GENERAL JOSÉ VIEIRA COUTO DE MAGALHÃES

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 44

Por Jupyra Duffles Barreto

O ilustre brasileiro José Vieira Couto de Magalhães, com toda a justiça, deve ser apontado à nossa juventude, como mais um exemplo de coragem, persistência, energia e iniciativa.

Escritor e folclorista, nasceu em Diamantina, Minas Gerais, em 1° de novembro de 1837, e faleceu em 14 de setembro de 1898. Cursou o Seminário de Mariana e a Faculdade de Direito de São Paulo. Foi infatigável estudioso dos nossos Sertões.

Couto Magalhães foi pessoa de extrema atividade intelectual. Era um fervoroso estudante e pesquisador de línguas estrangeiras e indígenas onde despendeu boa parte da sua atividade. Estudou, com afinco, astronomia física e mecânica tendo, posteriormente seus instrumentos para experiências científicas doados ao Instituto Politécnico de São Paulo. Fundou o Clube de Caça e Pesca de São Paulo e organizou a Sociedade Paulista de Imigração. Colaborou com muitos jornais, e com ênfase, com o Jornal do Comércio e com o Diário Popular.

Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Deixou inédita uma gramática da língua geral.

Exerceu o cargo de Secretário do Governo de Minas Gerais, entre 1860 e 1861. Envolvido na política do Império e filiado ao partido liberal, presidiu as províncias de Goiás, Pará, Mato Grosso e São Paulo.

Após a Guerra do Paraguai, da qual participou na batalha de reconquista de Corumbá aos paraguaios, ganhou do governo imperial o título de Barão de Corumbá. Mas o recusou, preferindo o de General Brigadeiro, distinção que então raras vezes se concedia a civis.

São suas obras mais importantes:

O Selvagem”, obra escrita a pedido de D. Pedro II, para figurar na Exposição de Filadélfia, em 1876. Trata do idioma, dos costumes, dos mitos e dos hábitos dos nossos índios;
Uma Viagem ao Araguaia”;
A Revolta de Felipe dos Santos, em 1720”, que lhe abriu as portas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro;
Os Guaianases (romance histórico) ou a Fundação de São Paulo”;
Anchieta e as línguas indígenas”, por ocasião do tri-centenário do famoso jesuíta.

É o Patrono da cadeira 31 da Academia Tocantinense de Letras e da Cadeira 44 do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

Entretanto, foi presidindo Mato-Grosso, em 1868, que Couto de Magalhães, conseguiu, objetivamente, o mais importante feito, unindo pelo interior, a foz do Amazonas à do Rio da Prata, porém, para que isso fosse exequível, enfrentou severas críticas, principalmente, da imprensa, que rotulou o projeto de loucura.

Na divulgação dessa verdadeira epopéia, pode-se afirmar que os
principais procedimentos foram:

Comprou um vapor que se encontrava no rio Paraguai, mandou desmontá-lo e providenciou seu transporte, por terra, até os rios Araguaia e Tocantins, para navegar até Belém do Pará.

O vapor desmontado e encaixotado foi transportado em 16 carros de bois. Juntamente com o navio, foram transportados tornos, forjas, ferramental para fundir ferro e bronze e sobressalentes necessários. Completa oficina completava o aparato, que garantiria eventuais manutenções e até substituições de peças defeituosas ou mesmo corroídas pelo uso.

Durante o trajeto, estimado em cem léguas (aproximadamente 600 quilômetros) em mata fechada, desprovido dos mais elementares recursos, os carros de bois foram escoltados por 20 soldados, com machados e enxadas, abrindo picadas, construindo, quando necessários, até pontilhões. Infelizmente, vários acompanhantes morreram, vitimas dos mais diversos males, inclusive a fadiga.

Consta que, até entre os chefes houve desavenças, contornadas sabe lá como, talvez pela grande tenacidade e coragem demonstrada por Couto de Magalhães, que sem mostrar sinais de desistência e muito menos de desânimo, com posição serena e firme, contornou magistralmente tais dificuldades.

A oficina improvisada foi montada em pleno sertão, e o vapor montado. Couto de Magalhães, em pessoa, estava lá para a tão sonhada inauguração da navegação do Araguaia. Como escritor, não podia deixar passar sem registros tal feito – assim, em um rochedo de grande cachoeira, mandou que gravassem em língua tupi, a falada pelos canoeiros, a seguinte inscrição:

Sob os auspícios do Senhor D. Pedro II,
passou um vapor da bacia do Prata para
a do Amazonas e veio chamar à
civilização e ao comércio os esplêndidos
sertões do Araguaia com mais de vinte
tribos selvagens, no ano de 1868

O vapor percorreu, aproximadamente trinta e cinco léguas do rio, ou seja, aproximadamente 210 quilômetros.

Depois, adquiriu mais dois vapores: o Colombo e o Mineiro.

Na proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, Couto de Magalhães ocupava o cargo de Presidente da Província de São Paulo. Na época, com a saúde bem abalada, viajou para a Europa, em busca de tratamento.

Em 1893, já havia retornado ao Brasil. Foi preso pelo Regime Militar, em virtude de haver doado parte de sua fortuna para a fundação de um hospital de sangue, para os revoltosos da Armada e do Rio Grande do Sul. Devido ao seu estado de saúde critico, Floriano Peixoto autorizou que Couto Magalhães voltasse à Europa.

Voltou mais uma vez ao Brasil, vindo a falecer em 14 de setembro de 1898, uma quarta-feira.

A companhia de navegação encerrou suas atividades em 1900 e o patrimônio foi colocado em hasta pública, mas nunca encontrou um comprador. Os 3 vapores ficaram abandonados no Porto Leopoldina e, assim, eles e os sonhos de Couto Magalhães foram corroídos pelo tempo.