ANTÔNIO CARLOS RIBEIRO DE ANDRADA

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 10

Por Marco Aurélio Baggio

Antônio Carlos Ribeiro de Andrada era filho de família ilustre, bisneto do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva. Nasceu, em Barbacena, MG, em 1870, filho do Senador Antônio Carlos de Andrada e de D. Adelaide Feliciano de Lima Duarte.

Estudou no Colégio Abílio, em Barbacena. Formou- se na Faculdade de Direito de São Paulo, em 1891. Foi promotor de Justiça em Ubá, em 1891. Advogou e lecionou em Juiz de Fora, onde foi vereador. Casou-se em Petrópolis, em 1899, com D. Julieta de Araújo Lima Guimarães, com quem teve cinco filhos.

Foi Prefeito de Belo Horizonte, de 30 de outubro de 1905 a 7 de setembro de 1906. Eleito Senador, em 1907. Deputado Federal, em 1911, sendo sucessivamente reeleito até 1925. Foi Ministro da Fazenda, em 1917, no Governo Wenceslau Brás.

Empossou-se como Presidente do Estado de Minas Gerais em 1926.

Foi um dos mentores da Aliança Liberal, movimento político que galvanizou o Brasil com suas propostas de instituir o voto secreto universal, incentivar a produção nacional para outros itens além do café, defender as liberdades individuais, propor anistia geral aos revoltosos das revoluções de 1922 e 1924 e empreender reforma política modernizadora no país.

Ambíguo como todo grande estadista, Antônio Carlos, o conservador, foi o liberal que inspirou e deu respaldo às articulações políticas e militares, que desembocaram na Revolução de Outubro de 1930.

Deputado Constituinte em 1933, foi eleito Presidente da Câmara dos Deputados, posição de onde comandou a confecção da Constituição democrática de 1934, por ele assinada em 16 de julho de 1934.

Homem de hábitos refinados, dotado de inteligência vivaz e incisiva, temperada por bom humor afiado, acompanhava o particular talento para o trato sério e empenhado para com a coisa pública. Era político por paixão e gosto escoltados por responsabilidade e senso de proporção. Sabia como influenciar o processo de acontecimento das coisas, tal qual astuciosa raposa das Alterosas. Hábil, manobrista, excelente debatedor parlamentar, ótimo líder, postava-se como ave de grande envergadura, vislumbrando cenários e objetivos bem maiores do que aqueles que se debatiam no cotidiano da vida legislativa. Despertava vivas simpatias. E algumas suspeitas.

Antônio Carlos foi um dos raros estadistas de que o Brasil dispôs. Em 31 de agosto de 1936, obteve uma das mais consagradoras manifestações de apreço, que um homem público já desfrutou neste país, quando o plenário lotado, com 223 parlamentares, exigiu sua permanência na direção da Presidência da Câmara dos Deputados.

Estudioso das finanças públicas, tornou-se competente administrador delas. Humanista, descobriu e incentivou artistas. Instituiu o voto secreto no âmbito das eleições estaduais e municipais, em Minas Gerais, já no primeiro ano de sua presidência (1926).

Freqüentou as reuniões do Instituto Histórico e Geográfico, durante sua presidência, dando exemplo e alento. Revitalizou o sodalício, então entorpecido, sendo seu grande benemérito.

Criou a Universidade de Minas Gerais, em 7 de setembro de 1927. Implantou o melhor e o mais avançado sistema de ensino público, durante sua governadoria, utilizando os talentos de Francisco Campos e de Mário Casassanta.

A República Velha geria um enorme país agrário, cujo sustentáculo econômico estava lastreado nas fazendas de café. Pelo tratado de Taubaté, em 1906, estabeleceu-se uma política nacional de valorização do café. Aquilo que é correto num dado momento tende, por inércia econômica e por inépcia dos homens, a tornar-se dogma conservador e a prevalecer por tempo demais.

Em 1929, com a quebra dos valores na Bolsa de Nova York, não havia mais como sustentar os preços valorizados do café. Como de todo o resto.

Estava em vigência, desde 1914, o acordo político café-com-leite. São Paulo –café e Minas Gerais – leite, os dois mais populosos e poderosos Estados do Brasil houveram por bem partilhar a presidência da República numa alternância de poder.

