JOÃO CAPISTRANO HONÓRIO DE ABREU

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 69

Por Ismaília de Moura Nunes

João Capistrano Honório de Abreu, descendente de agricultores de origem portuguesa, nasceu a 23 de outubro de 1853, em Maranguape, então província do Ceará.

Fez os primeiros estudos em sua terra natal. Em vários estabelecimentos frequentados, sucessivamente, revelou-se mau estudante.

O que à primeira vista, poderia parecer aversão pelos estudos, evidenciava somente um caráter rebelde à disciplina e às imposições, pois o rapaz lia e estudava continuamente, mas apenas aquilo que verdadeiramente o interessasse.

Aos dezesseis anos, foi encaminhado ao Recife, a fim de preparar-se para ingresso na famosa Faculdade de Direito da capital pernambucana.

No entanto, seguindo sua vocação de autodidata, o jovem Capistrano tornou-se assíduo frequentador de livrarias e bibliotecas, negligenciando, mais uma vez, os estudos regulares.

Descrente de vê-lo bacharel, seu pai chamou-o de volta ao Ceará com a esperança de destiná-lo às atividades agrícolas.

Após alguns meses de trabalho na lavoura, Capistrano juntou-se a um grupo de jovens escritores de Fortaleza e deu início a uma atividade literária que só cessaria com sua morte.

Em 1874, o semanário Maranguapense publicava, em seus números de junho a agosto, o primeiro trabalho conhecido de Capistrano de Abreu, um original estudo crítico dos poetas românticos Casemiro de Abreu e Junqueira Freire.

Ainda no mesmo ano, Capistrano participou de seminários sobre a Literatura Brasileira, e teve ocasião de colaborar com José de Alencar em pesquisas folclóricas que o autor de Iracema realizou em sua última viagem ao Ceará.

Em 1875,possivelmente por influência de José de Alencar, Capistrano de Abreu transferiu-se para o Rio de Janeiro onde passou a integrar o grupo de redatores da Gazeta de Notícias, recém fundada por Ferreira de Araújo.

No entanto, foi no Jornal do Comércio, com o Necrológio de Francisco Adolfo de Varnhagen, publicado em dezembro de 1878, que se revelou a marcante vocação de historiador de Capistrano de Abreu.

Em 1879, por meio de concurso em que se classificou em primeiro lugar, Capistrano entrou para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro que se transformou em seu local de trabalho e de pesquisa e muita influência exerceu em seus futuros estudos. Dedicou-se profundamente ao setor literário publicando, entre outros estudos e ensaios: “Camões de perfil”, “A Literatura Brasileira e a crítica moderna”, “Considerações sobre as memórias póstumas de Brás Cubas”.

Em 1883, Capistrano submeteu-se a concurso para a Cadeira de Corografia e História do Brasil, do Imperial Colégio de Dom Pedro II, apresentando a tese Descobrimento do Brasil e seu desenvolvimento no século XVI.

A discussão da tese ficou famosa na história do estabelecimento, tendo o candidato revelado conhecimentos tais, que superaram esmagadoramente os de seus examinadores.

No exercício da cátedra, teve ocasiãode estudar com afinco e suas ideias começaram a modificar-se. Abandonou o positivismo histórico e chegou ao realismo histórico, preocupando-se com documentos e fontes objetivas de informação. Passou, então a pesquisar e divulgar documentos inéditos relativos a nossa história.

Em 1887, foi eleito membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Em 1899, publicou um de seus mais notáveis trabalhos: “O povoamento do Brasil oriental”, que, em 1924, refundido e ampliado, seria publicado novamente sob o título “Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil”, síntese notável do que representaram os caminhos e estradas internas na formação de nossos primeiros povoados.

Em 1907, surgiu Capítulos da História Colonial (1500-1800), livro que é considerado como a melhor obra de Capistrano de Abreu.

Dentro de sua linha de pensamento, realizou um trabalho sintético, em que procurou relacionar os acontecimentos com o ambiente, ressaltando a importância dos fatores geográficos, raciais e econômicos. Enfatizou a influência das massas na evolução histórica, minimizando a importância geralmente atribuída aos chefes ou heróis.

Até sua morte, ocorrida a 13 de agosto de 1927, no Rio de Janeiro, nunca deixou o incansável mestre de pesquisar, escrever e publicar trabalhos que abrangiam desde temas antigos, como a Carta de Pero Vaz de Caminha, até assuntos contemporâneos como a Abolição da Escravatura.

Polêmico, mordaz, muitas vezes radical em suas convicções, manteve-se sempre fiel a seus ideais, demonstrando, em toda a sua vida, extremado amor a seu país e a sua gente.