FELISBERTO CALDEIRA BRANT PONTES DE OLIVEIRA HORTA

- MARQUÊS DE BARBACENA

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 59

Por José Marques Correia Neves

Visconde e Marquês de Barbacena, senador do Império, conselheiro de estado, gentil homem da imperial câmara, mordomo-mor da imperatriz a Sra. D. Amélia (a Duquesa de Bragança), alcaide-mor da vila de Jaguaripe, cavaleiro da Ordem de Pedro I, grã-cruz das Ordens do Cruzeiro e Rosa, comendador da Ordem de Cristo, cavaleiro da Torre da Espada, grã-cruz da Coroa de Ferro, marechal de exército, membro de várias sociedades científicas e literárias no Brasil e na Europa, nasceu a 19 de setembro de 1772, no arraial de S. Sebastião, perto da cidade de Mariana, na província de Minas Gerais.

Era filho do coronel Gregório Caldeira Brant e sua mulher D. Ana Francisca de Oliveira Horta e neto paterno do coronel Felisberto Caldeira Brant, contratador geral dos diamantes e do ouro em Minas Gerais.

Tendo concluído os estudos preparatórios em Minas, Felisberto foi para o Rio de Janeiro, em 1786, onde prestou exame público em presença do governador e capitão-general, Luís de Vasconcelos, e tão notável foi esse seu exame, que o governador mandou-o convidar para jantar com ele naquele dia. Depois de assentar praça de cadete, embarcou para Lisboa, em 1788, para continuar seus estudos. Depois de ter feito os exames para matricular-se na academia de marinha, aí continuou os seus estudos, sempre com a maior distinção e sucesso.

Tão brilhante foi a carreira escolar de Felisberto Caldeira Brant, que no fim dos cinco anos do curso, e tendo apenas dezenove de idade competia-lhe o posto de capitão-de-mar-e-guerra. O governo português, porém, passou-o, a seu pedido para o exército, sendo logo nomeado major do estado-maior e ajudante de ordens do governador de Angola, com a obrigação de aí servir por dois anos.

Terminado o tempo de sua residência em Angola, voltou a Lisboa, passando pela Bahia, onde contratou casamento com D. Ana Constança Guilhermina de Castro Cardoso. Seguindo para Lisboa, voltou depois à Bahia, nomeado tenente-coronel do regimento de 1ª linha daquela cidade, e então efetuou o seu casamento a 27 de junho de 1801.

Em novembro de 1805, chegou à Bahia a esquadra inglesa e tendo necessidade de dinheiro, para reparos e fornecimentos, não achou quem lhe quisesse adiantar a soma necessária. Então, o tenente-coronel Felisberto Caldeira Brant prestou esse auxílio à esquadra inglesa. Já nesse mesmo ano, havia o Marquês obsequiado ao príncipe Jerônimo Bonaparte, que ali aportara numa esquadra francesa, pouco antes de chegar a esquadra inglesa. Estes distintos acolhimentos produziram o ciúme do governador, o conde da Ponte. Para evitar desavenças, o Marquês partiu com toda a sua família para Lisboa.

Chegando a Lisboa, o governo o nomeou tenente-coronel do regimento de Peniche. Com a vinda da família real para o Brasil, retornou o Marquês com sua família, para a Bahia.

Sendo nomeado, em 1811, brigadeiro graduado e inspetor-geral das tropas da Bahia, procurou logo disciplinar os corpos de linha e milícias às quais deu nova organização.

Em 1813, introduziu o Marquês, na província, a primeira máquina de vapor para moer canas. Em 1815, veio ao Rio, como representante dos principais proprietários da província para pedir medidas enérgicas contra a insurreição dos escravos.

Em 1817, por diligência e esforços do Marquês, instalou-se, também, na Bahia, filial do Banco do Brasil.

Durante a revolução de Pernambuco naquele ano, prestou muitos serviços pessoais ao governo, e emprestou mesmo uma escuna para conduzir apetrechos bélicos. Em 1818, encomendou o Marquês a Inglaterra uma máquina de vapor, para mover um barco que foi construído na cidade da Bahia, o qual fez sua primeira viagem à Cachoeira, em 4 de outubro de 1819. Logo depois, foi para Londres. Ali, ocupou-se da educação dos filhos. Logo que D. Pedro I declarou a independência, abriu o marquês correspondência ativa com ministro José Bonifácio, oferecendo-se para o serviço do país.

