HILDEBRANDO DE ARAÚJO PONTES

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 100

Por Jorge Lasmar

Há homens extraordinários na história das Minas Gerais, que marcaram sua passagem pelo mundo. Suas realizações e exemplos, ditados pela ousadia e determinação, ficariam para a posteridade antecipadas no tempo. Um deles foiHildebrando Pontes, de Uberaba.

Engenheiro agrônomo, escritor, jornalista, cronista, genealogista, educador, teatrólogo, político e historiador, com vários livros publicados, abordou temas com rara felicidade. Encontrou tempo para, inclusive, contar, primorosamente, em 200 páginas, a HISTÓRIA DO FUTEBOL EM UBERABA, em 1970. A região do Triângulo Mineiro, a antiga Farinha Podre, de modo particular, mereceu a sua atenção.

O ilustre advogado Guido Bilarinho escreveu que Hildebrando Pontes foi o melhor historiador e cronista de Uberaba. Em seus livros tratou de diversos aspectos não só de Uberaba, como da região. “Seu livro Vida, Casos e Perfis, publicado em 1992 pelo Arquivo Público de Uberaba, em poder de quem devem estar os originais dos Meus Cincoenta Anos, outra obra dele, é uma prova convincente que torna justa a afirmação”.

Ele investigou, pesquisou e informou sobre o dialeto capiau, o rebanho bovino, a introdução da cultura do cafeeiro, fauna, corografia, folclore, constituição geológica e riquezas naturais do Triângulo Mineiro. Levantou e estudou de maneira sistematizada, os fatos históricos da cidade, de Araxá e de Patrocínio nos livros “História de Uberaba” e “Civilização No Brasil Central”.

Deixou numerosos livros, mais de 30, muitos trabalhos a respeito do teatro, imprensa, tipos populares, artigos de matéria técnico-científica, memórias e reminiscências, além de genealogias de famílias que se instalaram na Farinha Podre, nos séculos XVIII, XIX e XX, as Silva e Oliveira, Ferreira e Araújo, os primeiros povoadores de Uberaba; as famílias Vieira Pontes e Márquez, Dornellas da Costa e Rodrigues da Cunha, à qual pertenço pelo lado materno.

Hildebrando Pontes ou Hildebrando de Araújo Pontes era filho de Joanna de Nepomuceno de Araújo Pontes, (ela era natural do Desemboque, aonde iria Hildebrando já casado) e de Major José Vieira Pontes, descendentes das nobres famílias Silva Oliveira e Márquez, de origem portuguesa em João Martins de Sá, herdeiro de um marquesado em Portugal.

Ele conta: “Filho de pais pobres nasci, num domingo chuvoso, a 16 de fevereiro de 1879, num rancho acanhado de capim, no lugar denominado Parreiral e fui batizado pelo Padre Ângelo Antônio de São Severo no dia 26, em Uberaba.

O nome Hildebrando é de origem alemã, significa tição de fogo, “foi escolhido por meu avô Araújo, dia 16 de fevereiro, dia de Santo Hildebrando”.

Em sete de janeiro de 1886, a primeira escola: Liceu Uberabense, depois outras escolas primárias e “fiz grande progresso nas letras”. Em fevereiro de 1894, estava matriculado na Escola Normal de Uberaba e, em fevereiro de 1895, prestou exame de habilitação, para matricular-se no primeiro ano do Instituto Zootécnico, inaugurado naquele ano.

Hildebrando começou a revelar-se escritor, cronista de valor, ao fundar com alguns colegas a Revista Agrícola, órgão do Grêmio Agro-Científico dos Estudantes do Instituto Zootécnico de Uberaba.

Dedicou-se a medir terras, em abril de 1889, e às divisões de “fazendas”; a primeira, uma ante-divisão da fazenda do “Cassu”, ocasião em que usou um instrumento: Trânsito de Gurley, presente de seu pai e que custara 1, 287$575, e já escrevia para o jornal Lavoura e Comércio, de Uberaba, sobre assuntos agrícolas.

No dia 2 de abril de 1902, casou-se com Salvina Barra Pontes. Meses depois, partiu para o Desemboque, ricas terras nos tempos do ouro colonial, para efetuar divisões das fazendas da “Lapa” e da “Bocaina”, e foi nessa ocasião que teve oportunidade para interessar-se pela antiga documentação de registro civil existente no cartório da comarca, que conhecera a opulência e riqueza; “pouca coisa existia já”. Posteriormente a 1894, segundo informações de seus tios João e Domingos, um padre dominicano, ao separar o cartório civil do eclesiástico, incinerou aquele numa grande fogueira ao lado de fora da igreja. Queimou a memória do Desemboque!

