JOSÉ PEDRO XAVIER DA VEIGA

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 18

Por Oiliam José

José Pedro Xavier da Veiga foi um dos grandes intelectuais mineiros do século 19, um jornalista de destaque, um importante historiador e político. Além disso, foi o precursor nos estudos sobre jornalismo nas Minas Gerais. Sua monografia A imprensa de Minas Gerais 1807-1897 (In: Revista do Arquivo Público Mineiro, Ano III, 1898. pp. 169-249) foi o primeiro trabalho sobre jornalismo produzido no estado.

Ele era de uma família de grande tradição na política, na imprensa e na cultura. Um exemplo disso foi seu tio Evaristo da Veiga, o redator da Aurora Fluminense, que contribuiu bastante para a abdicação de D. Pedro I.

Seu avô, Francisco Luís Saturnino da Veiga, veio de Portugal em 1784, com 13 anos, e foi morar no Rio de Janeiro. Lá, ainda moço, lecionou Latim, Aritmética e Gramática. Mas em pouco tempo mudou de oficio, tornando-se livreiro, o que contribuiu muito para que seus descendentes ganhassem amor pelos livros.

Entre os filhos de Saturnino da Veiga estavam figuras brilhantes. Evaristo, grande jornalista e político, eleito três vezes deputado pelas Minas Gerais. Bernardo, por duas vezes exerceu a presidência da província das Minas, e foi representante na Câmara dos Deputados do Império entre 1843 e 1844, e deputado provincial. Lourenço, o pai de José Pedro Xavier da Veiga, criou jornais e foi defensor da fundação de uma nova província no sul das Minas.

Os parentes de José Pedro Xavier da Veiga criaram diversas publicações, na cidade de Campanha, nas Minas Gerais: Opinião Campanhense (1832 a 1837), Nova Província (defendendo a criação da província no Sul das Minas, 1854 e 1855), O Sul de Minas (1859 a 1863), O Monitor Sul Mineiro e almanaques (1872 a 1898). Mas o maior destaque foi Evaristo da Veiga, com a Aurora Fluminense, no Rio de Janeiro, uma referência do jornalismo brasileiro no século 19.

José Pedro Xavier da Veiga nasceu em Campanha, em 13 de abril de 1846 e, com méritos reconhecidos, foi jornalista, político, historiador, poeta e primeiro diretor do Arquivo Público Mineiro. Desde cedo, apaixonou-se pela narrativa histórica bem séria e deduzida tanto da tradição como dos documentos, até seu falecimento em Ouro Preto, no dia 9 de agosto de 1900.

Após seus estudos secundários, em São Paulo e no Rio de Janeiro, desejou realizar o Curso de Direito, mas não pôde concluí-lo por motivo de sua frágil saúde. Passou então a trabalhar em livraria carioca e, com isso, adquiriu méritos para projetar-se nas letras.

Lavras, a partir de 1870, o teve como escrivão de órfãos. Foi quando decidiu entregar-se à prática política, como haviam feito colegas seus de faculdade, inclusive o Presidente eleito da República Afonso Augusto Moreira Pena. Conseguiu, seguidamente, ser Deputado Provincial (1872-1879 e 1882-1883).

Como integrante do Partido Conservador, elegeu-se, também, Senador Estadual (1891-1898). No exercício de seus mandatos, dedicava especial atenção aos municípios, onde localizava de modo concreto a vida das comunidades. E foi graças a isso que obteve a elevação de nossa terra natal, o Presídio, à categoria de Vila (1881) e, pouco depois, à de cidade, em 28 de setembro de 1882. Tanto amava o municipalismo, que, em seu privilegiado amor a ele, o levou à opor-se a transferência da Capital do Estado para o Curral dei Rei, nosso imenso Belo Horizonte. Amava Ouro Preto, ali residia, e não admitia vê-lo destituído de sua maior qualidade: “É seria muito triste, muito triste, Srs., que o velho e tradicional Ouro Preto, edificado pelo despotismo português, no último século de seu jugo, que o velho e tradicional Ouro Preto, berço glorioso da liberdade brasileira tenha de ser destruído pela República no alvorecer da sua dominação!...”

