RODOLPHO JACOB

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 28

Por Aristoteles Atheniense

Rodolpho Jacob nasceu na cidade de Grão Mogol, em lº de julho de 1870. Filho do comendador João Júlio Jacob e de Ana Florinda Gomes Jacob, aos onze anos de idade viajou a Paris, onde cursou humanidades, haurindo na Cidade Luz conhecimentos humanísticos que tanto influíram em sua obra.

Ao retornar ao Brasil, revalidou os cursos realizados no estrangeiro, bacharelando-se na primeira turma da Faculdade de Direito, em Ouro Preto, de que foi o orador.

Durante o curso, casou-se com Maria Vicentina Chaves, filha de Antonio Gonçalves Chaves, presidente da Província, senador federal e diretor da nossa primeira Faculdade de Direito.

Desse consórcio nasceram dez filhos.

Foi catedrático do antigo Ginásio Mineiro (1894 a 1933), hoje Colégio Estadual, onde lecionou grego e francês, falando ainda inglês e alemão.

Graças ao seu fluente francês, Jacob tornou-se intérprete dos governadores do Estado, quando estes recebiam autoridades de outros países em visita a Minas Gerais.

Segundo um de seus alunos do Colégio Estadual, o saudoso Dr. Guy de Guimaraens (filho do poeta Alphonsus de Guimaraens), as aulas de Rodolpho Jacob eram marcadas pelo estímulo que incutia nos discentes alertando-os para que, no futuro, estivessem capacitados a atingir a meta de seus ideais.

O entusiasmo de suas aulas era contagiante, o que concorreu para tornar-se referência obrigatória também entre os professores, devido à sua sólida cultura não só na área do Direito, como no trato dos temas mais empolgantes.

Em 1919, organizou o VI Congresso Nacional de Geografia realizado em Belo Horizonte tendo pertencido ao Instituto Panamericano de Geografia e História.

Já em 1922, respondeu pelas festividades comemorativas do Centenário da Independência.

Como pesquisador da história de Minas Gerais, organizou um completo estudo compendiando a valiosa colaboração dos cientistas alienígenas que percorreram as nossas montanhas.

Rodolpho Jacob focalizou a atuação desses intrépidos peregrinos, enaltecendo aqueles que “no mais nobre zelo de saber, como de serem úteis à nossa terra, aqui tiveram em diversos tempos uma estadia mais demorada e mais atenta”.

Em seu livro “Minas Gerais no Século XX” (1911), referiu-se a Saint-Hilaire que tomava a “antiga província como um padrão ao qual aquilatava os modos de ser e as tendências das outras nossas populações”.

Na introdução, enfatizou que:

“A situação nossa geográfica, a origem da nossa gente, imprimiram fundamente esse peculiar sentir. (...) Este sentimento se devia naturalmente sublimar na dedicação e no denodo com que desde a sua infância atribulada ela forcejou romper os grilhões do domínio estranho. E após assim lhe haver dado precursores ela foi ainda, na hora suprema, esta justiça já lhe começam a fazer, um dos fatores decisivos para a completa nossa libertação desse jugo”.

Esse livro teve grande repercussão também no estrangeiro, recebendo a Medalha de Prata na Exposição Internacional de Turim.

Em 1913, foi admitido como professor de Direito Civil e Comercial da Faculdade de Direito. Dois anos após, tornou-se catedrático de processo civil e comercial.

É dessa época o seu estudo denominado “Escrituração Comercial”, em cujo prefácio encontra-se esta justificativa:

Fora das nossas principais praças, raro é o comerciante que tenha uma escrita regular. Obrigados, porém. quase todos, por lei recente, a terem os seus livros selados e rubricados, os comerciantes do interior da República, desejando aproveitar os livros, que adquiriram e legalizaram, exprimem a louvável intenção de unir a regularidade e a constância à legalidade de sua escrituração”.

Isto tornou-lhes sensível a falta de pequena obra, onde para o seu uso pessoal sejam expostas com clareza as normas de escrituração apropriada à simplicidade e à multiplicidade das transações do comércio do interior, dispensando concurso de um guarda-livros, que ali se encontra raras vezes, e cujo estipêndio não é a todos permitido”.

Em 1920, Rodolpho Jacob dedicou à Sua Majestade Alberto I, rei da Bélgica, que estava em visita a Minas Gerais, a obra “L’etat de Minas Gerais”, que, publicada em dois volumes, mereceu louvores do soberano que o distinguiu com a condecoração de oficial da Ordem de Leopoldo II.

Jacob substituiu Afrânio de Melo Franco (1922 a 1925) na Faculdade de Direito, tornando-se, ainda, professor de Economia e Finanças (1931), Direito Público (1932) e Direito Romano (1934 a 1936).

Dotado de excepcional conhecimento jurídico, como professor e advogado, foi convocado a participar da elaboração da Constituição Estadual em 1934.

Ao encaminhar esse trabalho ao presidente da Assembleia Constituinte, agradeceu a incumbência, nestes temos:

De todo o meu coração anelei, anelo um advento de renovamento para a nossa Pátria, e, em consequência, penso, sinto corno um dever, é o que cumpri, é o que estou cumprindo – o tudo fazer, sempre que se me ofereça o ensejo e na medida das minhas forças, para esse fim. (...) Entrego-vo-la, contente e agradecido serei se a aprovardes, contente e agradecido ainda, com todos os vossos conterrâneos e constituintes, se, desprezando-a, é obra sincera, mas cheia sem dúvida de erros, melhor vos pronunciardes, – como bem viva e confiadamente almejamos –, no pleno sentimento daqueles altos e permanentes reclamos e das não menos altas e permanentes responsabilidades do nosso Estado no novo regime. Belo Horizonte, 26 de abril de 1935”.

Rodolpho Jacob faleceu em 20 de agosto de 1946.

O jornal “O Diário” publicou o seu necrológio, Constando da primeira parte:

“Prof. Rodolpho Jacob – Faleceu ontem essa figura marcante da cultura mineira – Traços de sua vida.

Com o falecimento do Prof. Rodolpho Jacob, ocorrido ontem, às 12 horas, desaparece uma figura exponencial da inteligência e da cultura mineiras. humanista, escritor professor advogado, historiador, o eminente mestre era uma dessas personalidades de escol, que desde cedo se dedicam às labutas da inteligência, construindo uma obra que há de ficar.

Descendente de ilustre família francesa, iniciou na terra de Racine o curso de humanidades, concluindo os estudos na Faculdade de Direito de Minas. Professor de Direito (...).

Escritor e historiador suas obras transpuseram nossas fronteiras, tendo sido uma delas premiada pelo alto valor dos estudos que encerra.

(...)

O sepultamento realiza-se hoje, às 10 horas, saindo o féretro da residência da família enlutada, à av. Afonso Pena, 1452, para a necrópole do Bonfim.
(...)

Em homenagem à memória do Prof. Rodolpho Jacob, esteve ontem fechada a Faculdade de Direito. O corpo foi velado por professores e alunos da Universidade de Minas Gerais”.

Se é expressivo o roteiro da vida de Rodolpho Jacob, rica de oportunidades, aquisições e encargos, o mesmo acontece com a obra que nos legou nos domínios da História e da Geografia. Uma e outra se somam para consagrá-lo como jurista ímpar e cidadão honrado. Dele pode-se dizer, parafraseando Kafka, que: “Crescer para dentro é crescer para o alto”.