LÚCIO JOSÉ DOS SANTOS

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 31

Por Euripedes Santos Zumpano

No dia 27 de julho de 1875, nascia em Cachoeira do Campo, município de Ouro Preto, aquele que recebeu o nome de Lúcio José dos Santos. Eram seus pais o coronel João Inácio da Costa Santos, que possuía o mais alto posto na força pública de Minas Gerais, e dona Blandina de Figueiredo Santos, de antiga e tradicional família de Cachoeira do Campo, sempre dedicada à fé e às obras filantrópicas.

Em Cachoeira do Campo, teve início sua instrução primária. Aos treze anos foi para o Seminário de Mariana, onde fez o curso secundário de 1888 a 1892 e os preparatórios, no Ginásio Mineiro, quando então prestou os exames na Escola de Minas de Ouro Preto.

Diplomou-se Engenheiro de Minas em 1900, primeiro aluno da classe, premiado com uma viagem à Europa com vinte e cinco anos.

Tinha o dom da palavra. Entre as cadeiras do seminário, a Filosofia, a Teologia e a Retórica seriam suas constantes por toda vida.

Aos dezessete anos e de improviso, por insistência dos colegas, pronunciou seu primeiro discurso – assim iniciou sua entrada na vida, como ele mesmo afirmou. Possuía voz firme, pausada, ótima dicção, raciocínio lúcido, coerente e lógico. Irradiava simpatia. Falava e escrevia em várias línguas: inglês, espanhol, alemão, francês, latim e melhor ainda, na língua pátria. Abordou, em suas conferências e palestras, os assuntos mais diversos tais como: Teatro, Ensino, História, Didática, Crítica, Religião e, sobretudo, assuntos técnicos de Engenharia.

Como representante do Brasil no exterior teve oportunidade de expor seus conhecimentos a inúmeras platéias. Acrescente-se aos seus dotes intelectuais (o que deve ter aumentado mais seus dons na oratória) o fato de, quatro anos depois de formado em Engenharia, já professor em Ouro Preto, ter-se matriculado, em São Paulo, na famosa Faculdade de Direito. Formou-se em 1908 em Ciências Jurídicas e Sociais, pela referida Faculdade.

Em 1901, foi nomeado professor substituto interino da 3ª secção da Escola de Minas, logo depois, foi nomeado professor efetivo com dispensa de concurso. Em Ouro Preto, na Escola de Minas, lecionou grande parte da sua vida, tendo ministrado também outras cadeiras como Resistência dos Materiais, Estabilidade das Construções, Máquinas Térmicas, Mecânica Racional e Aplicada, Portos, Rios e Canais. Residiu em Ouro Preto até 1913, quando veio para Belo Horizonte. Em 1922, assumiu por concurso, na Escola de Engenharia, a cátedra de Portos, Rios e Canais. Em 1924, foi convidado pelo presidente Raul Soares, para o cargo de Diretor de Instrução Pública, no Estado de Minas Gerais.

Pelos seus méritos, sucedeu ao 1º reitor da UFMG, Professor Francisco Mendes Pimentel, para o biênio 1931 a 1933, recebendo, muito merecidamente, o título de Magnífico.

Representante do governo brasileiro e da Universidade de Minas, no Congresso Internacional de Universidades, em 1930, na capital de Cuba, onde foi eleito vice-presidente. Foi membro do Conselho Universitário da Universidade do Brasil. Esteve na Palestina, Egito, Grécia, e em vários países da América.

Foi condecorado pelo governo alemão. Pertenceu à Academia de Ciências de Minas Gerais, à Academia de Letras, à Sociedade Mineira dos Engenheiros, ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e ao Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

Respeitável foi sua obra escrita em livros, revistas, jornais e palestras, sobre assuntos técnicos e didáticos, culturais, históricos, crítico filosóficos, sociais e religiosos.

Publicou: “Missão Universitária nos Estados Unidos”; “Hidrotécnica”, em quatro volumes, um dos melhores trabalhos especializados no Brasil; “Problemas das Estradas de Rodagens em Minas”; “A Turbina Tangencial”; “As Caixas Agrárias do Sistema Raffeisen”; “O Domínio Espanhol no Brasil”; “A Segunda Viagem de Pedro I a Minas”; “A Religião em Minas”; “O Cristianismo e a Atualidade”; “O Espiritualismo”; “O Ensino Religioso nas Escolas”; “Sobre o Divórcio”; “A Eucaristia e O Coração Eucarístico de Jesus”.

