ANTÔNIO AUGUSTO DE LIMA JÚNIOR

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 23

Por Walter Gonçalves Taveira

Em 13 de abril de 1889, Dona Vera Monteiro de Barros de Suckow, deu a luz ao seu filho, Antônio Augusto de Lima Júnior, no Sítio do Desengano, município de Leopoldina. O pai, então juiz de direito do município, era de Congonhas de Sabará, atual Nova Lima, filho de José Severiano de Lima e de Maria Rita Deniz Barbosa. Na linha paterna, toda de Congonhas de Sabará, ele teve, por bisavós, o capitão-mor Silvério Augusto de Lima, um dos três sócios na Mina do Faria e o capitão-mor José Maria da Cunha Jardim, proprietário das Minas do Gaia e das Gabirobas que antes pertenceram a Fernão Dias Pais (o neto). A mãe, Dona Vera, era filha do Dr. Gustavo Adolfo Suckow e neta do major Hans Wilhelm Von Suckow, oficial do Batalhão do Imperador – que em 1815 fora tenente de cavalaria do piquete do marechal Blücher, tendo participado da Batalha de Waterloo – e de Dona Rita Clara Monteiro de Barros Suckow, bisneta do Barão de Paraopeba. Lima Júnior teve mais seis irmãos, Maria José, Renato, Maria das Mercês, José Augusto, Maria Letícia e Maria Rita. O pai fora depois nomeado juiz de direito da comarca de Conceição da Serra, no estado do Espírito Santo, pelo Visconde de Ouro Preto, chefe do último gabinete da monarquia.

Aos dois anos Lima Jr. mudou-se para a capital, Ouro Preto, quando seu pai se investia nos poderes de primeiro mandante da província. Este, como Governador, assinou e encaminhou mensagem ao Congresso provincial solicitando a mudança da capital para o distrito de Belo Horizonte, antigo distrito sabarense de Curral d’EI Rey.

Lima Jr. cursou a escola primária e aos 11 anos transferiu-se para Cachoeira do Campo onde, em regime de internato cumpriu o curso de Humanidades no tradicional Colégio Dom Bosco. Matriculou-se na Faculdade de Direito de Minas Gerais, onde se diplomou como bacharel em Direito, aos vinte e um anos, em 1909.

Casou-se no Rio de Janeiro, com Teodósia de Castro Cerqueira, de família carioca, exímia pintora, cujos ancestrais vieram da Bahia, do tronco da família de Castro Alves. Tiveram quatro filhos, Maria Tereza, Maria Luíza, Maria Vitória e Antônio Augusto de Lima Neto.

Lima Jr. iniciou sua jornada profissional na área militar e aí manteve a atividade de natureza econômica até se aposentar. Auxiliar de Auditor de Guerra, nas fortalezas da Barra do Rio de Janeiro e Auditor no Estado-Maior da Primeira Circunscrição Judiciária do Exército, em 1935 transferiu-se para a Marinha de Guerra, no cargo de Procurador junto ao Tribunal Marítimo, aposentando-se em 1944. Em 1939 viajara para Portugal representando o Brasil na comemoração dos 800 anos do país e lá presidiu a construção do Pavilhão Brasil na Exposição do Mundo Português.

Tinha um ideal cívico, trasladar as cinzas dos inconfidentes falecidos no degredo para o Brasil, dando a Ouro Preto a complementação física de sua valente história. Conseguiu que fosse criado o Museu da Inconfidência, onde estão sepultados os grandes projetistas da Independência, os Inconfidentes de 1789. O presidente Vargas comissionou Lima Jr. na qualificação de delegado junto ao governo português. Em 1936, fez vir de África para o Rio de Janeiro, com escala em Lisboa, as cinzas dos Inconfidentes, a bordo do “SS Bagé”. Sob sua supervisão os restos mortais dos Inconfidentes vieram em câmara ardente, no salão nobre do navio, em regime de orações e homenagens diárias. Esses sagrados despojos, que se constituem no mais alto símbolo da Nação Brasil, foram solenemente recebidos pelo presidente da República, parlamentares e escritores da época, em soma ao povo, em clima de forte emotividade. Usou de sua influência com Vargas para obter o Decreto que elevou Ouro Preto à categoria de Monumento Nacional e fez valer seu prestígio, trazendo a Ouro Preto o Ministro da Marinha, catorze almirantes, oitenta oficiais da Amada e a Banda dos Fuzileiros Navais, para os festejos decorrentes.

Lima Jr. foi o idealizador da “Medalha da Inconfidência”, redigiu os decretos os regulamentos e o plano da mesma, tornando-a realidade em 28 de julho de 1952, através da Lei no. 882, assinada pelo governador no kubitschek. Estabeleceu a prática de comemoração anual da Inconfidência Mineira. “in loco”, renovando, a cada ano, em 21 de abril, a reverência à memória de Tiradentes.

