BASÍLIO DE MAGALHÃES

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 87

Por Maria Conceição Antunes Parreiras Abritta


Basílio de Magalhães nasceu na cidade de Barroso, Minas Gerais, próxima à histórica cidade de São João Del Rei, no dia 7 de junho de 1874.

Foi um grande historiador, jornalista, professor e poliglota. Falava, fluentemente, português, espanhol, francês, italiano, inglês, alemão, latim, grego, tupi-guarani, além de conhecimento em árabe, húngaro e romeno.

Realizou seus primeiros estudos na sua cidade natal e graduou-se, mais tarde, pela Escola de Minas de Ouro Preto. Seguiu para São Paulo, a fim de cursar a Faculdade de Direito, mas limitou-se a trabalhar como jornalista e professor, obtendo mais tarde provisão do Tribunal de Justiça, para advogar no foro de Campinas – São Paulo.

Foi membro do Conselho Municipal de Campinas, Presidente da Câmara e agente executivo de São João Del Rei. Foi Senador mineiro de 1922 a 1923 e Deputado Federal de 1924 a 1929.

Desde 1930, dedicou-se, exclusivamente, ao ensino e à pesquisa histórica. Foi professor de História do Brasil do Ginásio de Campinas, da Escola Normal (depois Instituto de Educação) do Rio de Janeiro, do Colégio Pedro II e Diretor-Geral interino da Biblioteca Nacional, também no Rio de Janeiro, de 1917 a 1919.

Basílio de Magalhães foi uma das figuras mais respeitáveis de nossa história literária e política.

Basílio, ainda vivo, chegou a merecer uma biografia da autoria de Tancredo de Barros Paiva, editada em 1930. Escreveram sobre ele inúmeros artigos e notícias elogiosas na imprensa nacional. Em sua “História da Literatura Mineira”, o Desembargador Martins de Oliveira dedicou-lhe longa citação.

Basílio de Magalhães foi um dos primeiros a estudar o folclore nacional, deu-lhe profundeza e significação erudita.

Participou ativamente da campanha civilista, preconizando a candidatura de Rui Barbosa à Presidência da República.

Foi um profundo conhecedor da obra de Augusto Comte, cuja filosofia adotou sempre.

Era membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, onde se empossou em 1914. Pertencia a várias Instituições Históricas estaduais e estrangeiras.

Sua biografia é extensa, tendo escrito livros didáticos de História e Geografia, preparado edições de obras inéditas e raras como: “História da Independência do Brasil” – de Varnhagen, em 1917, 2ª edição em 1940; a “Efemérides Brasileiras do Barão do Rio Branco”, em 1918, mais tarde, em 1938. “Folk-lore no Brasil”, em 1928. “História do Brasil” – de H. Handelmann, em 1931 e a “Circular de Teófilo Otoni”, em 1916. Seus livros mais importantes, resultantes de muitas pesquisas, são: “A Expansão Geográfica do Brasil até o fim do Século XVII” – a 1ª edição saiu em 1915. “O Café na História, no folclore e nas Belas-Artes”, em 1937. A colaboração na Revista do Instituto Histórico e Geográfico é também notável: “Os Jornalistas da Independência” em 1917 e “Teófilo Otoni” em 1945. O seu compêndio “Lições Geográficas” foi adotado em São Paulo, como obra didática obrigatória.

Jornalista, desde os primeiros anos em São João Del Rei, colaborou em inúmeros jornais do país. Professor, laureado em vitoriosos concursos, pontificou na cátedra, em Campinas, e noutros estabelecimentos paulistas.

No momento em que se fala tanto sobre o problema do menor abandonado, forçoso é lembrar que Basílio de Magalhães foi pioneiro nesse setor, como se pode ver nos anais do Senado Mineiro, em 1923, quando defendeu o amparo à criança sem família, afirmando em longo discurso, o seguinte: “Podíamos ainda definir com segurança, que toda criança anômala é um delinquente in flori. Logo, a obrigação capital do Estado é fazer o triage, e cuidar desses seres infelizes, é ampará-lo desde logo, para que não projetem no meio social o seu instinto criminoso”.

Pela mesma época, Basílio defendia a preservação de nossas reservas minerais, pois uma tônica de sua formação era o seu exaltado nacionalismo.

Pioneiro em muitos aspectos é preciso lembrar que Basílio de Magalhães foi um dos primeiros defensores dos direitos da mulher, numa época em que pouco se falava do assunto.

