JOSÉ JOAQUIM DA ROCHA

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 42

Por Ozório Couto

Conselheiro José Joaquim da Rocha. Que belo exemplo de cidadão honrado foi Rocha! Edificado nas cercanias da verdade e do amor, soube ser transparente com o seu propósito de pessoa e de civilidade, cidadão público de alta estirpe. Nasceu no dia 19 de outubro de 1777 (consta do seu batizado), em Mariana. Quantas estrelas Mariana nos deu como José Joaquim da Rocha. Talvez a estrela de Rocha tivesse um diferencial, uma virtude tupiniquim de brado patriotismo em sua brasilidade. Fez suas primeiras letras e o curso de humanidades em Mariana. Tal foi a distinção e brilhantismo que, aos 16 anos, foi designado pelo padre Pascoal Bernardino de Matos, conspícuo professor de Latim, para substituí-lo na regência da respectiva aula. Rocha não parou mais, ou melhor, disparou. Ocupou, até 1808, cargos públicos importantes em sua terra natal e foi premiado com o posto de capitão-mor, por bravura em destacar-se das ameaças difundidas nas disputas pelo domínio de certas terras auríferas, que indivíduos insistiam em fazer e que conseguiu desfazer, mantendo a ordem pública.

Em 1808, Rocha mudou-se para o Rio de Janeiro, cenário de maior visibilidade futura, palco do poder e com possibilidades para o exercício pleno de sua advocacia, de mudanças drásticas no panorama político nacional, pois o Brasil mudara da noite para o dia, com a chegada da Família Real portuguesa, com a rainha dona Maria I e o príncipe regente Dom João e demais componentes reais. Para todos, parecia um novo descobrimento do Brasil. Não nos tornávamos independentes, mas também deixávamos de ser colônia, pois nos transformávamos, por força do destino, em sede da metrópole. E lá estava José Joaquim da Rocha firme no céu anil do Cruzeiro do Sul.

Em 1812, apesar de advertido pelo intendente-geral de Polícias, José Joaquim foi um dos fundadores da Loja Maçônica Distintiva, na Praia Grande, em Niterói. Sua advocacia trouxe-lhe elevados créditos. Em 1821 foi eleito deputado suplente às Cortes Constituintes de Portugal. Dom João já era rei desde 1816, como João VI, e já éramos Reino Unido a Portugal e ao Algarves. Dom João em 1821 já não estava mais no Brasil, mas deixou seu filho, o Príncipe Real Dom Pedro de Alcântara, como Príncipe Regente do Reino do Brasil.

Nessa época, Rocha, um dos maiores patriotas que esta terra já viu e aclamou – são pouquíssimos os cidadãos que hoje sabem da sua pessoa e de seu trabalho e o que ele representa para nossa história – conspirava com outros ilustres brasileiros em prol da independência nacional. Alimentavam, com alma popular brasileira, o sentimento do dever cívico, a aspiração vertiginosa da liberdade, com autonomia da pátria. E foi ele, caros amigos, o alicerce, a rocha firme e inquebrantável como um diamante bruto, sustentáculo insofismável destas Minas Gerais, o mais altivo, o precursor, o mais influente e ousado cidadão brasileiro que impulsionava sem volta o ardor da Independência. Com Minas e São Paulo, Rocha e demais compatriotas faziam apresentações ao príncipe regente para se fazer chegar ao então 7 de setembro do ano seguinte. Valia agitar o povo, conscientizá-lo, promovendo adesões à resistência que se organizava no Rio de Janeiro, pois lá estava a maioria daqueles ligados ao cordão umbilical português. Nosso herói homenageado, assim como os outros onze colegas deputados, não tomou posse na Corte. No dia 9 de dezembro, Dom Pedro de Alcântara recebeu de Lisboa decreto determinando sua volta. A Corte da Capital do Reino Unido desejava que o Brasil voltasse à condição retrógrada de colônia e ainda queria acabar com os tribunais e os conselhos aqui existentes. Estavam apaixonados e preocupados pelo progresso do Brasil? O que pensava Dom João VI?

Não tinha mais volta, estávamos a um passo da separação definitiva, sem atrelamento, sem Reino Unido. José Joaquim da Rocha, juntamente com a Loja maçônica “Comércio e Artes”, ficou de tomar providências para a permanência de Dom Pedro; desenvolvia-se o processo da Independência. Organizou, com amigos e patriotas sinceros e dedicados, o Clube da Resistência, depois Clube da Independência. Rocha trazia consigo seu irmão, tenente-coronel Joaquim José de Almeida, seus dois filhos Inocêncio e Juvêncio Maciel da Rocha e ainda Pedro Dias Pais Leme, Paulo Barbosa da Silva, Luís Pereira da Nóbrega, Vasconcelos de Drumond e José Mariano de Azeredo Coutinho. Foram eles que prepararam e acertaram a resistência a Portugal. O Clube funcionava na residência de Rocha, na Rua da Ajuda, 137, e tinha sua “polícia” própria, que informava também tudo sobre os portugueses que vigiavam os passos de Dom Pedro, mantendo-o também informado. O jovem príncipe era um dos frequentadores assíduos do nº 137 da Rua da Ajuda, ou seja, a casa de Rocha.

