes deixou, também, um grande ativo de moralidade administrativa. Recebeu muitas acusações de medidas policiais repressivas e preventivas praticadas por seus auxiliares, em defesa da ordem pública. Nunca, no entanto, foi acusado, seja no Congresso ou pela imprensa, de pactuar com imoralidade administrativa. Paralelamente, sempre manteve suas convicções religiosas, baseadas na formação cristã de sua infância em Viçosa e no período em que estudou no Caraça. Seu extremado nacionalismo levou-o a uma permanente e intransigente luta na defesa dos interesses pátrios, muito diferente dos atuais políticos que, a titulo de uma estranha “globalização”, entregam nossas riquezas aos estrangeiros. Foi devido a esse nacionalismo intransigente e caráter impoluto que Bernardes era conhecido como o “Jequitibá de Viçosa”, numa alusão à resistência dessa árvore.

Após o seu período presidencial, quando fazia oposição ao ditador Getúlio Vargas, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, foi preso e deportado para a ilha do Rijo, em Portugal. Antes de ser preso, enquanto arregimentava forças para lutar pela democratização do país, apoiando São Paulo, que lutava pela constitucionalidade, manifestou firmemente a sua posição, com uma frase que ficou na história: “Quanto a mim, fico com São Paulo porque para São Paulo se transportou hoje a alma cívica do Brasil.” Ao retornar do exílio, quando o país voltou à legalidade, desembarcou do navio Alcântara, no Rio de Janeiro, no dia 12 de agosto de 1934. recebendo consagração popular, com discursos de políticos e vivas dos presentes. Faltavam 53 dias para as eleições e, mesmo assim, elegeu-se Deputado Federal, juntamente, com outros correligionários. Em 1937, Getúlio Vargas deu o golpe do “Estado Novo”, restabelecendo a ditadura, que perdurou por cerca de oito anos.

Artur Bernardes, Patrono da Cadeira 6, faleceu de infarto do miocárdio, às 13 horas do dia 23 de março de 1955, no Rio de Janeiro, sendo sepultado no Cemitério de São João Batista, após ser velado na Câmara dos Deputados.

Na Câmara, o senador Afonso Arinos de Melo franco, em inflamado discurso, lembrou que “Ele deixa, mais que tudo, uma lição e uma esperança. Quando tantos moços vacilam, hesitam, perturbam-se e se omitem, não deixa de ser uma esperança vermos desaparecer no Convés do seu navio, capitaneando o seu barco partidário, com a mão na roda do leme de sua organização política, este velho marinheiro que conheceu tantos temporais e que conheceu tantos mares”.

Segundo seu biógrafo, Alberto de Souza Lima, “ele foi um austero brasileiro e um homem que nas menores coisas tinha a noção exata da responsabilidade. Era tenaz e severo, mas nunca intransigente. Lutava com toda a sua força e inteligência para salvaguardar as reservas do Brasil: o ferro, o petróleo e as riquezas da Amazônia”.

Clóvis Salgado lembrou que “não são muitas as Pátrias que contam em toda a sua história com homens da envergadura moral e da grandeza cívica de Artur Bernardes”.