FREI JOSÉ DE SANTA RITA DURÃO

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 13

Por Paulo Roberto Gomes Leite

Frei José de Santa Rita Durão nasceu em Cata Preta, em 1722, e faleceu em Lisboa, em 1784. Foi um religioso agostiniano brasileiro do período colonial, orador e poeta. É também considerado um dos precursores do indigenismo no Brasil. Seu poema épico “Caramuru” é a primeira obra a ter como tema o habitante nativo do Brasil; foi escrita ao estilo de Luís de Camões, imitando o poeta clássico, assim como faziam outros neoclássicos (árcades).

Estudou no Colégio dos Jesuítas, no Rio de Janeiro, até os dez anos, partindo, no ano seguinte, para a Europa, onde se tornaria padre agostiniano. Doutorou-se em Filosofia e Teologia pela Universidade de Coimbra, e em seguida lá ocupou uma cátedra de Teologia.

Durante o governo de Pombal, foi perseguido e abandonou Portugal. Trabalhou em Roma como bibliotecário, durante mais de 20 anos, até a queda de seu grande inimigo, retomando ao país luso.

Esteve ainda na Espanha e na França. Voltando a Portugal com a “viradeira” (queda de Pombal e restauração da cultura passadista), a sua principal atividade foi a redação de “Caramuru”, publicado em 1781. Morreu em Lisboa, Portugal, em 24 de janeiro de 1784.

Ao Brasil não voltou mais e sua epopéia foi uma forma de demonstrar que ainda tinha lembranças de sua terra natal.

Sua única obra restante é o poema épico de dez cantos, “Caramuru”, o qual é extremamente preso ao modelo de Camões. Formado por oitavas rimadas e incluindo informação erudita sobre a flora e a fauna brasileiras e os índios do país, “Caramuru” é um tributo à sua terra natal. Segundo a tradição, a reação da crítica e do público ao seu poema foi tão fria que Santa Rita Durão destruiu o restante de sua obra poética.

Lista de obras

  • Pro anmia studiorum instauratione oratio (1778)
  • Caramuru (1781)

Frei de Santa Rita Durão introduziu um prólogo, em prosa, em seu poema Caramuru, no qual descreve parte da vida do náufrago Diogo Álvares Correia, que recebeu dos índios o apelido de Caramuru. Abaixo, os quatro primeiros cantos de seu famoso poema.

CARAMURU POEMA ÉPICO

DESCOBRIMENTO DA BAHIA

 

CANTO I

De um varão em mil casos agitados,

Que as praias discorrendo do Ocidente,

Descobriu recôncavo afamado

Da capital brasílica potente;

Do Filho do Trovão denominado,

Que o peito domar soube à fera gente,

O valor cantarei na adversa sorte,

Pois só conheço herói quem nela é forte.

 

CANTO II

Santo Esplendor, que do Grão Padre manas

Ao seio intacto de uma Virgem bela,

Se da enchente de luzes soberanas

Tudo dispensas pela Mãe donzela;

Rompendo as sombras de ilusões humanas,

Tudo do grão caso a pura luz revela;

Faze que em ti comece e em ti conclua

Esta grande obra, que por fim foi tua.

 

CANTO III

E vós, Príncipe excelso, do Céu dado

Para base imortal do luso trono;

Vós, que do áureo Brasil no principado

Da real sucessão sois alto abono;

Enquanto o império tendes descansado

Sobre o seio da paz com doce sono,

Não queirais designar-vos no meu metro

De pôr os olhos e admiti-lo ao cetro.

 

CANTO IV

Nele vereis nasce es desconhecidas,

Que em meio dos sertões a fé não doma

E que puderam ser-vos convertidas

Maior império que houve em Grécia ou Roma!

Gentes vereis e terras escondidas,

Onde, se um raio da verdade assoma,

Amansando-as, tereis na turba imensa,

Outro reino maior que a Europa extensa.