SENADOR DO IMPÉRIO CÔNEGO JOSÉ BENTO LEITE FERREIRA DE MELO
PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 49

Por Fernando Antonio Xavier Brandão

A Paróquia de Santo Antonio da Campanha do Rio Verde, hoje Campanha, no último quartel do século XVIII, era o distrito comercial e administrativo mais importante do Sul de Minas Gerais. Foi o local, que o Capitão José Joaquim Leite Ferreira, natural da Vila de Guimarães, Portugal e sua esposa Dona Escolástica Brandina de Melo, natural de São Paulo, escolheram para morar. Aos 6 de janeiro de 1785, a Graça Divina abençoou o casal com o nascimento de um filho que, na pia batismal, recebeu o nome de José Bento.

Em 1807, com vinte e dois anos, José Bento Leite Ferreira de Melo transferiu-se para São Paulo, para estudar para a vida sacerdotal. Residiu na casa do Bispo Diocesano de São Paulo, Dom Mateus de Abreu Pereira, que se tornaria seu grande protetor e amigo. José Bento ordenou-se padre em 1809.

Enquanto os esforços do jovem José Bento eram aplicados em seus estudos, o arraial do Rancho Alegre do Mandu, no Sul de Minas, lutava pela sua hegemonia.

Vau do Mandu ou Rancho Alegre do Mandu seria, mais tarde, Pouso Alegre. Era parada obrigatória, na ida e na volta, daqueles que demandavam os sertões das Gerais, por caminhos alternativos ao do Vale do Paraíba e passagem do Embu. A partir de 1805, os moradores de Rancho Alegre do Mandu, já capela curada, começaram a solicitar do Bispo Dom Mateus a sua elevação para freguesia, independente de Santana do Sapucaí (atual Silvianópolis). Finalmente, o Bispo de São Paulo, por alvará de 6 de novembro de 1810, criou a Freguesia do Senhor Bom Jesus dos Mártires do Pouso Alegre.


Ocorreu, então, ferrenha disputa entre clérigos, em São Paulo, para ocupação do cargo de Vigário Colado e da Vara da recém criada Freguesia. O Padre José Bento, por concurso, conquistou a nomeação para o cargo. Em 5 de dezembro de 1811, o jovem sacerdote tomou posse do cargo de vigário, na capela da nova freguesia, capela essa elevada à Matriz do Senhor Bom Jesus dos Mártires do Pouso Alegre. A data é considerada a do início oficial de Pouso Alegre.

O Padre José Bento começou, sem perda de tempo, a trabalhar pelo progresso de sua paróquia. Administrou o alinhamento de ruas, orientou a construção de edifícios, dirigiu obras para a captação e canalização de água e para a drenagem de esgotos. Foi o introdutor, em Pouso Alegre, de variante da técnica de construção em taipa de pilão. Sob sua supervisão, as paredes dos prédios passaram a ser erguidas socando-se, entre formas de madeira, camadas de terra misturadas com óleo de peixe. O óleo era fabricado em tachos de cobre, utilizando-se grandes quantidades de peixes dos rios Maridu e Sapucaí. A mistura do óleo e terra proporcionava grande resistência às paredes dos edifícios.

Pelos seus significativos trabalhos e atuação política, foi o Padre José Bento, sucessivamente, distinguido com as nomeações de:
- Cônego Honorário de São Paulo, em 8 de março de 1820;
- Eleitor de Pouso Alegre, nas eleições de novembro de 1821;
- Membro do Conselho Geral da Província de Minas que, nos dias de hoje, corresponde à Assembleia Legislativa Estadual;
- Deputado Geral, hoje equivalente ao cargo de Deputado Federal, em três legislaturas, de 1826, 1830 e 1834.

Devido ao grande Progresso do povoado e à influência política do Cônego José Bento, Pouso Alegre obteve sua elevação à Vila, por lei provincial de 13 de outubro de 1831. O importante acontecimento ensejou a instalação da Primeira Câmara Municipal.

Em 1833, a Câmara de Pouso Alegre reagiu contra a sedição militar, irrompida em Ouro Preto, em 25 de março, onde os revolucionários aprisionaram o Cônego José Bento, que estava em pleno exercício do cargo de Conselheiro do Governo Provincial. Em 29 de abril de 1833, o primeiro contingente da Vila de Pouso Alegre partiu para o campo de lutas, seguido, dias depois, pelos batalhões de Ouro Fino e Camanducaia. Logo, o Cônego José Bento foi libertado. Em 18 de maio de 1833, a revolução terminava.

Em 8 de agosto de 1834, quatro dias antes da reforma constitucional, conhecida como “Ato Adicional”, o Deputado Geral Cônego José Bento foi escolhido Senador do Império, cargo vitalício.

