ANTÔNIO OLYNTHO DOS SANTOS PIRES

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 95

Por Regina Almeida


Dr. Antônio Olyntho, descendente de importante cepa mineira, nasceu na gloriosa cidade do Serro, berço de tantos mineiros ilustres, no dia 15 de dezembro de 1860.

Seu pai, o magistrado Aurélio S. Pires de Figueiredo Camargo, foi Juiz de
Direito no Serro, em Formiga, Curvelo, Pará de Minas, Sete Lagoas, Diamantina e Ouro Preto. Nesta cidade, aposentou-se como desembargador, em 1891. Sua mãe, D. Josefina dos Santos Pires, era filha de Josefino Vieira Machado, Barão de Guaicuí.

Antônio Olyntho casou-se com D. Maria Silvana dos Santos, irmã do jurisconsulto Joaquim Felício dos Santos e do primeiro bispo de Diamantina, Dom João Antônio dos Santos.

Dr. Antônio Olyntho era irmão de Aurélio Egydio dos Santos Pires, conhecido professor e diretor da Escola Normal de Belo Horizonte e que, entre outros cargos de relevo, foi professor de Farmacologia da Faculdade de Medicina, de Belo Horizonte, diretor do Arquivo Público Mineiro e distinguido presidente deste Instituto.

O jovem Antônio Olyntho iniciou seus estudos no Seminário de Diamantina, onde bebeu nas fontes do humanismo. Daí, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde, após concluir Humanidades, ingressou na Escola Politécnica, vindo, mais tarde, para a Escola de Minas de Ouro Preto, e aí se formou em 1882, como engenheiro de Minas.

O brilhantismo com que realizou e concluiu seus estudos fê-lo digno de missões importantes, das quais se desincumbiu com seriedade e competência notáveis, revelando-se um pesquisador de elevado conhecimento técnico, orientado por espírito de grande rigor científico e de alta sensibilidade, demonstrando, gosto pelo pormenor concreto e extraordinário poder de síntese. Escrevia muito bem.

Dr. Antônio Olyntho foi, sem dúvida, um cientista literato. Em 1884, depois desse bem sucedido empreendimento, tornou-se professor interino da Escola de Minas de Ouro Preto, efetivando-se, por concurso, em 1888, na cadeira de Agrimensura, Topografia e Cosmografia, que regeu até jubilar-se, em 1914. Seus contemporâneos, ex-alunos e ex-companheiros de magistério, dão testemunho de sua competência profissional e de sua exemplar dedicação à pesquisa e à docência.

Dr. Antônio Olyntho foi um professor que honrou a cátedra!

Se cedo entregou-se a atividades profissionais de alta responsabilidade, cedo, também, deixou-se atrair por elevados ideais políticos. Espírito liberal, sensível às grandes causas, tornou-se um dos próceres da propaganda abolicionista e republicana, ao lado de outros jovens idealistas, como seu conterrâneo João Pinheiro da Silva.

Com atuação destacada dentro de Partido Republicano que ajudou a fundar, juntamente com João Pinheiro, criou o jornal “O MOVIMENTO”, órgão destinado à divulgação dos ideais republicanos e da ideologia do regime democrático. Eleito para a Comissão do Estatuto do Partido e, juntamente com outros nomes famosos, assina a seguinte declaração:

“Nós, abaixo-assinados, residentes nesta cidade de Ouro Preto, declaramos aderir ao convite para a organização do Partido Republicano no primeiro distrito, assumindo toda a responsabilidade e aceitando todos os deveres, sem restrição, que sejam consequências de nossa declaração de republicanos.
Ouro Preto, 03 de junho de 1888”.

Segue-se uma lista de trinta e uma assinaturas de ilustres cidadãos que a memória histórica de Minas registra com apreço.

O fato revela a coragem, o compromisso e a responsabilidade do jovem que ainda não completara 28 anos, bem como sua liderança, sendo o primeiro a apor sua assinatura no documento, seguido por João Pinheiro e demais companheiros.

Dr. Antônio Olyntho foi um jovem engajado nas grandes causas de seu tempo e a elas dedicou o vigor e o entusiasmo de sua juventude.