Datam de 1904 as Cartas de Uberaba, escritas para o “Diário de Franca”, ocasião em que desponta em Hildebrando o gosto pela história e pela genealogia.

Em 1906, a região da Farinha Podre emocionava-se para constituí-la. Em abril de 1906, o jornal uberabense “Ecos do Sertão” publicou artigos sobre a SEPARAÇÃO DO TRIÂNGULO escritos pelo Dr. Henrique Raymundo Dês Genettes que, em conferências públicas, nesta cidade, aos 21 de janeiro de 1875, continuando depois a fazê-las pelas colunas do citado jornal. Em reunião de sua iniciativa, 8 de abril de 1906, procurou criar o Clube dos Separatistas, o que chamou a atenção das autoridades para a região, então já batizada com o nome de Triângulo Mineiro, pelo Dr. Dês Genettes.

O verbo e a pena de Hildebrando levavam o progresso. Ele e o interesse político trouxeram o Ginásio Diocesano, a Ponte Afonso Pena, a viação férrea e fluvial dos estados de Minas Gerais e Rio; o prolongamento da estrada de ferro de Formiga a Catalão, com ramais para Uberaba, Araxá e Araguari.

Em 1906, escreveu a Arte Dramática – Teatro São Luiz; em1907, publicou Algumas notas sobre a constituição geológica e riquezas naturais do Triângulo Mineiro, que lhe valeu um telegrama do Governador João Pinheiro da Silva, nos seguintes termos:
“Tenho a grata satisfação que o nosso Instituto Histórico recebeu com especial agrado vosso trabalho e espero que continueis a colocar o concurso de vossa inteligência em prol da prosperidade e do renome da nossa nascente instituição”.

Político de idéias liberais, por ocasião da Campanha Civilista fundou em Uberaba, a revista O Civilista.

Hildebrando colaborou nos jornais do Triângulo, da Capital e do Rio de Janeiro desde 1911 até 1929.

É seu o monumental trabalho com 465laudas e 104 clichês fotozincográficos de vistas do município e cidade de Uberaba, com estatísticos comparativos, trabalho manual de dois anos! Sua também, a redução da carta geográfica do município (1908-1910).

Era um gênio. Apaixonado pela navegação fluvial, em 1910 começou a escrever a respeito da navegação do Rio Grande. O primeiro artigo tinha esse título. O assunto, da longínqua Uberaba, chegou ao governo, impressionado com a visão de estadista de Hildebrando, com seus conhecimentos a respeito da lavoura e dos meios de transporte e comunicação.

Foi Presidente da Câmara, Agente Executivo (hoje prefeito), conferenciou com Rodrigues Alves, Presidente do Estado de São Paulo, que muito se importava com a concretização das idéias contidas nos estudos de Hildebrando.

A ele cabe a honra da criação da Exposição Agro-Pecuária de Uberaba, no dia 3 de maio de 1911, no centenário da cidade, um sucesso que vem varando o tempo com projeção nacional e internacional.

No exercício da profissão e exigências da subsistência, esteve em 1916 em Coromandel e Patrocínio, onde projetou obras como o calçamento, a arborização de praças e jardins e o Coreto da Praça da Matriz. Lecionava francês em Araxá, na Escola Santa Filomena.

Homem de visão, de intensa atividade, estava em toda parte e foi assim que, em 1918, partiu para as Índias em busca de reprodutores da raça zebu. Acabou ficando em Londres. A guerra. Não havia passagens para as Índias. Os navios estavam repatriando soldados. Percorreu a Inglaterra, França. Teimoso, mais tarde, chegou às Índias, via África, passando pelo Cabo da Boa Esperança. Retornando, depois de contribuir para a expansão do gado vacum, Hildebrando podia ser encontrado medindo terras nos confins dos municípios de Uberaba e do Prata.

Hildebrando, sócio correspondente do nosso Instituto Histórico, desde 30 de outubro de 1910, recebeu dignidades e condecorações, dentre as quais vou destacar apenas as da Sociedade Mineira de Agricultura; Membro de Honra da “Societé Academique de l’Histoire Internationale”, de Paris, em 15 de fevereiro de 1912 e da Academia Físico-Química, de Palermo, Itália, em 11 de setembro de 1911, e outras.

É bom que se diga: Hildebrando, homem simples, atingiu a culminância do saber, soube ser chefe de família digna, legou-lhes a riqueza do saber e do trabalho produtivo, deixou uma lição de vida de quem soube aproveitar o tempo e como!