Nada disso, porém, apagou sua vocação de historiador, graças ao que organizou o Arquivo Público Mineiro e foi seu primeiro Diretor de 1895 a 1900. Graças a essa entidade, salvou da destruição, boa parte da documentação provincial mineira ou relativa a Minas. Com isso, o referido Arquivo tem oferecido aos pesquisadores da História farto material informativo ou comprovativo.

Este Arquivo chegou a merecer de Carmo da Gama elogio que bem o concretiza, até nossos dias, e que foi escrito em publicação de 1925: “O Arquivo é o templo, é a guarda, é o relicário, o verdadeiro relicário de nossas tradições, de nossa história, é o testemunho permanente de nosso passado.” (Revista da Academia Mineira de Letras, volume III, Belo Horizonte, pág.113).

Chegou merecidamente a pertencer ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a ser muito consultado em matéria de historiografia mineira. E, reconhecendo seus méritos de administrador, o Presidente de Minas, Francisco Silviano Brandão, o designou para, em seu nome, negociar o delicado problema da divisa de nosso Estado com o estado do Rio de Janeiro. Seu Relatório, bem elaborado e sucinto, em suas 79 páginas, contribuiu para a aceitável decisão final do assunto, que provinha de indesejável passado.

Deixou, também, apreciável bibliografia, que abrange os livros: Enciclopédia Popular, Almanaque do Sul de Minas, Efemérides Mineiras, (abrangendo o longo período de 1664 a 1897). Esta obra, em 4 volumes e editada em Ouro Preto, oferece o registro de importantes fatos e figuras mineiras. Nela, dedicou, por exemplo, especial referência a Fortunato José Pereira, que foi respeitado político em Rio Branco, hoje Visconde do Rio Branco e nossa terra natal.

Na Revista do Arquivo Mineiro está registrada outra parte de sua colaboração, na qual estuda fatos e figuras da História de Minas.

Sobre Xavier da Veiga foram publicados livros e estudos em jornais e revistas, em geral elogiosos, embora alguns discordem de poucas afirmações suas, aliás fato comum até nas obras de análise históricas dignas de respeitável consideração.

Não foi sem razão que o Imperador D. Pedro II lhe outorgou a Comenda da Ordem da Rosa, pois reconhecia nele merecido louvor como homem público. E foi este o motivo de sua escolha como patrono da cadeira n° 18, do centenário e respeitável Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

Tudo o que se disse sobre Xavier da Veiga pode parecer bastante. Engana-se, porém, aquele que assim pensa. Esse mineiro de alta qualificação cultural fez muito mais que tudo isso. E essa é a razão que nos leva a indicar e louvar, a seguir, outras realizações dele, tanto na pesquisa como no elenco histórico narrativo e no vasto campo da atividade político-partidária.

Um dos seus feitos na área da historiografia a merecer louvor foi a já referida, instituição da Revista do Arquivo Público Mineiro. Graças a ela e através de variados estudos, chegaram até nós, vários públicos atos político-administrativos ocorridos em Portugal e relativos à maior colônia do Império Luso. E, aliás, graças a isso, que a História Mineira pôde ter seu início até antes do que seria possível com a garantia documental. Graças e louvores devem ser feitos àqueles que, louvavelmente, indicaram a figura de Xavier da Veiga para patrono da cadeira nº 18.

Neste final, cumpre-nos recordar o que foi Xavier da Veiga como chefe de família voltado para o lar, cimentado na virtude, especialmente a do amor. Carmo da Gama, um saudoso acadêmico, expende especial louvor à vida familiar sobre a qual podemos tecer nobres louvores e dizer que emanava dele e de Dona Luiza Augusto Amaral da Veiga: “Foi aí, na lendária Ouro Preto que se lhe oferece à vista e ao coração o anjo, que o jovem poeta procurava com afã, através dos labores e dos sonhos, e nesse anjo o legítimo emblema da bondade, o conjunto de todas as desejáveis virtudes...” (Revista da Academia Mineira de Letras, n° III, pág. 92 e 93)

Nesse abençoado lar, encontrou, também, inspiração, para registrar e deixar poemas de terno amor. Foi, assim, romântico na vida familiar e nos versos que merecem, até hoje, valiosa aceitação.