SENADOR LEVINDO COELHO

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 82

Por Luiz Carlos Abritta


Nasceu Levindo Eduardo Coelho em Catas Altas da Noruega, Minas Gerais, no dia 13 de outubro de 1871. Morreu na cidade de Ubá, em 06/06/1961, praticamente aos 90 anos de idade. Passou grande parte de sua infância em companhia de sua tia Custódia Coelho, residente em Ubá. Seus familiares logo observaram o amor do menino pelos livros, razão pela qual o encaminharam para Ouro Preto, especialmente recomendado ao Diretor do Colégio, Egídio Soares. Passou Levindo a trabalhar como empregado na casa do Diretor, dedicando-se intensamente aos estudos, pois, em troca do trabalho, Levindo obteve o direito de, como ouvinte, frequentar as aulas do Colégio e conquistar os preparatórios indispensáveis às exigências da época, a fim de ter acesso aos cursos superiores.

Já naquela fase da vida, Levindo, adolescente ainda, manifestava irresistível interesse pela língua inglesa. Aproximou-se de pequenas colônias de ingleses residentes em Ouro Preto e, pelo seu porte físico, era frequentemente confundido com os britânicos.

Aposentando-se o mestre Aurélio Pires, indicou para substituí-lo como titular da Cadeira de Inglês o jovem Levindo Coelho. Nesta altura, Levindo foi buscar em Catas Altas sua mãe viúva e suas quatro irmãs e, com muita luta, conseguiu que todas as últimas alcançassem o título de normalistas.

O jovem Professor fez vestibular na legendária Escola de Farmácia de Ouro Preto, logrando aprovação, mais tarde incorporando-se como Catedrático de Farmacologia no mesmo estabelecimento de ensino. Logo a seguir, matriculou-se no 2° ano da Faculdade de Medicina da Bahia, como permitia a legislação de ensino à época. Naquela faculdade, teve como companheiro Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas, o grande Carlos Chagas, de renome internacional, do qual se tornou amigo fraterno por toda a vida. Levindo terminou seu curso de Medicina no Rio de Janeiro, em 1902.

A esta altura, uma pergunta pode estar atormentando os pacientes leitores: como conseguiu Levindo Coelho sobreviver? Para manter-se como estudante no Rio, Levindo lecionava cinco meses em Ouro Preto nas férias. Desempenhava, também, papel semelhante ao de caixeiro-viajante, pois levava para a antiga Capital do Brasil os pedidos para várias casas comerciais de Ouro Preto, bem como efetuava os pagamentos das compras feitas.

Formado em Medicina, retornou a Ouro Preto, onde recebeu calorosa manifestação promovida pelos professores e pelo clero, com banda de música e discurso. Era o triunfo de um jovem humilde, que conquistara os títulos de Professor, Farmacêutico e Médico, superando todos os obstáculos.

Hélcio Levindo Coelho, filho de Levindo, em discurso pronunciado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, acentuou:

“Levindo Coelho foi prudente, prudentíssimo, vir prudens. Tinha as condições de estadista avisado, hábil, sagaz e, assim poderia governar, como governou, regendo a coisa pública, dirigindo partidos, falando nos conselhos com a autoridade adquirida na experiência dos homens e das coisas. Foi sábio. Sapientíssimo. Sapiens. Poderia ensinar, como ensinou, em cátedras brilhantes e no magistério humilde. Sob a força de intuições profundas, seria, como foi, sacerdote da medicina, teólogo e humanista. Foi justo, foi santo. Sanctus, dentro da noção de quem, obedecendo às leis divinas, para si próprio procurou a regra mais forte, a disciplina mais bela do mundo: a humildade”.

E mais adiante:

“Viessem à sua frente, como vieram, os grandes do mundo, e haveriam de encontrá-lo na posse perfeita das armas: o escudo rutilante da fé, a espada resplandecente da esperança e a inquebrantável couraça da caridade”.

Por sua vida exemplar, Levindo recebeu do Papa Pio XII a gloriosa Comenda de Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno.

Levindo sempre acalentou o sonho de exercer a Medicina e escolheu, para tal mister, a cidade de Ubá, onde morara durante parte de sua infância, enfrentando dificuldades de toda ordem, mas superando todas com galhardia. Ubá foi a Canaã da vida de Levindo Eduardo Coelho, na expressão exata de Hélcio Levindo Coelho. Ao lado da Canaã bíblica, a do livro homônimo de Graça Aranha registra no final uma expressão que se coaduna com a existência de Levindo: “Aquele que vive o Ideal contrai um empréstimo com a Eternidade...”.

