PINTOR MANUEL DA COSTA ATHAYDE

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 78

 

 

Glorificação de Nossa Senhora - Igreja de São Francisco - Ouro Preto

Por Wanderlino Arruda

Manuel da Costa Athayde, mais conhecido como Mestre Athayde, nasceu em Mariana, a 18 de outubro de 1762 e faleceu em Mariana, a 2 de fevereiro de 1830. Foi pintor, dourador, encarnador, entalhador e professor brasileiro.

Foi importante artista do barroco mineiro e teve grande influência sobre os pintores da sua região, através de numerosos alunos e seguidores, os quais, até à metade do século XIX, continuaram a fazer uso de seu método de composição, particularmente em trabalhos de perspectiva no teto de igrejas.

Documentos da época fazem, frequentemente referências a ele como professor de pintura. Em 1818, Ataíde tentou, sem sucesso obter permissão oficial para fundar uma escola de arte, em Mariana, sua cidade natal.

No inventário de suas posses relacionam-se manuais técnicos e tratados teóricos como o de Andrea Pozzo – “Perspectivae Pictorum Architectorum” –, nos quais deve ter estudado a sua arte. Uma das características da sua expressão artística era o emprego de cores vivas, principalmente, o azul, a sua preferida. Em seus desenhos, os anjos, as madonas e os santos apresentam traços de povos africanos.

Foi contemporâneo e parceiro de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. No período de 1781 a 1818, encarnou e dourou as imagens de Aleijadinho, para o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo.

OBRAS

  • Pintura da Capela de Nossa Senhora da Glória, por volta de 1742, localizada na comunidade da Ressaca, pertencente a Carandaí, Minas Gerais;
  • Pinturas na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, realizadas entre 1801 e 1812, sendo a “Glorificação da Virgem” pintada sobre madeira, no teto da nave principal, o seu trabalho mais conhecido;
  • Pinturas do forro da capela-mor da Igreja Matriz de Santo Antônio, na cidade de Santa Bárbara, realizadas em 1806;
  • Painel A Última Ceia, no Colégio do Caraça, executado em 1828;
  • Pintura do forro da capela-mor da Igreja Matriz de Santo Antônio, na cidade de Itaverava, realizada em 1811;
  • Pintura do forro da capela-mor da igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Mariana, realizada em 1823.

CRÍTICAS

Olhada em conjunto, a pintura do Athaide exibe a elegância e leveza do rococó, porém manifesta um gosto pela grave expressão de sentimentos e uma aspiração ao ar livre da paisagem que são sincrônicas à de Constable e Friedrich, seus contemporâneos. Como a de todo artista de boa envergadura a obra de Athaide, em última análise, não se deixa prender a rótulos de escola ou de períodos. Transcende-os, é contemporânea de si mesma. Talvez por abrigarem tantas contradições obra e indivíduo, como essas que vamos apontando, é que a primeira tenha ficado com tão grande poder de alcance. (...) O conjunto da obra de pintura do Athaide deixa perceber um espírito de intelectual liberal, talvez agnóstico. (...) Inserido no complexo fenômeno de mudança social do período em que viveu, Athaide não só corporificou em sua obra a extraordinária e original feição do barroco mineiro na passagem da primeira para a segunda metade do século XVIII, como também deu sinal de tomar consciência, já em pleno século XIX, de uma ideologia que, em arte, cada vez mais valorizava a atuação do indivíduo e o papel da autoria e do fazer criador como veiculadores do belo desinteressado, postura que se iniciara na ruptura da Renascença com a mentalidade medieval”.


Lélia Coelho Frota
(FROTA, Lélia Coelho. Vida e trabalho de Manuel da Costa Ataíde. In:
ATAIDE: vida e obra de Manuel da Costa Ataíde. Texto Lélia Coelho Frota.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p. 29.


ALFERES de milícias Manoel da Costa Athaide: eu, paisano, bato continência em vossa admiração. Há dois séculos menos um dia, contados na folhinha, batizaram-vos na Sé da Cidade Mariana, mas isso não teria importância nenhuma se mais tarde não houvésseis olhado ali para o teto e reparado na pintura de Manuel Rabelo de Sousa. O rumo fora traçado. Pintaríeis outras tábuas de outros tetos ou mais precisamente romperíeis o forro para a conversação radiante com Deus. Alferes que em São Francisco de Vila Rica derramais sobre nós no azul- espaço do teatro barroco do céu o louvor cristalino coral orquestral dos serafins à Senhora Nossa e dos Anjos; repórter da Fuga e da Ceia, Testemunha do Poverello, dono da luz e do verde-veronese, inventor de cores insabidas, a espalhar por vinte igrejas das Minas ‘uma bonita, valente e espaçosa pintura’: em vossa admiração bato continência. E porque ao sairdes de vossa casinha da Rua Nova nos fundos do Carmo encontro-vos sempre caminhando mano a mano com o mestre mais velho Antônio Francisco Lisboa e porque viveis os dois em comum o ato da imaginação e em comum o fixais em matéria, numa cidade após outra, porque soubestes amá-lo, ao difícil e raro Antônio Francisco, e manifestais a arte de dois na unidade da criação, bato continência em vossa admiração”.


Carlos Drummond de Andrade
ANDRADE, Carlos Drumond. Ataíde. In: ATAIDE: vida e obra de Manuel da Costa Ataíde. Texto Lélia Coelho Frota. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p. 9.)