AYRES DA MATA MACHADO FILHO

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 35

Por Maria de Lourdes Costa Dias Reis

Ayres da Mata Machado Filho, filólogo filósofo, historiador, antropólogo, folclorista e linguista: assim definiríamos o Mestre Ayres, Patrono da Cadeira de nº 35 do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Uma série de adjetivos expressivos para um homem tão simples.

Era descendente de uma das mais tradicionais famílias mineiras que aportaram a Minas Gerais no século XIX. Seu tio avô era o Conselheiro do Império. João da Mata Machado, Ministro de Estrangeiros. Seu primo Antônio Tomaz de Godói, fora um dos líderes da Revolução Liberal que abalou Minas Gerais em 1842 e, tinha raízes profundas em cidades como Sabará, Barbacena, Santa Luzia e Serro, com participação ativa de membros do Partido Liberal como Teófilo Otoni e os Felício dos Santos, do Serro e de Diamantina.

Seu pai, Augusto Ayres da Mata Machado de velha estirpe mineira e sua mãe, Dona Mariana Flora de Godói, também descendente de tradicional família de Diamantina. Residiram algum tempo na cidade de Sabará e se transferiram em 1909 para Diamantina. No pequeno distrito de São João da Chapada, ela deu à luz a um filho homem em 24 de fevereiro de 1909,que recebeu parte do nome paterno: Ayres da Mata Machado Filho.

Após alguns anos a família confirmou com grande pesar que o pequeno filho tinha nascido com uma doença congênita: catarata e atrofia do nervo óptico, que já se envolvia por grave cegueira. Foi crescendo cercado de grande carinho familiar e aconchegos. A tia Eponina lia e escrevia para ele em grandes caracteres o que lhe possibilitaria enxergar algumas letras. Desta forma conseguiu, a custo de muita perseverança e apoio familiar, concluir o curso primário, suprindo com os ouvidos a deficiência visual.

Mesmo com esta deficiência, já se notava no pequeno menino interesses pela literatura e tendências para temas ligados à liberdade, à justiça social e a dignidade humana.

Ajudado por um ex-aluno do Instituto Benjamim Constant do Rio de Janeiro, começou a aprender o método Braille, o que conseguiu com poucos dias. Para prosseguir seus estudos, foi levado por seu pai para esta cidade, com a finalidade de estudar neste educandário, que, na época era o mais completo na educação de deficientes visuais. Ali estudou com afinco, sempre ajudado por um professor cego que muito simpatizou com ele, e assim, aos 18 anos terminou, com brilhantismo, o Curso de Humanidades.

Em março de 1940, casou-se com Maria Solange Mourão de Miranda, grande colaboradora de sua vida acadêmica, e para ele, a pessoa que “trouxe claridade para sua escuridão”. Com ela conseguiu criar um lar digno, harmônico e alegre, completado com a presença de cinco filhos: Cecília, Cristina, Eponina, Eduardo e Tiago.

Em Belo Horizonte fez outros cursos no Instituto São Rafael, Instituição especializada em educação de deficientes visuais e, posteriormente, completou o Curso de Direito da Universidade de Minas Gerais. Superando a deficiência visual, doutorou-se depois em Filologia Românica e acabou tornar-se Mestre em Filologia, sendo Catedrático da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade Católica de Minas Gerais, onde lecionou Língua e Literatura Portuguesa e Brasileira, Italiana, Espanhola, Francesa, Inglesa e outras disciplinas afins.

Tornou-se professor de outros centros de ensino, onde foi educando gerações e criando um nome respeitável na área da linguística e do ensino do Português. Acatava sempre as modernas inovações da língua, embora fosse um defensor dos mais altos padrões da linguagem e dizia sempre que a língua era “mais um fenômeno psicológico que lógico”.

Participou da fundação do Instituto de Cegos São Rafael e da Faculdade de Filosofia e Letras Santa Maria, que, mais tarde se tornaria a Universidade Católica de Minas Gerais. Chefiou serviço de Orientação Técnica do Ensino da Língua Portuguesa, da Secretaria de Estado da Educação e o de Redação do Conselho Administrativo de Estado. Foi convidado a compor diversas Bancas Examinadoras para concursos de Professor Catedrático e de Livre Docente em várias Entidades de Educação em Minas Gerais e em outros Estados.

Muito religioso e expressando viva fé, devido à sua formação católica, participou do Movimento de Apostolado Católico e ligou-se a órgãos da Igreja Católica.

Jornalista nato, foi redator do jornal “Minas Gerais”, órgão da Imprensa Oficial de Minas Gerais, de onde chegou a se aposentar e, que hoje, este prédio ostenta o nome simbólico de “Ayres da Mata Machado Filho”, de acordo com o Projeto nº 1.759/93 aprovado em 12 de setembro de 1994.

Colaborou ainda em muitos jornais, como no Estado de Minas, onde manteve por muitos anos a coluna “Escrever Certo”, orientando leitores sobre a arte de bem escrever. Colaborou ainda no Diário Católico e outros jornais da Capital e do interior.

Em 1948, reuniu-se a outros intelectuais ligados à área da Cultura Popular e criaram a “Comissão Mineira de Folclore”, tendo inclusive sendo seu primeiro Presidente.
Pertenceu também a outras entidades ligadas à cultura erudita como:
- Academia Mineira de Letras
- Academia Brasileira de Filologia
- Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais
- Comissão Nacional de Folclore
- Academia Carioca de Letras
- Conselho Nacional de Cultura
- Sociedade Brasileira de Antropologia
- Conselho Nacional de Cultura
- Academia de Letras de Viçosa
- Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais

Era, ainda, possuidor de mais de 50 títulos de honrarias e de entidades ligadas à área cultural e acadêmica.

Escreveu muitas obras, ligadas à área da literatura, da linguística, da história, de gramática e de folclore. Suas mais importantes obras são:

“Escrever certo” – livro básico do chamado jornalismo gramatical, contendo “dicas” de como escrever corretamente;

“A Palavra é de ouro – livro elogiado pelo renomado escritor Tristão de Athayde;
“Crítica de estilos” – uma análise de estilos gramaticais, primeiro lugar no Prêmio Cidade de Belo Horizonte;
“Dicionário Didático da Língua Portuguesa”;
“O Negro e o Garimpo em Minas Gerais” – obra sobre a linguística e o folclore mineiro, escrita após acurada pesquisa em São João da Chapada, onde teve a oportunidade de estudar os dialetos de negros da região do garimpo, os chamados “vissungos”, o que lhe conferiu o prêmio “João Ribeiro”, da Academia Brasileira de Letras;
“Canto dos Escravos” – um verdadeiro repositório da verdadeira música brasileira.


Recebeu várias medalhas e comendas, como:
• “Grande Medalha da Inconfidência”
• “Comenda do Infante Dom Henrique de Portugal”