Em 1922, tomara posse o mineiro Arthur Bernardes. Em 1926, fora a vez do paulista de Macaé, Washington Luis, acender à presidência da República.

Em 1926, Antônio Carlos tornara-se o excelente Presidente de Minas Gerais. Pela ordem natural das coisas, pela tradição conservadora da política do país. o próximo Presidente do Brasil seria, naturalmente, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.

Para Washington Luís, o tempo urgia e ele não estava à altura de perceber. Sua prepotência em querer impor ao país um sucessor paulista, homem de 37 anos, Júlio Prestes de Albuquerque, seu protegido, desceu goela abaixo por dezessete Estados brasileiros.

Antônio Carlos postulou sua candidatura. Insinuou seu direito à sucessão. Washington Luís foi radical, impenitente. Queria Júlio Prestes, para continuar sua política de valorização da moeda e estabilização econômica.

Antônio Carlos era um conservador da melhor estirpe. Um dia, se suplantou. Foi quando disse:
- Não tenho meios de impor minha candidatura ao Presidente Washington Luís, mas tenho meios de impedir a vitória de Júlio Prestes.

Em 1929, houve um minueto de jogos de poder. Aos 58, 59 anos de idade, maduro, o velho Antônio Carlos pôs-se a articular com jovens políticos. Um açodado jornalista, o maquiavélico Assis Chateaubriand, pôs fogo na fogueira do Palácio da Liberdade. Se Minas Gerais – Antônio Carlos – não tem seu pleito aceito pelo arrogante mandatário, resta a Antônio Carlos indicar a candidatura alternativa de um gaúcho. O Patriarca Borges de Medeiros é a figura de proa, que escolta Getúlio Vargas, emergente expoente dos pampas. Minas veta Júlio Prestes. Indica o Presidente da Paraíba João Pessoa, para Vice-Presidente da República. O tempo urge. Washington Luís não cede. A crise econômica se agrava. Os preços do café desabam.

Desde 1922, o Brasil aspirava outros ares, novos modos e outras práticas de exercício do poder político. Uma burguesia industrial e comercial emergente se alia a uma plêiade de intelectuais, clamando por modernização do país. Passara o tempo dos fazendeiros do café no Poder.

Antônio Carlos cria a Aliança Liberal que incendeia o país com idéias inovadoras. Fere-se o pleito, viciado pelas atas fabricadas, em toda parte. Vence Júlio Prestes, com diferença de 400.000 votos. O tempo da Revolução amadurece, quando Antônio Carlos profere: – Façamos a revolução, antes que o povo a faça. Mensageiros percorrem o eixo Minas-Rio Grande do Sul. Osvaldo Aranha é o grande articulador da Revolução, nos pampas, vencendo as hesitações de Getúlio Vargas. A 3 de outubro de 1930, estala a Revolução. Vinte dias após, o movimento revolucionário está Vitorioso em todo o país. Antônio Carlos vencera. Tinha desempenhado o papel de magno articulador das forças liberais do país. Estabelece, então, relacionamento respeitoso com Getúlio.

Em 1932, lança o peso de seu prestígio político, carreando Minas mais uma vez, a favor do Governo Provisório, contra a insurreição conservadora paulista.

Em 1934, como Presidente da Câmara dos Deputados e Vice-Presidente da República, promulga a Constituição democrática de 1934, cuja confecção ele comandara. Nos anos vindouros, velhice chegando, permanece ativo, funcionando como moderador das paixões políticas, ponto de referência às novas gerações. Sua estatura é de uma das reservas morais da nação, como farol e exemplo. A morte vem colhê-lo em 1º fevereiro de 1946, no Rio de Janeiro.

A vida e a obra de Antonio Carlos são o exemplo magno de um homem que soube estar preparado para suplantar os desafios de seu tempo.

A atuação pública de Antônio Carlos pautou-se pelo elevado descortino que mantinha, para além da conjuntura política de seu tempo, vislumbrando sempre os objetivos nacionais maiores. Como tal, prestou serviços que ajudaram a evolução do Brasil como nação.

Hoje, é confortável afirmar que o Presidente Antônio Carlos Ribeiro de Andrada foi um dos mais relevantes agentes civilizatórios da História do Brasil.