Em 15 de novembro de 1889, com a proclamação de República é designado Presidente provisório da Província de Minas Gerais, o Dr. José Cezário de Faria Alvim, que não assumiu de pronto o poder. O Ministro do Interior do Governo Provisório, Dr. Aristides da Silveira Lobo, diante do fato e da fragilidade constitucional do momento, cuidou de tomar, rapidamente, medidas de segurança para a consolidação do novo regime. Enviou do Rio, no dia 16 de novembro, em trem especial, mensageiro qualificado – Dr. Antônio Felício dos Santos – com ofício destinado ao Dr. Antônio Olyntho, no qual o mandava assumir provisoriamente, em substituição ao Dr. Cezário Alvim, o governo da Província.

Ordens dadas e conhecidas, ordens cumpridas. A 17 de novembro de 1889, Dr. Antônio Olyntho recebeu o governo de Minas das mãos do último presidente do período imperial, Dr. João Baptista dos Santos, Visconde de Ibituruna, tornando-se, assim, o primeiro presidente de Minas no regime republicano. Nessa condição, comandou a Província de 17 a 25 de novembro, quando então passou o governo ao Dr. José Cezáriode Faria Alvim.

Com prudência, discrição, serenidade, governou a primeira semana, trabalhando habilmente na consolidação do regime, sem qualquer ostentação, exibição de poder ou de força, muito embora, de uma e de outra estivesse em plena posse. Testemunha isto o fato de nenhum decreto ter sido por ele assinado nesse período.

Dr. Antônio Olyntho dos Santos Pires soube ser um político digno de minas! Eleito Deputado Federal Constituinte para a 1ªe 2ª legislaturas, deu a sua colaboração como legislador, de 1891 a 1894, quando, convocado pelo Presidente Prudente de Morais, assumiu o Ministério da Viação, Indústria e Obras Públicas até de 1896.

Cumprida a missão no Ministério, retornou à cátedra em Ouro Preto, mas, de novo, foi convocado pelo Governo Federal para integrar a Missão Brasileira à Exposição Universal de Saint Louis (Missouri, USA).

Em 1907, foi chamado para comandar a Superintendência dos Estudos e Obras contra as Secas no Ceará.

Em 1908, tornou-se Presidente do Diretório Executivo da Exposição Nacional Comemorativa do Centenário de Abertura dos Portos do Brasil ao Comércio Internacional.

Em 1909/1910, foi o Diretor Geral do Telégrafo Nacional e, em 1910, foi o presidente da delegação brasileira ao Congresso Ferroviário Sul-Americano, em Buenos Aires.

Aposentado em 1914, continuou trabalhando. Em 1922, tomou-se Vice-Presidente da Comissão Organizadora da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil. Foi ainda presidente do Instituto Politécnico Brasileiro e, em 1923, representou o Brasil na posse do Presidente José Serrate, do Uruguai.

Dr. Antônio Olyntho serviu à pátria, nas mais diferenciadas circunstâncias e foi sempre representante digno e honrado do povo e do governo brasileiro!

Em 10 de janeiro de 1925, doente e enfraquecido, retornou a Belo Horizonte, onde faleceu no dia 25 de fevereiro de 1925.

Dr. Antônio Olyntho dos Santos Pires teve vida laboriosa, cheia de realizações que tanto enriqueceram sua própria existência como a existência de outros – familiares, alunos e companheiros de trabalho – que com ele, com a sua competência, honradez e dignidade muito aprenderam, quer no exercício do magistério, quer nos trabalhos de pesquisa, nas lides jornalísticas e políticas, quer ainda nos cargos administrativos ou representativos. Foi um grande engenheiro de minas; foi jornalista, ardoroso defensor das idéias liberais e democráticas; foi deputado federal, digno representante dos interesses do povo brasileiro; foi administrador público austero, comprometido com os elevados objetivos dos inúmeros altos cargos que assumiu; foi historiador, escritor, manejando a pena com elegância, estilo e erudição; foi governador de Minas – o primeiro do período republicano – com exemplar discrição e serenidade.

Dr. Antônio Olyntho foi um homem na acepção mais elevada do termo. Homem de múltiplas facetas, porque de múltiplas competências e virtudes.

Ele se pôs por inteiro em tudo quanto fez. Foi todo em cada cargo que exerceu, em cada missão que desempenhou, em cada ato que praticou. Não se omitiu, nem se acovardou; não negou princípios e convicções; não exagerou interesses, nem ambições. Elevou-se no conceito dos contemporâneos e dos pósteros. Por isso, alto vive entre nós, merecendo nossa saudade e nosso respeito.