JÚLIO BUENO BRANDÃO

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 56

Por Luis Gonzaga do Amaral


A fl. 17 v. do Livro de Batizados n°5, da Igreja Matriz de São Francisco de Paula de Ouro Fino, foi lançado o assento de batismo do menor JÚLIO, nascido na Freguesia, aos 11 de julho de 1858, filho legítimo do Major Francisco de Paiva Bueno e D. Francisca de Paiva Sanches. Foram padrinhos o Sr. Máximo de Paiva Bueno e D. Ursulina Sanches de Lemos. O Padre Joaquim Firmino Gonçalves Curimbaba foi quem batizou o menino. Primeiro documento da vida ilustre do maior ourofinense, Senador Bueno Brandão.

Aprendeu as primeiras letras com o Prof. João Carlos Smith. Esta foi a única escola que Bueno Brandão frequentou. Auxiliando seu pai nos trabalhos comerciais, dedicava-se, ao mesmo tempo, à leitura, aproveitando todas as oportunidades de aprender. Inteligência viva e esclarecida, servida por uma memória excepcional Bueno Brandão, logo se destacou em seu limitado meio.

Em 1880, entrava para o diretório político e, em 1881, era nomeado Juiz Municipal. Nesse mesmo ato habilitou-se para as funções de Advogado, perante o Juiz de Direito de Jaguari, hoje Camanducaia. O seu requerimento é de 11 de novembro de 1881 e também a provisão. De 1882 a 1885, foi Subdelegado de Polícia. Em 1883, foi eleito Vereador à Câmara Municipal, de sua terra natal cargo que exerceu até a proclamação da República.

Mineiro dos mais destacados, figura invulgar, austera, portador de marcantes virtudes políticas, cívicas e morais, por isso conquistou o respeito e a admiração não só dos seus contemporâneos, como da nação e dos seus pósteres. Autoditada, pelo seu esforço, amor ao estudo e brilhante inteligência, conseguiu apreciável cultura humanística e jurídica, por isso que jamais, na sua longa e profícua vida parlamentar, sofreu a menor inferiorização, sempre, enfrentando, com sucesso, na Câmara Federal e Senado da República, os mais famosos parlamentares.

O Presidente Bias Fortes, como Governador interino, nomeou Bueno Brandão para o cargo de Presidente do Conselho da Intendência de Ouro Fino. A comunicação foi feita pelo Secretário do Estado, Dr. Francisco de Assis Barcelos Correia, em data de 10 de janeiro de 1891. A posse deu-se no dia 22 do mesmo mês, em casa do Delegado José Antônio de Freitas Guimarães, sendo Escrivão o Sr. Antônio Branco dos Santos.

No desempenho desse cargo, Bueno Brandão entrou, por assim dizer, na rota que o levaria aos mais altos postos da administração e da política de Minas Gerais e do País, e a todos dignificou e honrou sobremaneira: Presidente da Câmara e Agente Executivo Municipal; Deputado e Senador Estadual; Deputado e Senador Federal; Presidente da Câmara dos Deputados e Líder da Maioria; Vice-Presidente e duas vezes Presidente do Estado de Minas Gerais e em todos esses cargos deixou sinais indeléveis da sua marcante personalidade, enérgica, culta, trabalhadora e honesta. É de servir de exemplo, que o mais benemérito ourofinense exerceu funções públicas das mais destacadas; gozou de prestígio e exerceu por mais de meio século a atividade política. Sempre teve uma vida simples e modesta, todavia morreu pobre. Essa sua maior glória, numa república onde a honestidade não caracterizava todos os seus homens públicos.

Dentre as muitas virtudes de homem público que marcaram a vida do Senador Júlio Bueno Brandão, duas merecem especial relevo, a lealdade política e a coragem cívica, que jamais lhe faltaram, virtudes políticas quase esquecidas no meio político nacional.

Dois fatos ocorridos durante sua longa e afanosa vida pública bem as retratam. O Marechal Hermes da Fonseca era o Presidente da república em 1913, mas, o poder, de fato era exercido pelo caudilho gaúcho General Pinheiro Machado, Senador e Chefe do Partido Republicano Conservador, político prepotente, autoritário e de ambições sem limites. Era o candidato à Presidência da República, o que motivou a eclosão de grave crise política, visto como diversos Governadores se opunham, se bem que dissimuladamente à candidatura do político riograndense. Embora o PRM já houvesse deixado transparecer que negaria o seu apoio à candidatura do caudilho gaúcho, ainda assim a posição que o Presidente de Minas viesse a tomar, seria decisiva na luta que se esboçava. E de fato, foi decisiva. Júlio Bueno Brandão era o Presidente de Minas, por isso no momento, o fiel da balança política nacional.