Em 1823, voltou ao Rio, como deputado à Assembleia Constituinte, pela província da Bahia mas, pouco depois, foi a mesma assembleia dissolvida. Convidado, nessa época, para a pasta da Guerra e Marinha, recusou. Parecendo-lhe que o melhor meio para chegar a resultado prático seria aceitar a constituição oferecida pelo Imperador, foi à Bahia promover esta aceitação. Por este tempo, recebeu ele o título de Visconde de Barbacena sendo, poucos anos depois, elevado a Marquês do mesmo título. Da Bahia, partiu ele para Londres para negociar um empréstimo para o governo, e tratar do reconhecimento definitivo da nossa independência.

Voltando, de novo, ao Rio de Janeiro, foi eleito senador por três províncias ao mesmo tempo, Minas, Bahia e Alagoas. O Imperador escolheu-o por Alagoas, em 19 de abril de 1826, data da organização primitiva do senado brasileiro.

Em fins deste mesmo ano foi nomeado General-em-Chefe do Exército do Sul, mas só tomou o comando em janeiro de 1827 e, participou ativamente da Campanha da Cisplatina. Apesar de todos os contratempos, o Marquês mostrou a maior bravura e sangue-frio durante a ação.

Feita a paz com Buenos Aires, e voltando o Marquês ao Rio de Janeiro, foi nomeado embaixador e encarregado de acompanhar para Viena d’Áustria, D. Maria II, servindo-lhe de tutor durante a viagem, e incumbido de escolher, nas cortes da Europa, nova esposa para D. Pedro I. Chegando a Gibraltar, soube, com a maior surpresa, que D. Miguel, tomando posse da regência de Portugal, em nome da rainha, havia-se declarado rei absoluto. Decidiu não continuar a viagem para Viena, e seguir com a rainha para a Inglaterra, avisando a D. Pedro I.

Entretanto, dedicou-se à segunda parte da sua missão, o casamento do Imperador, e conseguiu, finalmente, pedir a mão da princesa Amélia de Leuchtemberg. Voltando ao Rio de Janeiro, em companhia da nova imperatriz e da rainha de Portugal, o Imperador recebeu o Marquês de maneira obsequiosa. Então, pediu-lhe o Marquês a graça de o deixar retirar-se para a vida privada e para o descanso, com dignidade.

No entanto, os negócios públicos não marchavam bem. O Marquês acedeu às instâncias do Imperador e aceitou o Ministério, com a intenção de fazer ao seu país todo o bem que pudesse.

Vítima de intrigas palacianas, o Marquês foi demitido do Ministério, pelo Imperador, por motivo que não existia. As coisas chegaram a um tal estado de efervescência, que produziram os acontecimentos de abril de 1831, com a abdicação de D. Pedro I e a sua retirada para a Europa.

Desde a abdicação de Dom Pedro I até 1835, conservou-se o Marquês firme em seu posto de Senador, como monarquista de convicção e progressista, tanto como em melhoramentos materiais, quanto em reformas sociais e políticas, defendendo, sempre, o princípio da segurança da pessoa e da propriedade. Tendo de ir à Inglaterra, em 1836, o Regente Diogo Antônio Feijó, nomeou-se Ministro Plenipotenciário, para tratar sobre a interpretação do tratado de comércio, que deveria cessar com aquele país. Não perdeu seu tempo nesta viagem, pois enviou ao governo proposta de alguns banqueiros ingleses, para fundar um banco no Brasil, e retirar da circulação o papel-moeda do governo. Enviou também outra proposta de uma companhia inglesa, para construir uma estrada de ferro do Rio de Janeiro a Minas.

Por este tempo, começou o Marquês a sofrer de cálculos na bexiga e, apesar de ter-se sujeitado muitas vezes à operação cirúrgica própria desta moléstia, por fim sucumbiu a ela. Enquanto lhe restaram forças foi sempre ao Senado e tomou parte nos debates.

O Marquês de Barbacena faleceu a 13 de junho de 1841.