ALPHONSUS DE GUIMARAENS

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 22

Por Antônio Carlos Nohmi

Afonso Henrique da Costa Guimarães nasceu em 24 de julho de 1870, na cidade de Ouro Preto, estado de Minas Gerais. Toda sua vida esteve ligada a sua cidade natal e região, sendo conhecido como Solitário de Mariana, e passando a assinar Alphonsus de Guimaraens, em 1894.

A poesia de Alphonsus de Guimaraens é marcadamente mística e envolvida com religiosidade católica. Seus sonetos apresentam uma estrutura clássica, e são profundamente religiosos e sensíveis, na medida em que ele explora o sentido da morte, do amor impossível, da solidão e da inaptação ao mundo.

Contudo, o tom místico imprime em sua obra um sentimento de aceitação e resignação, diante da própria vida, dos sofrimentos e dores. Outra característica marcante de sua obra é a utilização da espiritualidade, em relação à figura feminina, que é considerada um anjo, ou um ser celestial, por isso, Alphonsus de Guimaraens é neo-romântico e simbolista, ao mesmo tempo, já que essas duas escolas possuem características semelhantes.

Sua obra, predominantemente poética, Consagrou-o como um dos principais autores simbolistas do Brasil.

Sua poesia é quase toda voltada para o tema da Morte da Mulher amada. Embora preferisse o verso decassílabo, chegou a explorar outras métricas, particularmente a redondilha maior.

Um fato marcante em sua vida foi a perda prematura da prima e noiva Constança (uma das filhas de Bernardo Guimarães), vitimada pela tuberculose aos dezessete anos. Assim, toda a vida poética de Alphonsus de Guimaraens foi marcada por este acontecimento. É comum encontrarmos em suas obras, várias citações sobre este fato. Como exemplo, podemos citar o soneto “Hão de chorar por ela os cinamomos”, onde se encontra: “... Ai, nada somos/ Pois ela se morreu silente e fria...”/ E pondo os olhos nela como pomos/ Hão de chorar a irmã que lhes sorria”.

Após a morte de Constança, foi para São Paulo estudar Direito, vindo a se formar no ano de 1895. Na capital paulista, tomou contato com os ideais simbolistas e escreveu parte de sua obra. Também em São Paulo, durante algum tempo, pareceu se recuperar do drama da morte de sua noiva, o que na verdade, nunca ocorreu.

No Rio de Janeiro, em 1895, conheceu Cruz e Sousa. Poeta que admirava e do qual se tomou amigo pessoal. Posteriormente, no ano de 1899, estreou na literatura com dois volumes de versos: “Septenário das dores de Nossa Senhora” e “Câmara Ardente”, ambos de nítida inspiração simbolista.

Em 1900, passou a exercer a função de jornalista, colaborando em “A Gazeta” de São Paulo, ao mesmo tempo em que cursava a Faculdade de Direito. Em 1902, publicou “Kyriale”. Esta obra o projetou no universo literário, obtendo assim um reconhecimento, ainda que restrito de alguns raros críticos e amigos mais próximos. Em 1903, teve seu cargo de juiz-substituto em Conceição do Serro suprimido, fato que o levou a graves dificuldades financeiras.

Após recusar um posto de destaque em “A Gazeta”. Alphonsus de Guimaraens foi nomeado para a direção do jornal político “Conceição do Serro”, onde também colaboraria seu irmão Archangelus de Guimaraens, Cruz e Souza e José Severino de Resende. Em 1906, tomou-se Juiz Municipal de Mariana (cidade vizinha a Ouro Preto), cargo que exerceria pelo resto de sua vida pacata.

Viveu seus últimos anos na obscuridade, ao lado de sua esposa Zenaide de Oliveira, com quem teve 14 filhos. Ocasionalmente, recebia a visita de poucos amigos e admiradores, até sua morte em 15 de Julho de 1921, na cidade de Mariana.

Alphonsus de Guimaraens foi essencialmente, um poeta místico de obra, profundamente, embasada na espiritualidade humana. A religiosidade que pautava vários autores de sua época, surgia em versos simples, pausados e intimistas de sua obra, porém, sempre sublimes e musicais. Em toda sua trajetória literária, é translúcido o sofrimento que pontuava sua existência, por vezes soava até mesmo como uma convenção poética. Mas sabe-se que nem o casamento, nem a vida pacata em Mariana, atenuavam o sofrimento perene dado pela ausência de Constança.

Alphonsus de Guimaraens inseriu, em suas poesias, certo tom mórbido e misterioso, onde a morte da mulher amada é um fator intimamente presente em suas estrofes. Pode-se encontrar, com facilidade, referências às cores roxa e negra, ao corpo morto, ao esquife etc. Essas características foram herdadas dos ultra-românticos. Ainda quando compõe sobre a natureza, a arte e a religião, Alphonsus, frequentemente, insere citações mortuárias.

Wilson Melo da Silva (pai) definiu o poeta com texto muito simbolista:

Alphonsus de Guimaraens foi sonho e foi vida. Foi melancolia e tristeza. Foi sofrimento e resignação. Foi misticismo. Desalento. Angústia. Oração.

Ele foi o Poeta do Amor e da Morte, o poeta dos frios luares e das estamenhas lívidas. O poeta dos ocasos de sangue, mesclados de sombras mortas. O poeta das noites plúmbeas, das catedrais e dos sinos. O poeta das Dores surdas, das Agonias lentas e, sobretudo, o poeta da Fé.

Alphonsus foi o Poeta do Invisível. O poeta que cantou a Ausência a Distância e o Além.

Seus versos têm o velado sussurro das orações e das preces.

Eles evocam, não raro, os tons graves dos cantochões. E, não raro, trazem até nós a dolência de litanias distantes e de distantes misereres.

Enfim, a poesia de Alphonsus Guimaraens é como se ressoasse ‘por vezes, a música de câmara, instrumentada de oboés e clarinetas’. Alphonsus Guimaraens foi, com certeza, um dos expoentes do Simbolismo nacional. Além disso, alguns, em pinceladas de forte colorido, têm buscado retratá-lo não tanto como ele efetivamente o foi, mas, antes, como desejariam que ele tivesse sido.”

ALGUMAS OBRAS

“Septenário das Dores de Nossa Senhora” e “Câmara Ardente (1899); “Dona Mística” (1899); “Kyriale” (1902), “Pauvre Lyre” (1921); “Pastoral dos Crentes do Amor e da Morte” (1923), “A Escada de Jacó” (1938); “Pulvis” (1938). Os Mendigos (1920) (Em prosa).

Dança dos Ossos

OBRAS NÃO-PUBLICADAS
Os Inconfidentes (drama - 1865)
Os dois Recrutas (drama - cerca de 1870)
As Nereidas de Vila Rica ou As Fadas da Liberdade (drama - cerca de 1870)
A Catita Isaura (drama - 1876)
A História de Minas Gerais (encomendada pelo imperador D. Pedro II, em 1881).

Alphonsus de Guimarães foi homenageado com o Patronato da Cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras, que teve como fundador Raimundo Correia e na qual tiveram assento figuras exponenciais como Osvaldo Cruz e Rachel de Queiroz. Recebeu, também, a homenagem do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, para ser o patrono da Cadeira 22.