Naquela cidade da Zona da Mata Mineira Levindo encontrou aquela que seria sua esposa, mãe de seus dezoito filhos: Antonina Gonçalves Coelho.

Prefeito de Ubá, Senador Estadual por 16 anos, primeiro titular da Pasta de Educação e Saúde do Estado de Minas Gerais no Governo Olegário Maciel, duas vezes Deputado Federal Constituinte, Chefe de poderosa corrente política.

Foi o Senador mais votado no Brasil, eleito pelo Partido Social Democrático. Nertan Macedo, em artigo publicado em “O Jornal”, do Rio, em novembro de 1954, sob o título “O Monge Levindo”, comenta os pronunciamentos do Senador no Congresso Nacional, observando: “Aos seus discursos cabe, no sentido exato, o designativo de orações. São, realmente, compostas com o pensamento no alto e ditas com fervor e humildade, como se balbuciadas diante dos altares”.

É famoso o discurso de Levindo proferido na sessão de 27 de novembro de 1951, em homenagem às vítimas sacrificadas na revolta comunista de 1935. Na sessão do Senado de 7 de julho de 1954 despede-se daquela Casa Legislativa e faz um veemente apelo pela união mineira e pela harmonia nacional. E, no discurso, uma advertência, sobre a qual devemos meditar, porque sua atualidade perdura:

“A nação sempre se beneficiou da presença atuante de Minas e esta é agora uma quase ausente no conjunto da Federação. Minas aí está como um valor relegado. Minas omite-se quando deve atuar e calas e quando seu pronunciamento muito valeria ou muito evitaria. É que lhe falta a consciência da unidade e ímpeto que só a coesão costuma imprimir”.

E assim termina seu pronunciamento:

“Volto à vida privada nas condições em que ingressei na vida pública há 40 anos. Com a sensível diferença que, naquela época, era eu um profissional liberal em plena atividade e, agora, um octogenário que se reservou apenas à sóbria aposentadoria de professor secundário”.

“Que o Brasil possa verificar e dizer que, em Minas, o civismo e a cordialidade acompanham as suas montanhas, na verticalidade e na altitude”.

Levindo deixou, do feliz casamento com D. Antonina Gonçalves Coelho, numerosa descendência, destacando-se o Dr. Levindo Ozanan Coelho, que foi Governador de Minas Gerais.

Estão vivos os filhos Maria de Loreto Coelho Toledo, Maria Helvécia Coelho Rocha, Dora Coelho Sachetto e Hélcio Levindo Coelho, este último Procurador de Justiça e ex-Presidente do Automóvel Clube, além de inúmeros netos e bisnetos.

Não só os políticos, mas todos nós, devemos nos mirar em Levindo Eduardo Coelho que, logo no início de suas anotações de “Minha Vida e Meus Atos” escreveu, com a sabedoria dos que se direcionam para as coisas do espírito:

“Não compreendo que o homem possa resistir aos contratempos, às contrariedades, aos obstáculos da vida, às tentações da natureza inclinada ao mal, sem o apoio da graça Divina, sem a proteção do Altíssimo, sem a esperança, a fé e a caridade”.

“Desde já quero que meus filhos fiquem sabendo: o sustentáculo que, até aqui, me tem amparado é a Fé na Providência Divina, esperança na vida melhor depois da morte e a caridade, o amor de Deus e dos homens apesar de suas fraquezas”.

“Desejando deixar meus filhos ao abrigo das necessidades mais urgentes, não ambiciono fortuna, riquezas, nem honrarias”.

Esse foi Levindo Eduardo Coelho, espírito pleno de luz.

Em seu túmulo, há uma inscrição que sempre foi o lema de sua vida:
FIAT VOLUNTAS DEI – Seja feita a vontade de Deus.

Esse foi Levindo Eduardo Coelho, espírito pleno de luz, que vivendo um IDEAL, contraiu um empréstimo com a ETERNIDADE.

Ele fez perpétuo seu pensamento, que sobrepaira sempiterno nos domínios do ABSOLUTO.