Tomou posse como Senador, em 13 de agosto de 1834. Antes disso, em 7 de setembro 1830, o Cônego José Bento, auxiliado pelo coadjutor Padre João Dias de Quadros Aranha, iniciou a publicação do jornal “Pregoeiro Constitucional”, órgão de grande relevo nas lutas políticas da época. O “Pregoeiro Constitucional” foi o primeiro jornal que se publicou no Sul de Minas e o quinto na Província.

Foi nas oficinas daquele jornal que se editou o projeto da nova Constituição do Império, denominada “Constituição de Pouso Alegre”, que foi discutida no Senado do Império.

Em 1831, o “Pregoeiro Constitucional” deixou de existir. Mais tarde, em 6 de fevereiro de 1833, o Cônego José Bento lançou o segundo jornal de Pouso Alegre, o “Recopilador Mineiro”, que circulou até 1837.

Com o tempo, o Senador José Bento tornou-se proprietário da “Fazenda do Engenho” e construiu sua residência, em Pouso Alegre, na Avenida do Imperador, hoje Avenida Dr. Lisboa. Essa residência ficou conhecida, na história do Sul de Minas, como o “Sobrado”, um edifício sólido e suntuoso.

Naqueles dias, o “Sobrado” era ponto de encontro dos habitantes de Pouso Alegre. recebidos em audiência pelo Senador ou como convidados, em eventos sociais. Entre reuniões, banquetes e saraus musicais, eram tomadas as decisões políticas, para Pouso Alegre e para a Província de Minas Gerais.

O Cônego José Bento demonstrava brilho e competência, tanto no ministério sacerdotal, como no seus sucessivos mandatos de Conselheiro da Província, Deputado Geral e Senador do Império.

O político José Bento, desde jovem, abraçou, com convicção, as ideias liberais. Os que apoiaram o Regente Padre Diogo Antonio Feijó formaram o núcleo inicial do Partido Liberal. Os liberais colocaram-se contra a excessiva centralização do regime. O feudo eleitoral do Senador era o Sul de Minas, todo controlado do “Sobrado “de Pouso Alegre. O Senador foi um dos articuladores da Revolução Liberal de 1842. Hábil tribuno pregou, ao lado de Teófilo Ottoni, a imperiosa necessidade do levante, em São Paulo e em Minas.

Surpreendidos pelo decreto de dissolução da Câmara dos Deputados, após as leis de Restituição do Conselho de Estado e de Introdução das Reformas do Código do Processo Criminal, os liberais decidiram pelo rompimento revolucionário. Minas e São Paulo levantaram-se em armas contra o Ministério Conservador do jovem D. Pedro II. O Senador José Bento conseguiu viajar do Rio de Janeiro até sua província, para promover a revolução no Sul de Minas. Trabalhou, incansavelmente. Depois, participou da organização do reduto de resistência, em Baependi.

Os conservadores organizaram a “Legião de Pouso Alegre”, comandada pelo Coronel Julião Florêncio Meyer, um dos maiores adversários políticos do Senador. Os combatentes de Pouso Alegre, de São Caetano da Vargem Grande (atual Brasópolis), e de outras cidades mineiras acabaram derrotando os liberais, entrincheirados, em Baependi. Em 20 de agosto de 1842, a Revolução Liberal chegava ao fim, com a derrota dos liberais, em Santa Luzia do Rio das Velhas, para as tropas imperiais do Barão de Caxias.

Aconselhado por amigos, o Cônego José Bento voltou ao seu “Sobrado”, depois de dois anos afastado de Pouso Alegre. Foi recebido friamente por uns e como herói por outros. Não era mais o líder e senhor todo poderoso de Pouso Alegre. O tempo dera origem à divisão entre seus seguidores, operada pelo ódio de seus desafetos.

Na tarde de 8 de fevereiro de 1844, a caminho de sua “Fazenda do Engenho”, o senador foi assassinado, em tocaia à beira da estrada. Tinha, apenas, 59 anos. Fora avisado que tramavam contra sua vida. Mas não acreditava, Dizia – “Não terão coragem de malar um Senador do Império”.

Até hoje, há discussões se o crime foi por motivos políticos ou, como o inquérito oficializou, em decorrência de problemas de limites de terras, entre sua “Fazenda do Engenho” e as terras de seus vizinhos e assassinos, cinco irmãos da Família Tavares da Silva.

Bateu-se o Senador José Bento pela independência da Pátria. Jornalista ardoroso, tribuno eloquente, fez oposição a D. Pedro I. Assinou, com Holanda Cavalcanti e outros senadores, o Projeto da Maioridade de D. Pedro II, em julho de 1840. Foi um dos principais articuladores da Revolução Liberal de 1842. Deixou para a posteridade extraordinária folha de serviços, a maior delas, sem dúvida alguma, a instalação e desenvolvimento da Vila de Pouso Alegre, hoje, um dos mais progressistas municípios de Minas Gerais, importante centro industrial e universitário.