Não conseguiram aclamar Dom Pedro imperador no dia 12 de outubro de 1821. O jovem príncipe foi contra. Em dezembro, José Joaquim da Rocha conseguiu a adesão de José Bonifácio e Martim Francisco, dois amigos de São Paulo. José Bonifácio, no dia seguinte, ditou o oficio com assinatura de todos os membros do Governo Provisório, dirigido a Dom Pedro, convencendo-o a ficar no Brasil. A partir daí novas adesões de Minas, o resultado foi que no dia 9 de janeiro de 1822 Dom Pedro, príncipe regente, percebendo a importância de sua participação decisiva nos acontecimentos que levariam a um Brasil independente, disse a célebre frase: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao povo que fico.”

Depois do discurso de um deputado português que havia declarado que o Brasil não passava de “misérrima colônia”, disse: “Estamos prontos a defender nossos direitos e a derramar a última gota de sangue pela nossa liberdade”. Em suas cartas para Lisboa, há muito já dizia “nós, brasileiros”.

José Joaquim da Rocha foi membro fundador, em junho de 1822, da “Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz”. Também em dezembro de 1822 recebeu o título de “Dignitário da Ordem Imperial do Cruzeiro”. Foi deputado por Minas Gerais à Assembleia Constituinte brasileira de 1823. Com o fechamento arbitrário da Constituinte sete meses depois por Dom Pedro I, foi preso e deportado para a França, permanecendo lá até 1830. A prisão se deu no dia 12 de novembro de 1823, onde permaneceu até o dia 20. Junto com seus familiares, embarcou com destino ao porto do Havre, a bordo de uma velha charrua, a “Leucônia”, sob o comando do capitão-tenente Joaquim Estanislau Barbosa. Com Rocha, foram: Francisco Gê Acayaba de Montezuma (Francisco Gomes Brandão), os irmãos Antônio Carlos, Martim Francisco e José Bonifácio Andrada e Silva, padre Belchior Pinheiro Oliveira, e os filhos de José Joaquim da Rocha, Inocêncio e Juvêncio Maciel da Rocha. As despesas de transportes não foram pagas aos Rochas. De volta do exílio, recomeçou a vida voltando à profissão de advogado. Dom Pedro caiu logo; não soube segurar a onda. A Regência, vendo a lacuna do patriota José Joaquim da Rocha, nomeou-o, cinco dias depois da abdicação do Imperador, Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário do Brasil em França. Em 1834, Rocha foi mandado para Roma, por ser excelente diplomata, criterioso e atilado; sim, atilado, pois escrupuloso, hábil, fino, prudente, minucioso, apurado, elegante, e, diante de uma questão melindrosa que surgira e poderia afetar as boas relações do Império com a Santa Sé, o Vaticano o esperava como Ministro Plenipotenciário do Brasil.

Em 1838, voltou ao Rio e à sua advocacia. Estava pobre, velho, com as forças esgotadas. Manteve a si e a família com dignidade. Poucos anos depois, veio-lhe a cegueira, mas continuou a trabalhar ávida e conscientemente. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), do qual era ilustre membro, veio em seu socorro, sugerindo ao novo Imperador que não se esquecesse de um venerável patriarca da independência nacional e com vários serviços prestados à pátria. Dom Pedro II concedeu ao capitão-mor e conselheiro José Joaquim da Rocha uma pensão de 1:200$000 anuais. Ainda foi homenageado com o “Hábito de Cristo”.

Domingos José Gonçalves de Magalhães, médico, professor, diplomata, político e poeta, barão e depois Visconde do Araguaia, introdutor do romantismo no Brasil, autor de “A confederação dos Tamoios”, fez em Roma, em 1835, um poema de 15 estrofes de seis versos cada, homenageando José Joaquim da Rocha.

O herói José Joaquim da Rocha morreu no dia 16 de julho de 1848. Dom Pedro II mandou fazer o funeral do mineiro ilustre, do seu bolso. O IHGB nomeou o poeta Manuel de Araújo Porto Alegre, depois Barão de Santo Ângelo, para o discurso, e levou uma coroa do Brasil, em nome da Pátria e do Instituto histórico, e o proclamou como “o primeiro motor da nossa história”, o motor da Independência.

Bem-aventurado foi José Joaquim da Rocha, que sempre esteve firme e alicerçado sobre a rocha que São Mateus nos fala em seu Evangelho.