PADRE JOSÉ JOAQUIM VIEGAS DE MENEZES

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 71

Primeira página do opúsculo do Pe. Viegas de Menezes, Vila Rica, 1807.

 

Texto baseado em artigo de Dr. Jairo Faria Mendes
Professor da PUC Minas Arcos.


“Faço saber a vós, governador e capitão-general da capitania do

Rio de Janeiro, que por constarque deste Reino tem ido para o

Estado do Brazil quantidade lettras de imprensa, na qual não é

conveniente se imprimam papeis no tempo presente,....portanto,

se vos ordena, que,...as mandeis sequestrar,...e mandeis notificar

aos donos das mesmas lettras e aos officiaes da imprensa que houver,

para que não imprimam...comminando-lhes a pena de que, fazendo

o contrario, serão remettidos presos para este Reino.”

Lisboa 1747


INTRODUÇÃO

Em 1747, havia sido implantada, no Rio de Janeiro, a tipografia do português Antônio Isidoro da Fonseca. Essa tipografia foi fechada, e seu proprietário punido, como mostra a seguinte ordem régia:

“Faço saber a vós, governador e capitão-general da capitania do Rio de Janeiro, que por constar que deste Reino tem ido para o Estado do Brazil quantidade lettras de imprensa, na qual não e conveniente se imprimam papeis no tempo presente, nem ser de utilidade aos impressores trabalharem no seu officio, aonde as despesas são maiores que no Reino, do qual podem ir impressos os livros e papeis, no mesmo tempo em que delle deve ir as licenças da Inquisição e do meu Conselho Ultramarino, sem as quaes se não podem imprimir, nem correrem as obras; portanto, se vos ordena, que, constando-vos que se acham algumas lettras de imprensa nos limites do vosso governo, as mandeis seqüestrar, e remeter para este Reino por conta e risco de seus donos, e entregara quem elles quizerem, e mandareis notificar aos donos das mesmas lettras e aos officiaes da imprensa que houver, para que não imprimam nem consintam que se imprimam livros, obras ou papeis alguns avulsos, sem embargos de quaesquer licenças que tenham para a dita impressão, comminando-lhes a pena de que, fazendo o contrario, serão remettidos presos para este Reino a ordem de meu Conselho Ultramarino, para se lhes imporem as penas em que tiverem incorrido, na conformidade das leis e ordens minhas, e aos ouvidores e ministros mandareis intimar da minha parte esta mesma ordem para que lhes dêm a sua devida execução e a façam registrar nas suas ouvidorias.”

A transcrição da Ordem Régia acima demonstra o regime de força imposto à Colônia. O Reino exercia, com mãos de ferro, seu domínio, impedindo através de todos os meios o desenvolvimento sócio-cultural do Brasil. A primeira impressão, às escondidas, realizada antes da Independência foi devida à vaidade de um Governador de Minas Gerais e ao pioneirismo do padre mineiro José Joaquim Viegas de Menezes.


UM AMANTE DAS ARTES GRÁFICAS

O padre Viegas nasceu em Ouro Preto, em 1778, e foi abandonado na casa de Ana Teixeira Menezes, que o criou como filho. Em 1830, faleceu Ana Teixeira, e, em seu testamento, reconheceu o padre Viegas como filho e deixou-lhe todos seus bens.

Em Mariana, estudou humanidades. Destacava-se de seus colegas na busca do conhecimento, e, desde cedo, mostrava grande talento para o desenho. Em 1897, foi para Portugal, para dar continuidade aos estudos, sendo ordenado padre, em 1800 ou 1801.

Em Lisboa, conviveu com frei José Marianno da Conceição Velloso, que também era mineiro, e dirigia a Regia Officina Typographica, chalcographica, tipoplastica e Litteraria do Arco do Cego. Lá, Viegas aprendeu as artes tipográficas e calcográficas. Mas o padre, também, buscou aprimorar seus conhecimentos sobre o tema, em obras estrangeiras. Ele chegou a traduzir o Tratado da gravura a água forte e a buril, e em madeira negra, com o modo de construir as prensas modernas e de imprimir em talho doce, trabalho que foi impresso no Arco do Cego.

