INÁCIO JOSÉ ALVARENGA PEIXOTO

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 15

 

À DONA BÁRBARA HELIODORA

Bárbara bela, do Norte estrela,

Que o meu destino sabes guiar,

De ti ausente triste a suspirar.

Por entre as penhas de incultas brenhas

Cansa-me a vista de te buscar;

Porém não vejo mais que o desejo,

Sem esperança de te encontrar.

Eu bem queria a noite e o dia

Sempre contigo poder passar;

Mas orgulhosa sorte invejosa,

Desta fortuna me quer privar.

Tu, entre os braços, ternos abraços

Da filha amada podes gozar;

Priva-me a estrela de ti e dela,

Busca dous modos de me matar!

(Poema dedicado à sua esposa, remetido do cárcere da Ilha das Cobras)


Por Carlos Alberto P. R. de Carvalho

Inácio José Alvarenga Peixoto, poeta fluminense (Rio de Janeiro, 1744 – Ambaca, Angola, 1792), estudou no Colégío dos Jesuítas no Rio de Janeiro, assim como na Universidade de Coimbra, em Portugal, onde conheceu o poeta Basílio da Gama (São José do Rio das Mortes, atual Tiradentes-MG, 1740 – Lisboa, Portugal, 1795) de quem se tornou grande amigo.

Publicou, em Lisboa, seu livro de poemas “Glaura”, tornando-se o exemplo perfeito do estilo rococó em nossa literatura. Com seus rondós e madrigais, envolvidos por intensa musicalidade, apresenta uma natureza decorativa, bem ao gosto arcádico.

Exerceu o cargo de Juiz de Fora da Vila de Sintra, Portugal.

Em 1776, está de volta à pátria. Foi nomeado ouvidor da comarca do Rio das Mortes (Minas), com sede em São João del-Rei, onde conheceu a poeta Bárbara Heliodora (São João del-Rei-MG, 1758 – São Gonçalo do Sapucaí, 1819), bonita e prendada, filha de uma família paulista.

Casou-se com Bárbara Heliodora, em 1781. Abandonou a magistratura e dedicou-se à mineração. Ganhou dinheiro, comprou fazendas e escravos, levando vida feliz com a mulher e quatro filhos, entre os quais Maria Eugênia, “a princesa do Brasil”, segundo o pai.

Alvarenga era amigo dos poetas Cláudio Manoel da Costa (Ribeirão do Carmo, atual Mariana-MG, 1729 – Vila Rica, atual Ouro Preto, 1789) e Tomás Antônio Gonzaga (Porto, Portugal, 1744 – Maputo, Moçambique, 1810).

O poeta tinha um caráter entusiasta e generoso, mas, ao mesmo tempo era ambicioso e perdulário.

Com isso, conquistou amigos, inimigos e muitas dívidas. Foi amigo dos poderosos da época e partilhava com os demais intelectuais de seu tempo ideias libertárias advindas do Iluminismo. Por fim, pressionado pelas dívidas e pelos altos impostos, acabou se envolvendo na Inconfidência Mineira. Entre os poetas árcades, Alvarenga foi o que mais se envolveu na Conjuração. Foi preso e conduzido para a Ilha das Cobras (Rio de Janeiro), e de lá, em exílio perpétuo, para Angola.

A família desfez-se: a esposa enlouqueceu, Maria Efigênia suicidou-se, os outros três filhos sofreram rudemente.

A temática amorosa era uma das vertentes da poesia de Alvarenga
Peixoto. Em seus poemas é fácil perceber uma postura crítica quanto à sociedade da época. Sua diminuta obra foi recolhida por Rodrigues Lapa e apresenta alguns dos sonetos mais bem acabados do arcadismo brasileiro.

Fiquemos, portanto, com três jóias produzidas pelo vasto universo da mente de Alvarenga.

À MARIA IFIGÊNIA

(Em 1786, quando sua filhinha completava sete anos)

Amada filha, é já chegado o dia,

Em que a luz da razão, qual tocha acesa,

Vem conduzir a simples natureza:

- É hoje que teu mundo principia.


A mão que te gerou, teus passos guia;

Despreza ofertas de uma vã beleza,

E sacrifica as honras e a riqueza

Às santas leis do Filho de Maria.


Estampa na tu’ alma a Caridade,

Que amar a Deus, amar aos semelhantes,

São eternos preceitos de verdade;


Tudo o mais são ideias delirantes;

Procura ser feliz na Eternidade,

Que o mundo são brevíssimos instantes.


DE AÇUCENAS E ROSAS MISTURADAS

De açucenas e rosas misturadas

não se adornam as vossas faces belas,

nem as formosas tranças são daquelas

que dos raios do sol foram forjadas.


As meninas dos olhos delicadas,

verde, preto ou azul não brilha nelas;

e o autor soberano das estrelas

nenhumas fez a elas comparadas.


Ah, Jônia, as açucenas e as rosas,

a cor dos olhos e as tranças d’oiro

podem fazer mil Ninfas melindrosas;


Porém quanto é caduco esse tesoiro:

vós, sobre a sorte toda das formosas,

inda ostentais na sábia frente o loiro!