JOÃO CAMILLO DE OLIVEIRA TORRES
PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 47

Por Eugênio Ferraz

Nasceu em Itabira do Mato Dentro, hoje Itabira, Minas Gerais, em 31 de julho de 1915. Filho de João Camillo de Oliveira Torres e de dona Rosa Assis Drummond, irmão de Luiz Camillo de Oliveira Netto, patrono da biblioteca da Casa dos Contos de Ouro Preto e primo do escritor, e nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade. Estudou no Ginásio Sul-Americano, em sua terra natal e no Ginásio Mineiro de Belo Horizonte. Fixou-se na capital mineira em 1942, como funcionário do antigo Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários, mas também, nessa época, dedicou-se ao magistério, ao jornalismo e à pesquisa histórica. Graduado em Filosofia na antiga Universidade Federal do Distrito Federal (naquela época, Rio de Janeiro), lecionou, a partir de 1942, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Maria, da Universidade Católica de Minas Gerais, onde ensinava as disciplinas Sociologia. Antropologia e Etnografia, Ética, Estética, Filosofia da Educação, História do Brasil e Filosofia Moral. Lecionou ainda, em 1950, na Universidade de Filosofia e Ciências Humanas, da então Universidade de Minas Gerais, a atual Universidade Federal de Minas Gerais, as disciplinas Ética e Filosofia Moral. Integrou também o corpo docente da Universidade Mineira de Arte.

Como jornalista profissional, foi redator-chefe da Folha de Minas e redator do O Diário, ambos de Belo Horizonte, e colaborador dos principais órgãos de imprensa do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Recife, Curitiba e Petrópolis. Em 1953, foi eleito para a Academia Mineira de Letras, tendo sucedido Plínio Sérgio de Noronha da Mota, na cadeira n° 39, que tem como patrono José Basílio da Gama. No Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários, ocupou os cargos de Secretário da Junta de Julgamento e Revisão e de Delegado Regional em Minas Gerais. Secretariou, em 1956, a Comissão de Reforma da Previdência Social, cujas conclusões serviram como base para o projeto apresentado ao Congresso Nacional pelo Presidente da República. Após a unificação do Sistema Previdenciário, foi coordenador de Seguros Sociais e Superintendente Regional do INPS em Minas Gerais, tendo morrido em pleno exercício da função, em 1973. Faria, no dia 31 de julho de 2005, 90 anos. Deixou seis filhos: Maria Odete, João Camillo, Carlos Alberto, Maria Ângela, Sara e Maria de Fátima, tendo só conhecido dois dos vinte netos. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, à Academia de História de Portugal e ao Instituto de Sociologia e Política de Minas Gerais e foi membro do Conselho de Educação e do Conselho Universitário da Universidade Católica de Minas Gerais. Participou como representante do Governo Brasileiro nas comemorações do quarto centenário da cristianização das Filipinas.

Homem público que foi, notabilizou-se pela sua capacidade de realização e devoção aos menos favorecidos. A simplicidade, traço marcante de sua personalidade, levava-o a locomover-se através de bondes, ônibus urbanos e a pé. Como superintendente do então Instituto Nacional de Previdência Social em Minas Gerais, atendia a populares aflitos, em plena via pública, sem nenhum constrangimento ou afetação. João Camillo de Oliveira Torres doou-se às pessoas, sobretudo às mais simples. Outro feito que merece ser destacado é que, em 1948, ao lado de outros vinte e sete folcloristas, instalou a Comissão Mineira de Folclore.

O patrono de minha cadeira neste Instituto apresenta-se como legítimo e respeitado construtor de ensaios. Os primorosos ensaios de João Camillo de Oliveira Torres giram em torno de Educação, Filosofia e História.

Conservador e preocupado com os problemas políticos, João Camillo defendia a monarquia. E defendia com inigualável notoriedade e brilhantismo. Ele utilizava muito bem as palavras, que davam consistência e força às suas argumentações. São poucos os que tem esse talento.

Não só pelo seu brilhantismo intelectual, como também por sua atuação no âmbito político e cultural brasileiro, posso dizer que tenho orgulho de ter escolhido João Camillo de Oliveira Torres como patrono.