No sentido de conseguir o seu apoio, indispensável, ofereceram-lhe a Vice-Presidência da República na chapa onde deveria figurar, como candidato à Presidência, o caudilho riograndense. Se aceito o oferecimento, a vitória seria certa, o que, de alguma forma, assegurava a Bueno Brandão a Presidência no quatriênio seguinte.

De nada valeram, porém, os oferecimentos e as insistências dos que se consideravam donos da República, seguidos, como de costume, de veladas ameaças a Minas. O Chefe Mineiro não cedeu à tentação e nem se intimidou. Repeliu o oferecimento, eis que agir diversamente seria faltar à sua jamais desmentida lealdade para com os seus correligionários e para com o seu partido.

As ameaças já não eram mais veladas, o que, longe de atemorizar o Presidente Mineiro, provocaram sua pronta, corajosa e clara manifestação de repulsa à pretensão do político gaúcho, através da frase que o imortaliza, por isso que traduzia o pensamento da quase totalidade dos mineiros: “PREFIRO CAIR COM MINAS A CAIR EM MINAS”. Minas, porém, continuou de pé e com ela o seu Presidente. A candidatura do General Pinheiro Machado não vingou.

Atitude assim tão digna e varonil bem retrata uma vida pública orientada no sentido da mais indefectível lealdade aos companheiros e ao Partido, aproximando o grande ourofinense do modelo cantado pelo poeta latino, por isso que, “considerou o maior dos crimes preferir a existência à honra e, em virtude da vida, perder as razões de viver”.

Mais de quinze anos se passaram. Deflagra-se a Revolução de 1930, encabeçada pelo Estado de Minas. Como medida extrema, no sentido de sufocar o movimento armado, que se estendia por todo País, o Presidente da República decretou o estado de sítio, medida de exceção e odiosa, que, pela primeira vez, atingia o Estado de Minas Gerais.

Deputados e Senadores da Aliança Liberal, partido da revolução desapareceram das ruas do Rio de Janeiro, exceto um: O Senador Júlio Bueno Brandão. Embora velho e doente, no dia seguinte ao decreto, impavidamente, assomava à tribuna do Senado, para manifestar o seu protesto, e com a serena energia e incisiva eloquência, que caracterizavam o eminente parlamentar, profligou a medida drástica e atentatória à autonomia do seu Estado. E, apesar das paixões que conturbavam o espírito dos políticos e tratando-se de uma Casa hostil, foi ouvido com respeitoso silêncio. Dos companheiros da Aliança Liberal foi o único a protestar. E foi o seu “canto de cisne”.

Já alquebrado pela doença que ia vitimá-lo, o velho Senador Júlio Bueno Brandão, não mais reviu sua terra natal. Cinco meses depois, no Rio de Janeiro, dia 21 de março de 1931, morreu conquistando a imortalidade.

Tópicos da Carta do Presidente Afonso Pena, quando Bueno Brandão assumiu, interinamente, o Governo de Minas: “a V.Exª. para reiterar-lhe a expressão de sinceros votos que faço pela prosperidade de seu Governo e levar-lhe os meus aplausos pela apertadíssima resolução que tomou de não alterar a rota governativa traçada por seu eminente antecessor, nosso inolvidável amigo Dr. João Pinheiro. Aliás, eu já sabia de antemão, pelo que havíamos conversado aqui. A escolha de seus auxiliares agradou muito, não só pela competência de cada um deles, como pelos seus antecedentes na administração anterior. Para que Minas não perca a situação elevada que tem na política nacional, é indispensável que se mantenha unida, como até agora, sem aparências sequer de divergências. Daí, o acerto de prosseguir na linha traçada e executada pelo Dr. João Pinheiro”.

O Centenário do Nascimento do Presidente Júlio Bueno Brandão, 11 de julho - 1858-1958. Comemorações realizadas em sua cidade natal, Ouro Fino. Duas merecem ser destacadas – a inauguração do monumento ao Presidente Júlio Bueno Brandão, por sua Excelência. Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, D.D Presidente da República e a Sessão Solene do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.