Dirigiu o jornal “Horizonte” da diocese de Belo Horizonte e presidiu o “Círculo Católico e o Centro D. Vital de Minas Gerais”.

Em 1922, escreveu “A Inconfidência Mineira”, para comemorar o centenário de nossa independência, obra esta publicada em livro no ano de 1927. Outra grande obra escrita em 1926 foi a “História de Minas Gerais”, um resumo para uso didático, onde o autor afirma que procurou dar à sua exposição um tom simples e despretensioso, de modo a torná-la própria para nossas escolas. Aborda ele nesta obra, desde as origens, o território mineiro, o indígena, as entradas, a Inconfidência, o 1º e 2º reinados, a república até Minas Gerais nas ciências, letras, artes e indústrias.

A relevância de sua vida, no que se refere à atuação política foi ofuscada pelas suas qualidades de cientista, historiador, professor, jornalista, crítico, orador, didata, escritor e poliglota.

Sabemos que foi eleito vereador à Câmara Municipal, quando estudante, e, em 1908, ainda em Ouro Preto, ingressou na política, sendo eleito presidente da Câmara até 1911, data do bicentenário da fundação de Vila Rica.

Pelo seu saber e pela riqueza dos seus conhecimentos, foi nomeado para diversos cargos públicos que ocupou junto ao governo de Minas, mercê de seus princípios e sua moral. A sua atuação honrou os cargos que ocupou, não se deixando contaminar pela desonestidade e pela corrupção, hoje tão comuns.

A par da cultura que possuía, de todos os títulos, verve e dons oratórios, algo mais, muito maior Lúcio dos Santos cultivava com amor, dedicação e carinho: a fé.

Manteve uma fé fervorosa por toda sua existência. Atestam isso não só sua obras de fundo religioso e, também, seus atos, sua personalidade, seu trabalho junto a entidades cristãs e sua fidelidade. Jamais vacilou ou questionou questões religiosas. Pelo contrário, aprofundou-se cada vez mais nos sagrados mistérios da fé, com humildade e confiança. Foi membro de várias associações de fundo social, filantrópico e religioso. Foi 3º franciscano na Ordem com o nome de irmão Boaventura e confrade de São Vicente.

Líder espiritual deu sua contribuição à imprensa, dirigindo o jornal “Horizonte”, da diocese de Belo Horizonte, presidindo o “Círculo Católico” e o “Centro D. Vital de Minas Gerais”.

Casou-se, em Cachoeira do Campo, com D. Josefina de Figueiredo Santos. Tiveram nove seus filhos, sendo cinco mulheres e quatro homens: Brandina, Maria de Lourdes e Tereza, casadas; Josefina e Joana D’Arc, Lúcio José dos Santos, José Lúcio dos Santos, Afonso Lúcio dos Santos e João Lúcio dos Santos. Foram seus irmãos: Dr. Benedito José dos Santos, José Inocêncio dos Santos, Afonso dos Santos, Cristóvão Colombo dos Santos, João Inácio da Costa Santos e Odilon Bolívar dos Santos.

Se fossemos relatar a importância de toda sua prole não teríamos espaço suficiente para exaltá-la, tantos foram e continuam sendo, até hoje, os produtos dessa estirpe de pródigos.

Foi com a manchete de “Príncipe da Mocidade” que o “Minas Gerais”, de 13 de fevereiro de 1985, intitulou a belíssima página da sua edição, com dizeres como orador notável, humanista, professor e escritor.

Lúcio José dos Santos compõe o quadro dos grandes homens de Minas e do Brasil.

Em 19 de dezembro de 1944, faleceu o Dr. Lúcio José dos Santos, em Belo Horizonte, à Av. Getúlio Vargas, 923, aos sessenta e nove anos, lúcido, após rezar o ”Confiteor”, tendo na palma de sua mão o terço que tinha acompanhado a morte de sua esposa, e junto aos familiares e ao conforto do seu irmão, Cristóvão Colombo dos Santos.