MILTON SOARES CAMPOS

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 51

 

Por Padre Wagner Augusto Portugal

1- VIDA - ITINERÁRIO

Milton Soares Campos (político, advogado, professor, escritor e acadêmico) nasceu em Ponte Nova em 16/08/1900, filho do desembargador Francisco de Castro Rodrigues Campos, ex-presidente do Tribunal de Apelação de Minas Gerais, e de Regina Martins Soares Campos. Casou-se com Déa Dantas Campos. Falecido em Belo Horizonte a 16/01/1972.

Completou o curso secundário no Ginásio Mineiro e no Colégio Arnaldo, embora tenha iniciado essa fase de sua educação no Ginásio Leopoldinense. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Minas Gerais – hoje UFMG – em dezembro de 1922. Ainda estudante, apoiou os candidatos oposicionistas da Reação Republicana aos governos estaduais e a República. Iniciou sua vida advocatícia na cidade de Boa Esperança (MG). A partir de 1925, passou a dedicar-se profissionalmente também ao jornalismo, colaborando no Jornal Estado de Minas e no Diário de Minas.

Iniciou sua vida pública como advogado-geral do Estado, entre 1932-1933. Em 1934, elegeu-se deputado à Constituinte de Minas Gerais pelo Partido Progressista (PP). Com o fechamento das assembleias legislativas, volta a advogar para a Caixa Econômica Federal, até 1944, quando foi exonerado do cargo por ser um dos signatários do Manifesto dos Mineiros, em outubro de 1943, representando a primeira iniciativa dos setores liberais contra o Estado Novo.

Dr. Milton Campos foi um dos que lideraram a organização da Sessão da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais, sendo seu presidente entre 1943 e 1945. Novamente, em 1945, foi alçado ao cargo de advogado-geral do Estado, exercendo-o até janeiro de 1946.

Eleito deputado à Assembléia Nacional Constituinte em 1945, mesmo ano em que participou da fundação da União Democrática Nacional (UDN). Dois anos depois, elegeu-se governador de Minas, pela coligação entre a UDN, o Partido Republicano e uma ala dissidente do Partido Social Democrático (PSD), além de antigos integralistas e comunistas. Como governador, desenvolveu uma administração baseada na austeridade e na recuperação econômica e financeira. Educação, agricultura, energia elétrica são algumas áreas em que mais se pôde notar a atuação de Milton Campos como governador de Minas Gerais.

Em outubro de 1954, voltou a se eleger deputado federal por Minas Gerais para a terceira legislatura. Em abril de 1955, assumiu a presidência da UDN, cargo que ocupou até 1957. Foi também candidato à vice-presidência da República por duas vezes (1955 com Juarez Távora e 1960 com Jânio Quadros), sendo derrotado em ambas por João Goulart. Em 1958, elegeu-se senador por Minas Gerais.

Participou das articulações que levaram à Revolução de 1964, que tirou João Goulart da presidência. Foi nomeado ministro da Justiça e Negócios Interiores pelo presidente Castelo Branco, demitindo-se em 1965, por não concordar com a edição do Ato Institucional Número Dois. Em 1966, foi reeleito senador por Minas, para a sexta e a sétima legislaturas. Faleceu durante seu último mandato, em Belo Horizonte, em 16 de janeiro de 1972.

2- O INTELECTUAL

O intelectual Milton Campos era ponderado. A configuração montanhosa do Estado forjou o seu temperamento introspectivo, voltado para a meditação e o exercício intelectual. Nesse sentido, publicou ensaio sobre o pensamento político liberal, defendendo a posição do meio termo, que leva à conciliação.

A Imprensa Oficial, pelos auspícios do Secretário Abgar Renault, publicou, em 1951, o livro “Compromisso Democrático”, reunindo os principais discursos do governador Milton Campos. Nesse precioso livro, encontramos uma súmula do pensamento político de Milton Campos. Os discursos compõem uma unidade de ideias básicas, constituindo verdadeiras lições de pregação patriótica.

Além desse livro, existem ainda outras publicações, como o ensaio “O Papel de Minas no Brasil” (II Seminário de Estudos Mineiros), mais tarde, republicado sob o título “Evolução da Civilização Mineira, a função social da universidade”, separata da Revista da Universidade de Minas Gerais; “A Constante Liberal de Minas Gerais”, “O Pensamento Político Contemporâneo”, “Eleições Diretas” (publicação do Ministério da Justiça - 1965), além de vários discursos de paraninfo e aulas inaugurais.

