BARÃO DE ESCHWEGE

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 94

Por José Sílvio Resende


“Poucos homens terão feito por Minas e pelo Brasil, em toda a sua vida, mais que o Barão de Eschwege que esteve entre nós, por dez anos, de 1811 a 1821” –
in Barão de Eschwege, Waldemar de Almeida Barbosa.

Guilherme Luis, Barão de Eschwege, nasceu em 15 de novembro de 1777, na cidade de Eschwege, Grão-Ducado de Hesse, hoje um estado da Alemanha, com área equivalente a nosso estado de Sergipe.

Formou-se em engenharia e logo recebeu carta do ministro Waitz, propondo-lhe cargo oficial em Portugal. Com grande vocação para o trabalho no campo, viu no convite a oportunidade de aumentar seus conhecimentos e, com isso, dar início seguro às atividades campestres. Assim, foi contratado em 1802, para o cargo de Diretor das Minas de Portugal, para onde viajou no ano seguinte. Em 1807, nomeado Capitão efetivo da Companhia de Mineiros do 1° Regimento de Artilharia, passou a fazer parte do exército português.

Devido à invasão daquele país pelas tropas francesas, a família real transferiu-se para o Brasil. Com a saída da nobreza, Portugal se viu entregue à direção do inglês William Carr Beresford, nomeado generalíssimo do exército português. Eschwege lutou bravamente em defesa do país. Mesmo assim, o Barão não conseguiu entrosamento com o Comando Geral vigente na época, pois enquanto ele desejava dedicar-se exclusivamente às funções de mineralogista e metalurgista, o General queria vê-lo enquadrado na tropa belicosa. Pouco tempo depois, com autorização de Dom João VI, o Barão partiu para a colônia em 1810 e, no Rio de Janeiro, foi nomeado Sargento-Mor Efetivo do Corpo de Engenheiros. Também foi nomeado Diretor do Real Gabinete de Mineralogia e Lente da Academia Militar, cargo que não aceitou, pois sua vocação estava decididamente voltada para os trabalhos do campo.

Pelo Aviso de 20 de abril de 1811, foi mandado para Minas Gerais e, em 20 de julho daquele ano, iniciou sua viagem com destino a Vila Rica, onde chegou em 11 de agosto, após 23 dias de estafante jornada. Nessa viagem, depois de passar pelo Engenho da Cebola, chegou à fazenda chamada Manuel José. Aí viu, pela primeira vez, um monjolo a trabalhar. Admirou a simplicidade e eficiência daquele invento, que os portugueses trouxeram da Índia, e disse: “Aqui avistei o tão simples moinho chamado monjolo ou preguiça, que pela sua simplicidade, faz honra a seu fundador”

Apresentou-se logo ao Conde de Palma, Governador da Capitania, portando várias recomendações encaminhadas pelo Conde Linhares ao Ministério das Minas. Muito observador, percebeu logo que sua repartição era um tanto emperrada, embaraçada, as coisas não se desenvolviam com presteza. Por isso, com galhofa, fez a descrição de seus superiores no Ministério: ele – o Ministério – é coordenado por três homens que são um verdadeiro relógio – o primeiro (o Conde Linhares) está sempre adiantado; o segundo, sempre atrasado e o terceiro completamente parado. Era, na verdade, um péssimo relógio.

O Barão, de acordo com as recomendações que lhe dera o Conde Linhares, por ocasião de sua vinda para Vila Rica, deveria executar as seguintes atividades:
- Realizar pesquisas relacionadas à mineralogia;
- Instruir os mineiros no aprimoramento dos métodos de mineração, notadamente do ouro;

- Realizar estudos sobre a navegabilidade do Rio Doce;
- Trabalhar na pacificação dos índios Botocudos;
- Explorar as minas de chumbo do Abaeté;
- Instalar fábricas de ferro;
- Fazer observações físicas e meteorológicas e etc.

É interessante que, no final de tantas citações, como se fossem poucas, há ainda o etc. Também, muito interessante é o fato de que o Barão, além de realizar todas as recomendações, tenha executado inúmeras outras atividades que lhe vieram a propiciar cognominações como “o Pai da Geologia Brasileira, o Patriarca da Geologia do Brasil, o Protogeólogo do Brasil, o Fundador da Geologia do Brasil” e outras.

Além de cumprir todas as determinações que lhe foram dadas, foi o autor que mais escreveu sobre Minas Gerais e o Brasil, naquele século, deixando registros de seus estudos sobre a platina, o chumbo, o estanho, o bismuto, o cobalto, o cobre, o manganês, o zinco, a grafita, o cinabre, a prata, e o asfalto – esse encontrado no Serro Frio.

Também, o Barão foi um dos que mais viajaram pela Província de Minas Gerais. Ele e outros autores, como Saint-Hilaire, descrevem essas viagens.

A obra escrita do Barão é imensa. Nela, além dos elementos estudados e já mencionados, encontramos importantes citações sobre salitre, sal de cozinha, águas minerais, alúmen, carvão de pedra, enxofre nativo e, por fim, o ferro. Este, então, tem uma descrição extensa, começando pela sua história. Um belo trabalho.

