AFONSO D’ESCRAGNOLLE TAUNAY

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 97

Por Geraldo Dirceu de Oliveira


Afonso d’Escragnolle Taunay nasceu em Nossa Senhora do Desterro, em 11 de julho de 1876 e faleceu, em São Paulo, em 20 de março de 1958. Foi biógrafo, historiador, ensaísta, lexicógrafo, romancista e professor.

Afonso Taunay nasceu no Palácio sede do Governo de Santa Catarina, na antiga Vila do Desterro, atual Florianópolis. Era filho do então Presidente da Província de Santa Catarina, Alfredo d’Escragnolle Taunay e de Cristina Teixeira Leite, visconde e viscondessa de Taunay. Era neto materno do barão de Vassouras e bisneto do barão de Itambé.

Foram seus avós paternos o Comendador Felix Emilio Taunay e Gabriela d’Escragnolle Taunay. Seu avô era filho do célebre pintor da Escola Francesa e membro do Instituto da França, Nicolas Antoine Taunay, e sua avó era filha do Conde e Condessa d’Esgragnolle, nascida Beaurepaire, filha do Conde Beaurepaire.

Afonso Taunay possuía origem aristocrática, com relevantes características – todos os Taunay e Beaurepaire, na França, Portugal e Brasil, sempre, foram fiéis aos seus reis. Seu pai, o Visconde Taunay, era oficial-general de nosso Exército Imperial. Após a proclamação da Republica, nunca mais vestiu seu uniforme, para não trocar os botões dourados do Império. A vinda de seus antepassados para o Brasil foi devida à Revolução Francesa e às vicissitudes do Império Napoleônico, que dispersaram franceses por todo o mundo.

Vejamos um pouco mais sobre seus ilustres antepassados:

Seu bisavô, Nicolas Antoine Taunay, grande pintor, foi membro fundador do Instituto de França. Recebeu a apreciação de Napoleão e Josefina e deixou várias telas, celebrando os feitos e fatos do Império Napoleônico, havendo várias delas, em Versailles.

Após a queda de Napoleão, Nicolas Antoine Taunay sofreu perseguições na França e aceitou o convite de Lebreton para fazer parte da “missão artística francesa”, que veio para o Brasil. Aqui participou da fundação da Escola de Belas Artes, em 1816.

Desde 1808, viviam, no Rio de Janeiro, os Beaurepaire, vindos com a corte de D. João VI.

Alfredo d’Escragnolle Taunay, seu pai, um dos maiores vultos de nossa História, ainda jovem, como tenente de Engenharia e Artilharia do Exercito Imperial Brasileiro, participou da guerra do Paraguai e nos deixou narrada a epopéia “A Retirada de Laguna”, livro escrito, originalmente, em francês e, mais tarde, traduzido por seu filho Afonso, para o português. O livro narra, com perfeição militar, as agruras dos combates e as estratégias da retirada, quando o Exército Brasileiro cedeu terreno ao inimigo paraguaio, mas não perdeu batalhas e conservou o poder de fogo, suas bandeiras e seus canhões.

Formou-se em Engenharia Civil pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1900. Atuou como professor na Escola Politécnica de São Paulo, no período de 1904 a 1910. Foi diretor do Museu Paulista (conhecido como Museu do Ipiranga), entre 1917 e 1939. Reorganizou a Biblioteca e o Arquivo do Ministério das Relações Exteriores, em 1930. De 1934 a 1937, atuou como professor na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo.

Sua atuação no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, na Academia Paulista de Letras, na Academia Portuguesa de História e como correspondente de Institutos Históricos estaduais, possibilitou a Afonso Taunay grande dedicação aos estudos historiográficos, especialmente ao bandeirismo paulista, ao período colonial brasileiro e à literatura, ciência e arte do Brasil. Teve destaque também como lexicógrafo, especializando-se, sobretudo, na terminologia científica.

Casou-se, em São Paulo, com D. Sara de Souza Queiroz, da tradicional família paulista, Souza Queiroz. Tiveram quatro filhos. Afonso herdou de seu venerável pai, de quem era profundo admirador, o dom de escrever.