Após a sua morte, a Editora José Olympio, por iniciativa de Antônio Gontijo de Carvalho, publicou o livro “Testemunhos e Ensinamentos”, que reúne alguns dos principais trabalhos de Milton Campos, oferecendo uma idéia conjunta do pensamento de nosso patrono, pois versa temas de caráter político, filosófico, educacional, sociológico, histórico, biográfico, administrativo, jurídico e literário.

Em 1953, Milton Campos foi eleito para a Academia Mineira de Letras (AML), como sucessor de Lindolfo Gomes, na cadeira de número 29, cujo patrono é Aureliano Pimentel. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG) e do Instituto do Direito Civil Comparado, de Paris. Foi professor de Política da Faculdade de Filosofia da UMG e co-fundador da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica, na qual regeu a cadeira de Direito Constitucional. Foi provedor e vice-provedor da Santa Casa de Misericórdia. Milton Campos é também patrono das Faculdades Milton Campos, com sede em Nova Lima.

3- O JURISTA

Como advogado, jurista e jurisconsulto pode ter seu trabalho encarado sob duas óticas: a do militante forense e a do Ministro da Justiça. A sua vida profissional se iniciara, realmente, em minha Boa Esperança, comarca do Sul de Minas.

A curta passagem de Milton Campos pelo Ministério da Justiça, em plena Revolução de 31 de Março, deixou marcas indeléveis, sendo por ele editada a lei do Condomínio e Incorporações. Também, foi designado, já naquele tempo, por sua ação a comissão incumbida de elaborar anteprojeto de Reforma do Poder Judiciário, bem como estruturando a Justiça Federal de Primeira Instância, entre outras realizações de igual envergadura.

4- O DEMOCRATA

Responsável pela restauração da democracia no Estado, sua posse transforma-se num acontecimento nacional. Seu programa frente ao Palácio da Liberdade era: “Governar Minas não é entregar-se à conduta livre e fantasiosa, sob as inspirações do arbítrio, e sim interpretar o sentido profundo de sua vocação histórica e o rumor, às vezes surdo, mas sempre sensível e imperioso das aspirações de seu povo. Assim, afasto a pretensão de ser no Governo o taumaturgo ou o herói disposto a operar milagres e praticar façanhas”.

Além de intelectual primoroso e pensador arguto, como homem público, no exercício do cargo de governador do Estado, impressionou pelo senso pragmático de modernidade, através das realizações previstas pelo Plano de Recuperação e Desenvolvimento Econômico, coordenado pelo Secretário de Agricultura, Indústria e Comércio, Américo René Gianetti.

Ao findar seu primeiro ano de mandato, o Governador Milton Campos determinou que o então Departamento Estadual de Estatística procedesse ao levantamento completo das realizações de seu governo. O diretor Joaquim Ribeiro procurou o chefe de Gabinete do Governador, Edgar da Matta Machado, e mostrou-se surpreso diante do volume das realizações. Joaquim Ribeiro sugeriu, então, a divulgação na mídia dessas realizações. Levado o assunto a Milton Campos, o governador, com a modéstia e ironia que o caracterizavam, afirmou que “não valeria a pena publicar todos os dados”, e acrescentou irônico: “o povo nem vai ler isso”. Sempre avesso a publicidades midiáticas de seu governo, o governador Milton Campos determinou que não se fizessem as publicações, pois o importante era trabalhar pelos mineiros, sem visar publicidade promocional.

5- SEU PERFIL

Milton Campos resistiu contra as tentações que desviam dos caminhos retos e resistiu com todas as forças disponíveis para a construção de um mundo melhor e mais humano. Resumindo, poderíamos afirmar com ufania que nosso patrono foi advogado dos mais conspícuos, professor dos mais competentes, deputado e senador dos mais respeitáveis, governador esclarecido e impoluto, cidadão modelar, chefe de família dedicado e responsável, escritor escorreito e inconfundível, em tudo Milton Campos se distinguiu e deixou a marca de sua personalidade ímpar.

Seria longo traçar-lhe o perfil completo. Longo e desnecessário, porque, na simples evocação de seu nome, Minas, o Brasil e as instituições republicanas se acham igualmente homenageadas.