Seus livros foram escritos em alemão, mas quase todos têm tradução para o português. Mesmo após sua volta para a Europa, escreveu vários trabalhos sobre o Brasil, notadamente sobre Minas Gerais. São livros ou trabalhos seus:
“Diário de uma viagem do Rio de Janeiro a Vila Rica, na Capitania de Minas Gerais (1811)”; “Poços artesianos, Lisboa”; “Ocorrência do arenito elástico no Brasil (1818 )”; “Notícias Físicas e Mineralógicas do Brasil (1818)”; “Observações geognósticas sobre uma parte da Capitania de São Paulo (1822)”; “Algumas observações barométricas e geognósticas feitas na Capitania de Minas Gerais (1819); “Extrato de uma memória sobre a decadência das minas de ouro da Capitania de Minas Gerais e sobre vários objetos montanhísticos (1813)”; “Diário do Brasil -(1818)”; “Contribuição para a geognóstica do Brasil – Estudos geológicos”; “Contribuição para a orografia do Brasil” é uma ampliação do livro “Pluto Brasiliensis”. Suas principais obras são “Brasil, Novo Mundo” e “Pluto Brasiliensis”. Neste, o autor estuda as matas, as serras, os rios, as águas minerais, suas viagem, as fazendas, o gado, os fatos, suas novas amizades. Destes “Pluto Brasiliensis” e “Brasil, Novo Mundo”, foram retirados capítulos, que constituíram outros livros. Alista acima não está completa, faltam livros escritos fora do Brasil, na Europa.

Saint-Hilaire em seu livro “Viagem às Nascentes do Rio São Francisco” cita várias observações de Eschwege relativas aos rios, montanhas e outros acidentes geográficos do Sertão da Farinha Podre (hoje, Triangulo Mineiro) e da região de Paracatu. Vejamos alguns exemplos: Ao descrever a cachoeira, diz Saint-Hilaire:
“Depois de uma caminhada extremamente penosa, alcançamos o pé da Cachoeira da Casca d’Anta. Não a medi, mas de acordo com o cálculo provavelmente bastante preciso de Eschwege, ela deve ter uns 203 metros, aproximadamente”.

Outra citação: “A subdivisão da província, segundo Eschwege, mede 3.888 léguas quadradas, as quais tinham em 1821, uma população de 21.772 habitantes”. Nova observação: “Depois da Serra da Canastra e na direção sul-norte, vem sucessivamente, segundo Eschwege, as Serras do Urubu, da Marcela, de Indaiá e de Abaeté”. Eschwege diz que o segmento da cadeia formado por essas cinco serras se estende na direção da margem esquerda do São Francisco e o atravessa, formando a Cachoeira de Pirapora, indo depois unir-se à Serra do Espinhaço, em Minas Novas.

Em viagem ao Sertão da Farinha Podre, ao chegar a Pompéu, dirig iu-se à Fazenda do Pompéu, com área de cento e cinquenta léguas quadradas, de propriedade da viúva D. Joaquina da Silva Oliveira Castelo Branco (D. Joaquina do Pompeu) que o recebeu muitíssimo bem e ainda colocou seus escravos a serviço do Barão para a viagem e transposição do São Francisco, para atingir Abaeté, local da mineração de chumbo (galena).

Também esteve no Desemboque e Araxá, onde estudou suas águas minerais. A respeito delas escreveu: “Tem o cheiro de gás sulfídrico, mesmo em distância maior da fonte. De 50 libras desta água, que pus a evaporar ao fogo, retirei mais de meia libra, que fiz analisar pelo amigo Frei Leandro do Sacramento, no Rio de Janeiro. Após os estudos, ele afirmou: ‘É carbonato de potássio, encontra-se nesse estado em combinação com o enxofre (sulfureto de enxofre)’. Então afirma o Barão: “Esta análise e minha observação do local provam que as águas são sulfurosas”.

Na viagem adquiriu grande fazenda na região, onde se encontra hoje a cidade de patrocínio.

Em 1809, o Intendente Câmara deu início à construção, no Arraial do Tijuco, da fábrica de ferro do Morro de Gaspar Soares e, em 1810, foi construída a Fábrica de Ferro de São João do Ipanema, em São Paulo. As referidas construções resultaram em completo fracasso. Foi quando Eschwege, depois de estudar minuciosamente várias regiões do estado e optado pela localidade de Congonhas do Campo, para erigir sua fábrica, e já conhecendo o mau êxito dos empreendimentos anteriores, foi incisivo ao escrever:

“Veio-me então a idéia de passar à frente daqueles dois senhores e alcançar a honra de ter sido o primeiro, no Brasil, a produzir ferro em escala industrial”. Sua fábrica, em Congonhas do Campo, começou a produzir ferro, em 17 de dezembro de 1812 e, como disse, em carta de 8 de setembro de 1813, “nunca mais parou”.

O Barão conhecia sua profissão. Sua fábrica de ferro foi um grande sucesso e sua mineração no Abaeté obteve expressiva quantidade de galena. Voltando para a Europa, casou-se com sua patrícia e faleceu em Wolsange, Alemanha, em lº de fevereiro de 1855.