EVARISTO DA VEIGA

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 45

Por Equipe de Pesquisas do IHGMG

Evaristo da Veiga e Barros nasceu no Rio de Janeiro, em 8 de outubro de 1799 e faleceu no Rio de Janeiro em 12 de maio de 1837. Foi poeta, jornalista, político e livreiro brasileiro.

Seu pai, Francisco Luís Saturnino Veiga, deve ter conhecido alguns dos inconfidentes, pois recopiou as Cartas Chilenas de Tomás Antônio Gonzaga, publicadas meio século mais tarde, por seu neto Luís Francisco da Veiga. O pai teve grande influência sobre seus filhos, sobretudo Evaristo, ótimo estudante que, no Rio de Janeiro de D. João VI, aprendeu francês, latim, inglês, cursou aulas de retórica e poética e estudou filosofia. Quando concluiu os estudos, o pai já abrira uma livraria na rua da Alfândega e os livros que trazia da Europa tinham em Evaristo o primeiro leitor, o mais curioso. Seu projeto frustrado de partir para a Universidade de Coimbra encontrou compensação na livraria do pai.

Autor da letra do “Hino à Independência”, cuja música se deve a D. Pedro I. Em suas Poesias mais antigas, sente-se a influência da escola arcádica e, sobretudo, de Bocage. Datam de 1811, tinha 12 anos. Um ano depois em 1812, celebra os desastres militares dos franceses em Portugal. Em 1817, era súdito fiel de D. João VI. O malogro da revolução de Pernambuco o encheu de alegria. Seus versos cantaram o casamento de D. Pedro com D. Leopoldina, os anos de S. Majestade, em 13 de maio de 1819, o aniversário da aclamação do rei.

Em 1821, porém, vivia-se no Rio de Janeiro “o ano do constitucionalismo português”. Ninguém podia ficar indiferente. O elemento conservador, receoso de desordens, alimentava esperança de que a chegada das novas instituições não importaria em ruptura com Portugal, pois haveria uma monarquia dual, servindo a coroa como união. Era o pensamento de Evaristo da Veiga, ilusão de que participaram muitos brasileiros. Não tardaram os constitucionalistas de Portugal a demonstrar sua incompreensão com as coisas do Brasil. Foi nesse instante, que nele despertou o patriota – um soneto de 17 de outubro de 1821 é intitulado O Brasil. Outro, de fevereiro de 1822, já estigmatizava “a perfídia de Portugal”.

Daí em diante, vibrou com o movimento que se espalhava pelo país. Em 16 de agosto de 1822, sem ser figura saliente em nenhum acontecimento, escreveu o Hino constitucional Brasiliense, o célebre «Brava Gente Brasileira/longe vá temor servil», etc. Compôs sete hinos, no total, entoados por milhares de bocas. O “Brava Gente” recebeu duas músicas, uma do maestro Marcos Portugal, outra do próprio Príncipe Regente, D. Pedro I. E como Evaristo era tímido e o príncipe notoriamente melômano, logo se lhe atribuiu a letra... Só mais tarde, em 1833, Evaristo reivindicaria a letra (os originais estão na Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional).

Cedo deixou de ser um espectador desenganado da ação do imperador. 1823 era o ano da instalação da Constituinte e o de sua dissolução por um golpe de força. Em 30 de maio, ele já fala no “despotismo mascarado”... Deixou de fazer sonetos, fez hinos. Ainda publicaria, em 1823, Despedida de Alcino a sua Amada, pois Alcino foi seu nome poético. Mas era poeta bastante medíocre e disso teve convicção, antes de que outros lhe dissessem. Sua vocação, logo descobriria, estar na política no serviço público, na imprensa, no parlamento.

Morreu sua mãe, em 1823, e o pai, que desejava casar-se de novo, escrupuloso e exato como era, entregou aos filhos a parte que lhes tocava na herança materna. Evaristo e João Pedro, seu irmão, abriram uma livraria. Leu tudo que vendia, formou seu pensamento, fixou-se na posição da monarquia constitucional, pois a república lhe parecia um exagero e era moderado por temperamento. Em 1827, se separou do irmão, estabeleceu livraria própria e casou-se com D. Ideltrudes Maria d’Ascensão, começando nova vida.

