AFONSO ARINOS DE MELO FRANCO

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 30

 

Por Zanoni Neves

Afonso Arinos nasceu em Paracatu, Província de Minas Gerais, em 1 de maio de 1868, filho de Virgílio Martins de Melo Franco e de Ana Leopoldina de Melo Franco. Seu avô paterno era o fazendeiro José Martins Ferreira, casado com Dona Antônia de Melo Franco.

Afonso Arinos de Melo Franco, sobrinho do patrono da Cadeira nº 30, mencionou no prefácio do livro Os jagunços as origens mais remotas de sua família em Paracatu:

Os Melo Franco haviam se fixado em Paracatu desde meados do século XVIII. De então, data a carta de sesmaria firmada por Gomes Freire, que doava a João de Melo Franco terras às margens dos rios Preto e São Marcos, das quais restam ainda algumas partes em mãos da família. (Melo Franco, 1985, p. 6)

Estas primeiras informações sobre as origens rurais da família Melo Franco são significativas para compreendermos a obra literária de Afonso Arinos. A nosso ver, o homem sertanejo e o meio ambiente do cerrado são as marcas mais profundas de sua obra. Mas não se pode perder de vista também que seu pai era admirador de uma importante vertente da literatura brasileira: “O nome indígena, Arinos, não consta da sua certidão de batismo, e lhe foi atribuído mais tarde pelo pai, que distribuiu apelidos indianistas aos outros filhos. Afonso conservou o seu, como nome literário, e assim ficou conhecido, mais do que pelo nome de família. (Melo Franco, 1985, p.9) Em seu dicionário, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira confirma a existência dos Arinos, tribo indígena do Mato Grosso. (Ferreira, [s./d.], p.132) É importante acrescentar que o Indianismo é uma vertente do Romantismo brasileiro. Sem se tornar propriamente um adepto desta corrente literária, Afonso Arinos teve como uma de suas fontes de inspiração a literatura de Franklin Távora, que, embora considerado romântico, lançou as bases do regionalismo no Brasil.

Aos quatro anos de idade, Afonso Arinos fez sua primeira viagem pelas estradas do sertão. Seu pai foi nomeado juiz de Direito na comarca de Bagagem, atual cidade de Estrela do Sul, para onde seguiu com a família. As viagens de Arinos ao sertão se repetiram, numerosas, até pouco antes de sua morte. (Melo Franco, 1985, p. 6)

Em 1884, antes de iniciar seu curso universitário na Faculdade de Direito de São Paulo, Afonso Arinos visitou Paracatu, hospedando-se na residência de seu avô, João Crisóstomo Pinto da Fonseca. Essa viagem foi importante para sua carreira literária, tendo em vista que, apenas alguns anos depois, Arinos começaria a publicar seus contos sertanejos.

Quando residiu em Ouro Preto, exercendo a advocacia e o magistério, Arinos recebeu em sua casa escritores perseguidos pelo Governo de Floriano Peixoto – entre eles, Olavo Bilac e Coelho Netto. Mas outros intelectuais ali se reuniam em animados saraus: Carlos de Laet, Diogo de Vasconcelos, Aurélio Pires, Sabino Barroso, Emílio Rouéde, Álvares de Azevedo Sobrinho, Gastão da Cunha e outros.

Dentre os amigos com os quais Afonso Arinos partilhou ideias e assuntos literários, vale mencionar Coelho Netto a quem ele dedica um de seus contos mais importantes – “Pedro Barqueiro” –, que integra o livro Pelo sertão, considerado um clássico da literatura brasileira. Coelho Netto também é considerado um regionalista.

