ALFERES JOAQUIM JOSÉ DA SILVA XAVIER – O TIRADENTES

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 72

 

 

Por Ten. Cel. Adalberto Guimarães Menezes

 

Joaquim José da Silva Xavier nasceu na Fazenda do Pombal, propriedade de seu pai, situada hoje no município de Ritápolis – MG, gleba que já pertenceu a São João del Rei e a Tiradentes. A data de seu nascimento é desconhecida, mas certamente que em 1746, pois o batizado foi feito no dia 12 de novembro do mesmo ano, na Capela de Nossa Senhora d’Ajuda que existia na Fazenda. Seu pai chamava-se Domingos da Silva Santos, português, e a mãe, Antônia da Encarnação Xavier, descendente de paulistas. O casal teve sete filhos, dos quais nosso herói foi o quarto.

 

Sua mãe faleceu em 02/12/1755, ficando Tiradentes órfão com nove anos. Dois anos depois faleceu seu pai. As crianças, foram morar com parentes e padrinhos, Joaquim José foi para a casa de seu tio e padrinho Sebastião Ferreira Leitão, cirurgião dentista na Vila de São José del Rei, e também minerador.

 

Pelo inventário da mãe sabe-se que a família não era pobre. A fazenda era grande, com 35 escravos e várias edificações. Joaquim José tinha um primo padre, Frei José Maria da Conceição Veloso, botânico renomado, e tudo indica que instruiu Tiradentes na medicina da qual mais tarde veio a demonstrar ter grande conhecimento. Frei Veloso foi o criador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e publicou um valioso trabalho científico, a monumental obra Flora Fluminense, em 11 volumes.

 

Durante o tempo em que morou com seu tio, Joaquim José recebeu aprimorada educação para a época e o local. Sua letra e seu estilo de redação eram superiores ao da maioria dos homens do seu tempo. Era considerado exímio “tira-dentes”, mas também os punha com maestria. Quanto à medicina que praticava ficou famosa a gratidão de uma senhora no Rio de Janeiro, cuja filha ele curara, que lhe conseguiu esconderijo quando era perseguido, dias antes de sua prisão, e posteriormente foi depor a seu favor.

 

Morou com seu tio dos 11 aos 18 anos e, depois, dedicou-se à profissão de mascate. Aos 29 anos alistou-se, em 01/12/1775, no Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, que fora criado pelo Governador de Minas, Dom Antônio de Noronha, em 09/06/1775, no posto de Alferes, reservado para a nobreza civil.

 

De 1777 a 1779, esteve no Rio de Janeiro com seu Regimento, ou parte dele, servindo nas forças de defesa contra ameaças externas. Em 1780, está em Sete Lagoas – MG, como comandante do destacamento local encarregado da Guarda do Registro ali instalado. Em 09/04/1781, é nomeado comandante do destacamento do Caminho Novo, uma variante do caminho para o Rio de Janeiro. No dia 19/07/1781, o Governador D. Rodrigo José de Menezes designa um oficial para chefiar a execução da obra, mas a execução propriamente dita ficou a cargo do Alferes, que iniciou as picadas com sua pequena tropa, fazendo chegar a picada até o lugar onde se instalara um quartel chamado Porto do Menezes. Tiradentes ficou destacado no referido Porto, durante 5 anos. Em abril de 1783, escreveu ao governador relatando missões de perseguição e prisão de salteadores na Serra da Mantiqueira.

 

Em 1784, foi designado pelo agora Governador Luis da Cunha Menezes para participar de uma comissão destinada a fazer estudos perto da divisa do Rio de Janeiro, e o próprio governador diz que ele era designado pela sua “inteligência mineralógica”.

 

De 1786 à 1789, faz várias viagens ao Rio de Janeiro. Numa delas permaneceu quase um ano e meio na capital da colônia. Projetou várias obras de engenharia no Rio, canalização das águas do rio Andaraí, construção de moinhos aproveitando a canalização do rio e os desníveis de vários córregos, construção de um trapiche e de armazéns para guarda de gado e outras, algumas concretizadas por D. João VI e outras pelo engenheiro Paulo de Frontin cem anos depois.

 

Tiradentes sabia fazer jóias. Tinha noções de economia. Sua Cultura mineralógica não se limitava ao ouro e as pedras preciosas, tendo descoberto salitre em Minas para fabricação de pólvora.

 

Ele tomou conhecimento das idéias iluministas que vinham da Europa
e se entusiasmou com a independência dos Estados Unidos da América do Norte, com a qual viu que o Brasil também poderia tomar-se soberano. Tinha um exemplar da Constituição daquele país e outros livros com os quais sempre andava e que está hoje no Museu da Inconfidência em Ouro Preto, falava e pregava abertamente suas idéias de liberdade. Era agitado, falador, loquaz mesmo. Tinha também as alcunhas de “o Corta-Vento”, “o Gramaticão”, “o República”, “o Liberdade”. Morreu solteiro, mas teve uma filha que chegou a batizar, comprovadamente e falecida criança. Há uma tradição de que teve um filho, levado com a mãe para o Quartel Geral, quartel que guardava os garimpos do Rio Abaeté, e que deixou descendência no próprio local e em Dores do Indaiá.

 

O Alferes tinha caráter excepcionalmente elevado. Jamais admitiu nos interrogatórios a que foi submetido a culpa de qualquer um dos inconfidentes, dizendo que ele os tinha cooptado para a conspiração e sobre ele, Tiradentes, deveria recair toda a responsabilidade. Não foi denunciado por nenhum dos que aliciou.

 

Pseudo-historiadores apontam várias razões para somente ele ter sido condenado à morte, até mesmo ser o mais pobre de todos, mas seu cabedal era superior ao de vários inconfidentes, como ao de Tomaz Antônio Gonzaga. Na verdade, ele era o único conspirador realmente conhecido da população de Minas e do Rio, e o único que, pela sua pregação, ameaçava o poder de Lisboa.

 

Tiradentes não morreu em vão. 30 anos depois seu sonho de liberdade realizou-se. E a Pátria, reconhecida, o proclamou Patrono Cívico da Nação Brasileira e o fez Patrono de todas as Polícias Civis e Militares a história o consagrou como Protomártir da Independência.

 

21 de abril de 1792. Data inscrita com sangue na forca e a ouro em nossos corações.