Em 1802, retornou a Ouro Preto, e passou a praticar a arte da impressão, nos momentos de descanso. Seriam seus conhecimentos, obtidos em Portugal, que deixariam Minas Gerais com posição importante na história da imprensa brasileira.

A TIPOGRAFIA

Segundo João Pedro Xavier da Veiga, na monografia A Imprensa em Minas Gerais, publicada na Revista do Arquivo Público Mineiro, em 1898, em Minas, foi construída a primeira tipografia do Brasil. Novamente, aparecia o brilhantismo do padre Viegas, o principal responsável pelo feito.

Morava em Ouro Preto, em 1820, o português Manoel José Barbosa Pimenta e Sal, que trabalhava como chapeleiro e sirgueiro, e tinha muito talento para a mecânica. Ele gostava muito de ler, mas não compreendia seu principal livro, um dicionário de Sciencias e Artes, em Francês, língua conhecida por pouquíssimas pessoas na capital mineira. Por isso, o português folheava e olhava as ilustrações do livro, sem compreender o seu conteúdo. Costumava parar nas páginas com desenhos de equipamentos tipográficos.

O padre Viegas, que conhecia francês, traduziu este texto para o chapeleiro e explicou como funcionava e o que compunha uma tipografia. A partir daí, ambos resolveram construir uma tipografia, que ficou pronta em 1821. Depois de pronta, Viegas deixou-a com Manoel José Barbosa. No entanto, a tipografia só receberia autorização para funcionamento, em 20 de abril de 1822. Lá seriam impressos os primeiros jornais mineiros, como o Compilador Mineiro (1823), Abelha do Itaculumy (1824) e o Universal (1825).

Pela demora da autorização de funcionamento, essa tipografia acabou não sendo a primeira a entrar em atividade em Minas Gerais. Uma tipografia oficial, criada pelo governo provisório, e descrita por João Pedro Xavier da Veiga como “minúscula”, entrou em funcionamento alguns meses antes da construída pelo padre Viegas e seu amigo.

“Os documentos seguintes, existentes no Arquivo Público Mineiro, provão que já em fevereiro de 1822 funccionava a minúscula typografia provincial, que aliás denominava se pomposamente – nacional...” (XAVIER DA VEIGA, 1898)

ENFRENTANDO AS PROIBIÇÕES

O padre José Joaquim Viegas de Menezes, em 1807, imprimiu um poema, também chamado de canto panegírico, homenageando o governador da província de Minas Gerais, Pedro Maria Xavier de Athayde e Melo, o visconde de Condeixa. O religioso não era político, e nem tinha nenhum interesse em agradar o governador. Era descrito como um clérigo dedicado, piedoso e humilde. Acabou sendo um dos pioneiros da imprensa brasileiro, por ter conhecimentos sobre a arte gráfica.

Tudo começou quando o cronista e literato Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcellos escreveu um poema homenageando o governador, no aniversário deste. O governador quis de todas as formas ver o texto impresso, e sabia que, em Ouro Preto, havia uma pessoa que tinha conhecimentos gráficos: o padre Viegas.

Com isso, surgiria a primeira impressão mineira reconhecida pelos historiadores. O padre, há anos, já fazia algumas impressões de estampas religiosas, em seus horários de folga, e presenteava amigos. Mas, agora, o governador lhe pedia algo maior, que certamente desagradaria o governo português. No entanto, o padre aceitou realizar a tarefa, porque o governador garantiu que assumiria toda a responsabilidade pela impressão.

A CALCOGRAFIA

A técnica utilizada pelo padre foi a calcografia, que utiliza chapas de metal fixas. Ele conhecia a tipografia mas, para utilizar os tipos móveis, teria primeiro que importar ou construir um prelo, o que era muito mais custoso e perigoso.

Foram três meses de trabalho duro, aplainando, polindo e abrindo onze chapas de diversos tamanhos. O impresso era composto de 14 páginas, tendo à frente uma ilustração do governador ao lado da esposa, duas páginas com dedicatória ao estadista, dez contendo o poema, e uma com o “Mappa do donativo voluntario que ao Augusto Príncipe R. N. S. offerecerão os povos da Capitania de Minas-Geraes, no anno de 1806”. Na dedicatória foi utilizado o corpo 8, no poema corpo 12, e no mapa corpos 6 e 7.