ARTHUR CAMPOS

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 80

 

Por Márcio Jardim

Arthur Alves de Alcântara Campos nasceu na fazenda da Boa Esperança, freguesia da Capela Nova do Betim, município de Sabará, em 1º de dezembro de 1868. Estudou em escolas de Piedade do Paraopeba, Congonhas do Campo e Sabará, na Escola Normal. Em 1887, aos 19 anos, requereu licença de farmacêutico prático, aprovada por carta da inspetoria geral de higiene no Rio de Janeiro.

Em abril de 1889 fundou o Clube Republicano Alvarenga Peixoto em Capela
Nova do Betim, representando antes os republicanos dali e de Curral del-Rei nos congressos do partido reunidos em Ouro Preto em novembro de 1888 e julho de 1889, tendo assinado o manifesto de 18 de novembro de 1888. A seguir, nos primeiros anos da República e até meados do século XX permaneceu a maior parte do tempo como Vereador e farmacêutico em Entre Rios de Minas.

Casou-se em 1891 com Adelaide de Oliveira e Sousa, tendo tido uma filha, Maria Anunciação Campos, nascida em 1892. Faleceu Arthur Campos em Belo Horizonte em 16 de março de 1956.

Como escritor, deixou um livro e dois artigos.

Em 1900, quando tinha 32 anos de idade, publicou o livro “Traços Genealógicos; Livro de Família”, extenso e pormenorizado levantamento genealógico das famílias Campos, Pacheco e Silva Leão, Sousa Pinto, Ribeiro da Silva, Oliveira e Penna, Lima, Pinheiro Diniz e Dias, com pesquisa histórica levada a efeito em inúmeros arquivos dos cartórios de Minas Gerais, especialmente os de Sabará, da Cúria de Mariana e do nascente Arquivo Público Mineiro. Além do valor como fonte de referência para as famílias inventariadas, o livro tem alto valor pelas notáveis anotações de pé-de-página onde são transcritos documentos importantes para a historia de Belo Horizonte em seus primórdios de Curral del-Rei, aproveitados mais tarde pelos historiadores Abílio Barreto, em “Memória Histórica e Descritiva de Belo Horizonte”, e Waldemar de Almeida Barbosa, em “A verdade sobre Belo Horizonte”.

Os dois artigos foram publicados na Revista do Arquivo Público Mineiro. O primeiro – “Corografia Mineira: Entre Rios de Minas” (RAPM, ano I, 1896) – integrou uma série sobre os municípios, enviada ao Arquivo por pedido de seu diretor e fundador, historiador José Pedro Xavier da Veiga, dirigido aos representantes municipais e sócios correspondentes da instituição, como Arthur Campos, que tinha então 28 anos de idade. O segundo artigo é de 1901 (RAPM, ano VI, 1901) – “O jornalismo em Sabará” –, minuciosa relação, acompanhada de estudo, de diversos jornais que circularam em Sabará de 1832 a 1894.

Como homem dedicado à cultura, Arthur Campos prestou valiosos serviços. Amigo e correligionário de João Pinheiro e Xavier da Veiga, foi um dos primeiros sócios correspondentes do Arquivo Público Mineiro em 1895, ano de sua criação, e nessa qualidade foi considerado sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais a partir da instalação deste, em 1907, como consta da segunda ata da Casa.

Ao Arquivo Público Mineiro fez, ao longo da vida, valiosas doações de obras para a biblioteca, como a mais valiosa delas: um dos dois únicos exemplares existentes da primeira obra impressa em Minas Gerais, o “Canto Encomiástico” de Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcellos, impresso pelo Padre José Joaquim Viegas de Menezes em Vila Rica em 1806. Na carta que enviou a Xavier da Veiga, escreveu Arthur Campos: “Este poema, segundo informações fidedignas, foi remetido a meu bisavô, o Sr. Manuel Francisco Alves, que era oficial da Marinha Portuguesa e residia na sua fazenda da Serra da Boa Esperança, pertencente à freguesia do Curral del-Rei, município de Sabará, pelo Sr. Conde de Condeixa, que era seu amigo. Por falecimento do ofertado, o seu neto e meu tio, Sr. José Narciso Campos, que era homem muito dedicado à leitura e à política, guardou este poema, que eu, com o falecimento dele, encontrei entre muitos outros papéis de valor histórico. E lendo a importante monografia – A Imprensa em Minas Gerais –, do Sr. José Pedro Xavier da Veiga, vi que não se encontrava em parte alguma um exemplar deste poema e que era uma peça de alto valor histórico, resolvi oferecer-lhe este folheto. – Cidade de Sabará, 24 de dezembro de 1895. – Arthur Alves

No Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, Arthur Campos deixou marca de sua atuação e generosidade, não apenas como sócio ativo, como pela doação da coleção completa da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, um dos raros conjuntos inteiros existentes nas bibliotecas brasileiras. Na coleção de documentos antigos e selecionados do Instituto encontram-se diversos papéis de sua vida particular e política.

Por seus trabalhos de sócio, além de fundador, logo após sua morte em 1956 foi eleito Patrono do Instituto, sendo-lhe conferida a Cadeira n° 80, que o autor deste artigo, seu sobrinho-bisneto, bisneto de seu irmão Ignácio de Sousa Campos, ocupa, com muita honra, desde 1988. *

As pesquisas e os trabalhos históricos de Arthur Campos foram sempre oferecidos generosamente aos seus amigos historiadores. E citado como colaborador por Waldemar de Almeida Barbosa e Abílio Barreto, nas obras sobre Belo Horizonte, por Eduardo Canabrava Barreiros, sobre a bandeira de Fernão Dias Pais, e por Salomão de Vasconcellos, que, em sua companhia, percorreu o mesmo itinerário de Fernão Dias, com consta em “Bandeirismo” (Belo Horizonte, Edit. Oliveira Costa, 1942).

Como político, Arthur Campos dedicou a maior parte de seus esforços à cidade de Entre Rios, da qual se desligou apenas nos últimos anos de vida, quando passou a residir em Belo Horizonte. Além dessa dedicação a Entre Rios, foi muito ligado ao povoado de Vargem da Pantana, que tivera origem na fazenda do mesmo nome, limítrofe àquela em que nasceu e que e a atual cidade de Ibirité. A fazenda pertencera desde meados do século XIX ao reinol José Vieira de Souza (cf., Waldemar de Almeida Barbosa, “Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais”, Belo Horizonte, Itatiaia, 1995); a primeira capela foi construída em 1870, dedicada a Nossa Senhora das Graças.

Cerca de 1890, Arthur Campos, com apenas 22 anos de idade e residente na Fazenda da Boa Esperança, em Capela Nova do Betim, era Considerado elemento político de projeção no povoado; por instância sua junto ao círculo de João Pinheiro foi obtido o Decreto n° 88, de 2 de junho de 1890, criando o Distrito de Paz “no lugar denominado Vargem do Pântano”, embora as pessoas só se referissem à sua terra como Vargem da Pantana.

O novo Distrito de Paz, cujo primeiro juiz foi Arthur Campos, tornou-se o embrião do distrito municipal e futuro município de Ibirité. À época da criação do Distrito, o conselho distrital do Estado analisou vários nomes para o povoado, tendo sido mencionados os de “Ibiporanga” e mesmo o de “Arthur Campos”, por sugestão de Artur Lobo. Em 27 de junho de 1998 foi dado o nome de Arthur Campos ao fórum da Comarca de Ibirité, lembrando-se então ter sido ele a primeira autoridade judiciária da comunidade.