Além do mais, ele pertencia a uma família que se destacava no meio cultural, pois como já disse anteriormente, era primo do escritor Carlos Drummond de Andrade e irmão de Luiz Camillo de Oliveira Netto, este, o patrono da biblioteca da Casa dos Contos de Ouro Preto.

A Casa dos Contos, monumento nacional e mundial que tive a honra de dirigir e, depois, supervisionar as obras de restauração, concluídas em 1984. Dirigi-a de 1974 a 1980, tão logo nela foi instalado o Centro de Estudos do Ciclo do Ouro, CECO, que resgata em microfilmes a completa história sócio-econômica do Ciclo do Ouro, abrigando também Museu e a Agência da Receita Federal que perpetua a tradição fiscal do imponente casarão, originalmente construído para residência e Casa dos Contratos de João Rodrigues de Macedo, certamente o cérebro financeiro oculto da Inconfidência Mineira. O prédio serviu também de prisão “nobre” para Conjurados, nela tendo sido encontrado morto Cláudio Manoel da Costa. Sucessivas ocupações, desde a sede da administração e contabilidade pública da capitania de Minas, a chamada Casa dos Contos, que emprestou o nome à barroca edificação, considerada o maior exemplo da arquitetura colonial residencial do Brasil, tomaram-na sede do Tesouro Nacional, Secretaria da Fazenda da província de Minas, Caixa Econômica, Correios e Prefeitura Municipal, até 1774. Seus atuais 220 anos, com sua arquitetura plenamente restaurada, bem demonstraram, nas pesquisas, mostras documentais permanentes e exposições artísticas, sua contemporaneidade e completa junção e simbiose entre o passado e presente que a todos nós cumpre conservar, honrando-me, sobremaneira ter retomado, há pouco, sua efetiva direção, cumulativamente às minhas funções de comando do Ministério da Fazenda em Minas Gerais.

Citei a Casa dos Contos de Ouro Preto, para melhor nela situar Luiz Camillo de Oliveira Netto, cujo centenário foi comemorado no ano passado e cuja biblioteca empresta mais brilho ao Centro de Estudos do Ciclo do Ouro, instalado na Casa dos Contos.

Luiz Camillo foi professor de química inorgânica, trabalhou na Secretaria do Interior e Justiça de Minas Gerais, em 1933, durante a interventoria de Gustavo Capanema. Desde então passou a dedicar-se ao estudo da história do Brasil, organizando e dirigindo a biblioteca da Secretaria e Iniciando a sua pesquisa no Arquivo Público Mineiro. Foi membro da Casa de Rui Barbosa, do Conselho Nacional de Educação, representante da Universidade do Distrito Federal no Congresso de História Portuguesa no Mundo. Nesta viagem, em 1937, aproveitou para dar início às pesquisas no arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo Histórico Colonial e Biblioteca Nacional de Lisboa. Tornou-se professor de História do Brasil da Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, instituição que tinha uma proposta inovadora para a época: pretendia encorajar a pesquisa científica, literária e artística pelo ensino regular de suas escolas e pelos cursos de extensão popular, o que significava não apenas produzir profissionais, mas também formar os “quadros intelectuais do país”. Por isso, enfrentou dificuldades pouco depois da sua fundação, em 1935. A época foi marcada por importantes confrontos ideológicos entre integralistas, comunistas, socialistas, democratas, conservadores católicos e liberais, e pela disputa de espaço entre vários grupos para expandir suas ideias e controlar o sistema educacional. A universidade, então, tornou-se alvo de ataques dos movimentos católico e integralista. Superando a crise, Luiz Camillo Netto assumiu a reitoria. Entretanto, apesar de seus esforços, a Universidade do Distrito Federal foi fechada e seus quadros, incorporados à então criada Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Luiz Camillo ainda foi membro do Conselho Nacional de Educação em 1936 a 1940 e, entre 1940 a 1943, diretor do Serviço de Documentação da Biblioteca do Itamarati. Foi exonerado dessas funções por sua participação ativa na elaboração do texto – fusão do Manifesto dos Mineiros. Ele só retornou a seu posto de chefia do Serviço das Relações Exteriores em 1945, com a queda do Estado Novo e a redemocratização do país. Também foi diretor do Banco de Crédito Real de Minas Gerais e um dos fundadores e diretor-presidente da Metal Leve. Ele faleceu em 3 de setembro de 1953, mesmo ano em que eu havia nascido!