Basílio de Magalhães de há muito vinha se dedicando aos estudos do populário nacional que ele conhecia a fundo, como o comprova sua vasta obra reunida em livros ou dispersa em jornais e revistas. Seu livro mais conhecido nesse setor cultural é, sem dúvida, “O Folclore no Brasil” (Rio de Janeiro, 1939), no qual publicando uma coleção de contos populares organizada por João da Silva Campos, lhe acrescenta inúmeras notas de marcante erudição, além do esboço histórico dos estudos do folclore em nosso país. Esse livro constitui, também, a primeira tentativa séria na divulgação da bibliografia folclórica brasileira, reunindo ali o maior rol de fontes nacionais em tal sentido.

Outra obra de Basílio de Magalhães é a que ele escreveu para a Coleção Brasiliana da Companhia Editora Nacional (5ª série, volume 171), “O Café na História, no Folclore e nas Belas-Artes”. Na terceira parte desse interessante livro, estuda o consagrado autor: O café no lendário oriental, no lendário ocidental, no lendário americano e no lendário brasileiro. Este último capítulo compreende: Lendas de fundo histórico, Lendas políticas, o Café na medicina e nas superstições, o Café na poesia popular e o Café no anedotário brasileiro.

Nas páginas da antiga revista Cultura Política, divulgou Basílio de Magalhães, na seção “O povo brasileiro através do folclore”, inumeráveis artigos, estudos e ensaios, focalizando vários aspectos do populário nacional: lendas e mitos, poesia e música do povo, coreografia folclórica, folclore místico-religioso, festas e folguedos populares, folclore do negro, folclore geográfico-econômico e folclore poético-político – páginas que valorizavam sempre aquela revista.

Mas, não apenas na seara do folclore era senhor e mestre Basílio de Magalhães.

Poliglota emérito, investigador, paciente e sábio de outros setores de nossa cultura dedicou ele muito de sua inteligência e do seu tempo aos assuntos geográficos e históricos, tendo publicado, na Coleção Brasiliana, Expansão Geográfica do Brasil Colonial, Estudos da História do Brasil e História do Comércio, Indústria e Agricultura.

Tal foi a importância que a crítica atribuiu ao primeiro desses livros, que, mais tarde, esgotada a edição, dela tirou outra, corrigida e ampliada, a Editora Enasa do Rio de Janeiro (1944), incluindo-a como volume V da Biblioteca Brasileira de Cultura.

A Basílio de Magalhães já havia sido conferida a direção dessa biblioteca, tendo ele apresentado e anotado os livros Viagem na América Meridional, de Condamine, Villegagnon, de M.T. Alves Nogueira, e Uma Festa Brasileira, de Ferdinand Denis.

Este o polígrafo que o Brasil perdeu, desfalcando-se, com o seu desaparecimento, os estudos históricos e demológicos de um dos seus mais cultos e eminentes mestres.

Basílio de Magalhães faleceu na cidade de Lambari-MG em 1957, aos 83 anos de idade. E nós, mineiros, nos orgulhamos de ter sido ele nosso coestaduano.

HINO A BASÍLIO DE MAGALHÃES

Salve a escola Basílio de Magalhães
Seu passado é glorioso, seu futuro promissor
O presente iluminado com grandeza e fulgor.

És o gigante adormecido, que ao despertar do dia
Brilha mais que uma flor
Alunos e professores se reúnem com amor.

Iluminada pela luz divina
A nossa escola é a que mais brilha

REFRÃO

Que todos sonhem e os sonhos
Durem toda a vida.

Quando longe estiver de ti com saudade irei lembrar
E por mais que eu segure
Lágrimas no rosto vão rolar.

O saber não ocupa espaço
Neste mundo de turbulência
Pois contigo aprendi sabedoria e paciência.

És o adorno desta cidade lapidado com amor
Os professores são como um bálsamo
Que tiram dos livros como tudo começou

Oh meu gigante querido
Neste filme da vida, és o artista preferido
Implacável com a ignorância em todos os sentidos.

(Música e letra de Mário de Carvalho, apresentado em Barroso pelos alunos da escola, por ocasião do cinquentenário do falecimento de Basílio de Magalhães, quando seus netos foram agraciados com o título de cidadãos honorários pela Câmara Municipal de Barroso.)