Conhecido por seu patriotismo, Olavo Bilac foi, talvez, o mais dileto amigo de Arinos, que também partilhava ideias nacionalistas e patrióticas que foram expostas na conferência “A unidade da pátria”, publicada numa edição póstuma em 1917. Bilac foi o prefaciador de seu livro “Lendas e tradições brasileiras”, cujo conteúdo revela o sertão e a brasilidade, que inspiravam Afonso Arinos. A amizade que unia estes dois escritores está presente nos primeiros versos de uma quadrinha bem humorada, escrita por Olavo Bilac: “Ó Conde de Melo Franco/ Senhor de Paracatu/ (...)”. (Melo Franco, 1985, p. 13) Em que pese o tom jocoso, o poemeto diz respeito a uma séria opção na vida política de Arinos: suas convicções monarquistas. Vale lembrar que o título de conde pertenceu à nobiliarquia do Império.

Afonso Arinos foi professor de história no Ginásio Mineiro em Ouro Preto e participou da fundação da Faculdade de Direito de Minas Gerais onde lecionou Direito Penal. Dentre os componentes da Congregação desta Faculdade, figurava o nome de João Pinheiro (Melo Franco, 1985, p. 13), fundador e primeiro presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Arinos colaborou também na fundação do Arquivo Público Mineiro, uma instituição respeitável até os dias atuais.

Em 1896, publicou artigos no jornal Estado de Minas, de Ouro Preto. Muda-se em 1897 para São Paulo onde assumiu a redação do jornal monarquista O Comércio de São Paulo, de propriedade da família Prado, que foi empastelado no ano seguinte, sendo as suas oficinas destruídas pelos republicanos. Arinos colaborou nesse jornal até 1899.

Em 1903, passou a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras onde foi recebido e saudado por Olavo Bilac. Em carta a Joaquim Nabuco, Machado de Assis afirma que “a eleição de Arinos, (...) foi brilhante”. (Apud: Melo Franco, 1985, p. 22) O seu talento de escritor fora reconhecido, sobretudo, depois da publicação do livro Pelo sertão, reunindo seus contos sertanejos.

Naquele mesmo ano, tomou posse no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro como membro correspondente, tornando-se membro efetivo em 1910. Sua admissão no IHGB baseou-se nos estudos históricos a que se dedicou. Em sua obra inclui-se o artigo “O passado de Minas e a inconfidência” – um estudo sobre o movimento liderado por Tiradentes. Sua conferência “Cristóvão Colombo e a descoberta da América”, proferida no Ginásio Mineiro, foi também publicada. Arinos foi colaborador da revista do IHGB, inclusive em sua edição de 1911.

Mesmo depois de fixar residência em Paris em 1904, o sertão permaneceu presente em seu pensamento, em suas reminiscências. Em 1912, viajou com amigos franceses pelo interior de Minas. “Sobre essa viagem, o Conde de Montlaur escreveu um livro bem interessante, Sur La Trace dês Bandeirantes, publicado em 1918, depois da morte de Arinos, e dedicado à sua memória”. (Melo Franco, 1985, p. 27) Premiado pela Academia Francesa, Jean de Montlaur foi um escritor de prestígio em sua época.

Ainda domiciliado na Europa, Afonso Arinos fez sua última viagem ao sertão em 1915, visitando a terra a que dedicou o melhor de sua inteligência e de seus sentimentos. Ao retornar desta viagem em 1916, faleceu em Barcelona. Despediu-se assim da vida e do torrão natal que tanto amou.

OBRAS LITERÁRIAS DE AFONSO ARINOS

  • Pelo sertão. (Contos). Rio de Janeiro: Laemmert, 1898.
  • Os jagunços. (Novela). São Paulo: Editor Antônio da Rocha Ribeiro, 1898.
  • Notas do dia. (Coletânea – artigos). São Paulo: Tipografia Andrade, Mello & Comp., 1900.
  • Tropas e tropeiros. Rio de Janeiro: 1904.
  • O contratador de diamantes. (Peça teatral em três atos e um quadro). Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1917.
  • A unidade da pátria. (Conferência). Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1917.
  • Lendas e tradições brasileiras. São Paulo: Levi, 1917.
  • O mestre de campo. (Romance). São Paulo: 1918.
  • Histórias e paisagens. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1921.
  • Ouro! Ouro! (Inédito, inacabado).