Estreou na literatura com o romance histórico Leonor de Ávila.

Incentivado por Capistrano de Abreu, seu ex-professor, dedica-se aos estudos históricos, e ainda realizou importantes estudos da língua portuguesa, no campo da lexicografia. Deixou vasta obra literária.

Sua obra prima, é um épico, sobre os desbravadores de nossa terra “A História Geral das Bandeiras Paulistas”, em 7 volumes.

Esta obra, iniciada em 1923 e concluída em 1930, é a história dos grandes desbravadores e posseiros do Brasil infante. Teve a meticulosidade de pesquisar em arquivos brasileiros, espanhóis e portugueses e cada edição foi prefaciada, em um local diferente, por onde passaram os bandeirantes.

Ele ofereceu ao Presidente Washington Luiz o Tomo I. O Presidente era seu grande amigo e, também, historiador. Foi ele quem incentivou as pesquisas e textos sobre as bandeiras, com apoio de seu governo. Afonso Taunay inicia seu livro, citando textos de Saint-Hilaire e Sautney. Diz Saint-Hilaire:

“Por experiência própria se sabe quanta fadiga e quantos perigos, ainda hoje, esperam o viajante que se aventura nestas regiões longínquas. Quando se conhecem os pormenores das jornadas intermináveis de antigos paulistas, fica-se estupefato e levado a crer que estes homens pertenciam a uma raça de gigantes”.

Diz Sautney:

“Entretanto crescia uma raça de homens, ferozes e intratáveis, mas que com a mistura do sangue indígena, adquiriram uma atividade constitucional e incansável. Ao contrario dos Espanhóis, continuaram os Brasileiros, por dois séculos, a explorar o país, pelos tempos afora, procurando ouro, prata e escravos indígenas. E, afinal, lograram assegurar-se a si e à Casa de Bragança as mais ricas minas, a maior extensão da América do Sul, de toda a terra habitável, a região mais formosa”.

Cita as pesquisas do Presidente Washington Luiz, a quem coube definir as características do maior dos bandeirantes, Antonio Raposo Tavares, de quem, até 1920, desconhecia-se o nome exato; analisa as pesquisas e textos de Toledo Piza, Eduardo Prado, Derby e Teodoro Sampaio e a grande obra de Capistrano de Abreu.

Considera como importantes para o estudo das bandeiras de São Paulo o livro “As Minas do Brasil e sua Legislação”, de Calógeras e a “História Antiga de Minas Gerais”, do nosso imortal Diogo de Vasconcelos.

Pois bem, se elogiou esses grandes historiadores, ele suplantou a todos, em tudo. Para isso, mergulhou fundo nos arquivos da Biblioteca Nacional, nos Arquivos Públicos do Estado de São Paulo e em nosso Arquivo Público Mineiro.

Afonso de Taunay viajou ao exterior para pesquisas, no Arquivo Ultramarino de Portugal e, em arquivos espanhóis, principalmente, da Companhia de Jesus. Leu as obras de Lozano e Montoya e de muitos outros jesuítas, antes de escrever sua obra prima.

Criticou as atrocidades dos brancos, durante a conquista do Novo Mundo, com o extermínio dos nativos, considerados membros de raças inferiores por todos os povos europeus. Era um indianista.

Atacou os espanhóis, por considerá-los destruidores das civilizações asteca, maia e inca, cujos nativos eram povos sensíveis ao extremo. Quem já visitou o Museu de Antropologia do México, pode ver a beleza e a sensibilidade dos seus escritos e de sua arte. Segundo Taunay, usando as falsidades de uma religião, que nunca foi pregada por Cristo, assassinaram todo o esplendor de civilizações, muito à frente da européia daquela época, por ambição desmedida para obter riquezas e escravos.

Segundo Afonso Taunay, os colonizadores espanhóis inventaram outro nome para os escravos - “encomiendas” – que significa “encomendados” para a escravidão, o sofrimento, e a morte.

Afonso d’Escragnolle Taunay ocupou a cadeira 1 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 7 de novembro de 1929. Foi recebido em de maio de 1930, pelo acadêmico Edgar Roquette-Pinto.