Lima Júnior, irreverente, incorria em situações inéditas. Sua irmã, Maria Rita de Lima Lustosa, em sua obra “Quarta-feira do Ano Passado”, escreveu: “Lima Júnior foi considerado o homem das polêmicas em Minas, das quais sairia sempre com razão, bem fundamentado nos dados cuidadosamente recolhidos”. “Em uma de suas asserções afirmara que Tiradentes fora executado sem sua clássica barba”. “Isso foi comprovado através de análise dos regulamentos militares, ata de execução, etc”.

Foi colaborador da imprensa carioca para os jornais “A Gazeta de Noticias”, “A Noite”, “Jornal do Brasil”, “Jornal do Comércio” e “Correio da Manha”. Em 1927 Lima Jr. permaneceu em Belo Horizonte por um ano, em cuja ocasião fundou o jornal “Diário da Manhã”, com serviço telegráfico do estrangeiro. Para tanto adquiriu uma rotativa Marinoni e oito linotipos. Esse jornal teve, mais tarde, sua propriedade transferida para novos donos e seu nome foi modificado para “Estado de Minas”, que prevalece até hoje.

Foi membro ativo da Academia Mineira de Letras e, por absoluta convicção um dos Inconfidentes Mineiros na Revolução de 1964. Recebeu as Comendas de Cristo e Santiago da Espada de Portugal.

Suas obras foram inúmeras: “Dom Bosco e sua Arte Educativa” - (Escolas Profissionais Salesianas, 1929); “A Cidade Antiga”, romance (Freitas Bastos Editores, 1931); “Mansuetude - Educação Cristã” (Escolas Profissionais Salesianas, 1932); “Mariana”, romance de costumes religiosos mineiros, 1932; “Visões do Passado”, ensaios históricos, 1934; “História e Lendas”, Schmidt Editor, 1935, Rio; “Canção da Grupiara”, versos, Pimenta de Melo e Cia., Rio, 1935; “O Amor Infeliz de Marília de Dirceu”, Editora A Noite, Rio, 1936; 2ª edição, 1937, Rio; “A Capitania das Minas Gerais”, Lisboa, 1940 (2ª edição de 1943, 3ª edição de 1965 e 4ª edição de 1978); “Cartas de D. Pedro I a Dom João VI”, Editora Jornal do Comércio, Rio, 1941; “O Aleijadinho e a Arte Colonial”, 1943, Rio; “A Capitania das Minas Gerais”, Edição Valverde, Rio, 1943; “História dos Diamantes nas Minas Gerais”, Livros de Portugal, 1945, Rio; “O Fundador de Caraça”, Editora Jornal do Comércio, Rio, 1948; “Serões e Vigílias”, Livros de Portugal, 1952; “Notícias Históricas”, Livros de Portugal, Rio, 1952; “Quando os Ipês Florescem”, edição do autor, 1965; “História da Inconfidência de Minas Gerais”, Imprensa Oficial, 1956, re-editado em 1996 pela Editora Itatiaia; “História de Nossa Senhora em Minas Gerais”, Imprensa Oficial, 1957; “Vila Rica de Ouro Preto”, Gráfica Veloso, Belo Horizonte, 1957; “Crônica Militar!”, em 1960; “As Primeiras Vilas de Ouro”, em 1962.

Em sua obra. “Quando os Ipês Florescem”, exibe-nos uma das mais belas páginas de sua vida. Na intimidade com sua arte ele exterioriza suave confidência sobre sua inesquecível companheira, falecida em 8 de setembro de 1962:
Acredito firmemente que o maior sinal que Deus nos dá de uma predestinação feliz, é a dádiva de uma boa esposa”. “Eu não seria capaz de explicar o quanto devo à minha, na conformação de minha personalidade, no amor às cousas espirituais e na sensibilidade aos aspectos estéticos da vida”. “Nem sei se tudo quanto lhe ensinei, na longa convivência entre os nossos livros, vale o que aprendi dela, através de uma discreta humildade sem servilismo e na acuidade com que surpreendia um motivo artístico, religioso ou profano”. “Identificara-se comigo de tal maneira que incorporara à sua própria alma, minhas paisagens, minhas recordações, e meus sofrimentos”. “As histórias de minha infância e as da sua, confundiam-se e, por isso, peregrinávamos por esses santos lugares de nosso passado”.

Faleceu aos 81 anos, em 26 de setembro de 1970, em Belo Horizonte, onde foi sepultado no Cemitério do Bonfim. Em, 31 de março de 1971, no IHGMG o presidente Dermeval José Pimenta fez uma evocação à sua memória, lembrando que quando de seu falecimento e com a concordância da família, seu corpo fora trazido para a sede da entidade, onde permaneceu em velório cívico, numa demonstração do reconhecimento pelos seus grandes serviços.