PROF. ÁLVARO ASTOLFO DA SILVEIRA

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 85

Por Edir Carvalho Tenório


INTRODUÇÃO

“O Estado de Minas Gerais constituiu-se pela força desbravadora de seu povo, ocupando e negociando conflitos, encontrando soluções duradouras para as suas fronteiras. Um ativo sentimento político, per si, tornou-se marcante, sobretudo quando das intervenções a então colônia, que procurava os caminhos de sua identidade, particularmente durante o Ciclo do Ouro. As posições marcadas e definidas de seus líderes tornaram-se doutrina na condução do direito do povo e do cidadão. Representantes do povo instrumentados pelo sólido dever do cuidado do bem público foi uma marca na formação desse Estado. O desempenho da função pública era um sagrado dever e destaque de merecimento, que dignificaram muitas vidas, hoje função pouco apreciada à vista de muitos. Este histórico personagem trilhou a boa política, tanto na vida pública como privada. Ele nunca exerceu cargos eletivos, mas sua vida deixou a marca de construtor da sociedade, nobreza de caráter pontuando como cidadão modelo na construção da sua comunidade”. (TENÓRIO, 2007)

ÁLVARO ASTOLFO DA SILVEIRA nasceu em Passos, nos “gerais” de Minas, no ano de 1867, de família ilustre e fecunda, como também continuaram sendo os seus descendentes. À época do seu nascimento, o Brasil estava no Segundo Reinado, em sua segunda fase, em pleno processo de formação da Tríplice Aliança, que iria combater o governo de Solano Lopez durante a guerra do Paraguai.

Com o fim da guerra do Paraguai, houve a ascensão de José Maria da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco, que realizou um trabalhado e bem sucedido processo de paz com a assinatura de vários tratados com os países vizinhos, época em que acudiu um acelerado movimento migratório. Em 1872, ocorria o primeiro recenseamento, e já em 1875, sob o gabinete de Caxias, a Escola de Minas era regulamentada, na província de Minas Gerais, enquanto o governo imperial fazia a organização do Museu, Biblioteca e Arquivo do Império, além das alfândegas e mesas de rendas.

Após a libertação dos escravos, estava Álvaro da Silveira formando-se em engenharia pela Escola de Minas de Ouro Preto. Já em 1892, exercia a função de engenheiro da “Estrada de Ferro Central do Brasil”. Trabalhou como geólogo, em 1894. Foi Chefe da Comissão Geográfica de Minas Gerais em 1895-1898; diretor da Imprensa Oficial em 1904-1907; chefe técnico da Diretoria de Agricultura de Minas gerais em 1907-1913 e sendo seu diretor de 1913-1921, e a partir de então, Diretor da comissão Geográfica e Geológica de Minas Gerais, até a sua aposentadoria em 1931. Foi um destacado Professor da Escola de Engenharia de Belo Horizonte, e um dos seus fundadores em 1912, onde deixou marca de trabalho e austeridade no cumprimento de duas obrigações. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e da Academia Mineira de Letras.

Ele foi muito prestigiado, sobretudo por que a ciência na época produzia um eflúvio de novos inventos, advindos do século XIX, trazendo mais conforto e vida mais amena, tais como o estetoscópio, o Corn Flakes, a dinamite (TNT) em 1866, cujo inventor foi o pacifista militante Alfred Berhard Nobel, que legou os recursos para a instituição do Prêmio Nobel. A luz elétrica ficou conhecida em 1878, seguida que foi pela descoberta do motor a explosão, trazendo o invento do automóvel. Alguns desses inventos provocaram medo em pessoas sugestionáveis e supersticiosas. As profecias apocalípticas comuns em todo final de século, carregaram um forte desconforto a população, sobretudo pelo medo, que imaginavam poderia causar às suas vidas, a passagem de cometas. Na Inglaterra o Prof. Erasmus Wilson, proclamava que a luz elétrica era um embuste trazido pela Exposição Internacional de Paris, zênite de sua espécie, a grande feira mundial do “fim de siécle” e da “belle époque”, suprema celebração dos milagres da eletricidade e da velocidade, que vendeu ao mundo um futuro onírico, pleno de abundancia, paz, alegrias ilusões.

O Brasil vivia desde o Império a fantasia da “belle époque”, uma falsa idade de ouro, somente bela para a classe privilegiada. Quem podia esconder os abismos de miséria que ainda eram encontrados em Paris? Imaginem capitais de outros países do mundo.

A República foi a grande motivação para nos livrar da letargia da monarquia.

Enquanto isso, Álvaro da Silveira, concomitante com os cargos públicos que ocupara, nunca deixou à margem, o trabalho intelectual, publicando várias obras como: A morte do Major (1904); Tremores de terra de Bom Sucesso (1906); Flora e Serra Mineira (1908); Tabelas Estadimétricas (1912); O consultor agrícola (1913 e em 1918), Arborização de Belo Horizonte (1914); O naturalista Conceição Vellozo (1916); Os limites de Minas com São Paulo (191 7); Memórias Geográficas (2 vols., 1924); Topografia (1927); Geografia do Estado de Minas Gerais (1929); Floraria Montium (vol. 1 em 1929, vol. 2 em 1931) e Mineralogia, em 1933.

Pelo exame acurado de sua obra conclui-se, que, dedicou-se particularmente a Botânica, ciência maior à época, como especialista que foi da família Eriocaulácea (muitas das nossas sempre-vivas), chegando a nomear filhos com nomes de gêneros, como Anemia e Asplênio, em direta correlação com dois gêneros de Pteridófitas (avencas), além da filha mais nova, Andira, gênero da família Leguminosa. Asanira, filha sua, suponho, ter recebido seu nome em homenagem a Asa Gray, conhecido botânico, seu contemporâneo, professor emérito da Universidade de Harvard, USA.

Seus dotes literários devem ser ressaltados, pelo uso da linguagem escorreita que usava em suas obras. Simples, enérgico professor, de trato fácil, eficiente, competente engenheiro que em todas as ocasiões em que foi convidado a mostrar suas habilidades elevou altaneiramente o nome da engenharia. Entrementes, foi ferido pelo acúleo perfumado da estética e desafiadora Botânica, a mais bela das ciências da natureza.

“O Estado de Minas”, em 1967, relembrou o centenário de nascimento de Álvaro Astolfo da Silveira, citando-o como botânico, geólogo e naturalista; um dos mais completos sábios de Minas Gerais. Continua dizendo: “criatura simples, modesta, amena, igualmente um modelo de dignidade humana, um espírito de quase bravia independência”. Morreu em 1945, sendo sepultado com muita honra e grande acompanhamento.


 

Foto: Arquivo Público Mineiro