Em 21 de dezembro de 1827, surgiu o primeiro número de seu próprio jornal, logo famoso, o A Aurora Fluminense. Os fundadores foram José Apolinário de Morais, José Francisco Sigaud e Francisco Crispiano Valdetaro. Evaristo resolveu associar-se e passou, em pouco tempo, de colaborador a redator principal. A imprensa do Rio de Janeiro era, então, detestável, pasquineira. Os fundadores de A Aurora Fluminense queriam linguagem imparcial, guiada pela razão e virtude, e havia para servir à liberdade constitucional um Evaristo da Veiga. Os seus temas, no jornal, foram a liberdade constitucional, o sistema representativo, a liberdade de imprensa. Mas havia assuntos de momento em que tocou, como o descalabro da instrução, a questão do crédito público. Combatia a indiferença em matéria política, sobretudo, a mais funesta de todas as enfermidades morais. A oposição dos ministérios excluía escrupulosamente a pessoa do monarca, a quem tratava com deferência e até louvava.

POLÍTICO

Em 1830, foi eleito deputado por Minas Gerais, tendo sido reeleito até morrer. Era nome conhecido no Brasil inteiro. Deputado, continuou jornalista e foi sempre livreiro. Sem nunca ter saído do Rio de Janeiro, recebeu seu mandato de deputado por Minas Gerais, substituindo Raimundo José da Cunha Matos, que optara pela cadeira de Goiás. Em seu mandato, tentou pôr as instituições monárquicas a serviço do grande problema brasileiro a – unidade do vasto país. Cumpria cuidar dos interesses mais vitais do povo, fomentar a indústria, sanear zonas quase inabitáveis, difundir a instrução. Batia-se pelo estreitamento das relações com as demais nações americanas. Sempre assíduo, queria que os assuntos fossem discutidos com calma, nas Comissões, longe do tumulto do plenário.

A agitação popular se alastrava e D. Pedro, mal aconselhado, resolveu ir a Minas Gerais. Seguiu-se o 7 de abril, com a renúncia do Imperador. Coube a Evaristo da Veiga redigir a proclamação, onde terminava: “Do dia 7de abril de 1831 começou a nossa existência nacional: o Brasil será dos brasileiros, e livre!” Elegeu-se a 17 de junho de 1831, a primeira Regência permanente, sendo escolhidos Francisco de Lima e Silva, Costa Carvalho e João Bráulio Muniz.

Evaristo vinculou-se, também, a diversas sociedades e agremiações, procurando colocá-las sob sua orientação política. Sua luta foi incansável, em época propícia aos excessos, pois não era o simplista que acredita no milagre das leis. Evaristo se tornou alvo de ataques e calúnias. Em julho de 1831, era profunda a divisão dos liberais. Nomeado Feijó para a Justiça, recebeu todo o apoio de Evaristo, na Câmara e pela Aurora Fluminense. Mas havia grandes embaraços ao governo com a indisciplina militar, a separação entre exaltados e moderados. Evaristo era já, por consenso, o chefe do partido moderado. Todo o ano 1833 se consumiu na expectativa do retomo de Pedro I. Evaristo, convencido de que a trama restauradora era sério perigo, chefiou a campanha que impediu a volta de D. Pedro, sob qualquer título. Quando o ex-imperador morreu, em 24 de setembro (a notícia chegou ao Rio em dezembro de 1834), a desagregação dos moderados se processou com rapidez. A grande questão era a escolha do Regente único, de acordo com o Ato Adicional. A eleição de Feijó foi a última demonstração do prestígio de Evaristo da Veiga. Em 30 de dezembro de 1835, saiu o último número de seu jornal, com oito anos de existência. Recolhia-se a uma vida que desejava tranquila, com as três filhas e a mulher. Mas não se retirou da vida pública pois, em 1836, compareceu normalmente à Câmara. Depois decidiu fechar por uns tempos sua casa na rua dos Barbonos, hoje rua Evaristo da Veiga, e em novembro partiu para Campanha, onde vivia um irmão. Voltou ao Rio a 2 de maio de 1837. Visitou Feijó, foi para cama preso de violenta ‘febre perniciosa’, como diagnosticaram os médicos. Morreu a 12 de maio, repentinamente, aos 37 anos.

Além de Patrono da Cadeira 45 do IHGMG, é Patrono da cadeira n° 10 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de seu fundador, Rui Barbosa.