SEBASTIÃO DE AFFONSECA E SILVA

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 96

 

Foto: Fundação Cultural Camon Barreto, de Araxá-MG - 1910-1920 (FCCB 00526-AF.P036)

Por Iácones Batista Vargas

(Biografia extraída do Discurso de Posse na Cadeira nº 96 do IHGMG, proferido por Iácones Batista Vargas em 16 de julho de 2016)

 

Homem da família.

Sebastião de Affonseca e Silva, filho do Capitão João Maximiano de Affonseca e Silva e de sua parenta Dona Francisca de Paula Eremita, nasceu em São Domingos do Araxá, no dia 12 de setembro de 1877, quando aquela cidade ainda era uma menina de apenas 11 anos.

O pai de Sebastião era filho de Francisco de Affonseca e Silva, que desposou a sobrinha Balbina Barbosa de Affonseca e Silva1. Sobre a mãe do patrono, há relatos de que fosse tia do próprio esposo, irmã da mãe dele; nascera da descendente de índios araxás Laureana Cirila Barbosa, que teria se casado com Antônio de Affonseca e Silva, irmão do avô paterno de Sebastião, filhos que eram de João de Affonseca e Silva e Maria da Costa Braga, oriundos de Paracatu.

Sebastião de Affonseca e Silva é o segundo dos quatro filhos do Capitão João Maximiano e de Dona Francisca de Paula Eremita, sendo irmão de Theodora (Doreca), Rita e Maria Benedita. É tio do General-de-Brigada José Porfírio da Paz, que foi Prefeito da Capital de São Paulo, Vice-Governador e Deputado daquele Estado, além de autor do hino “Salve o Tricolor Paulista”, composto há 80 anos e dedicado ao São Paulo Futebol Clube, do qual foi fundador e primeiro técnico2.

Sebastião de Affonseca e Silva estudou em Uberaba, no Colégio Uberabense3. Concluído o curso, retornou à terra natal. Ali, há 120 anos, no dia do aniversário da cidade, casou-se com Dona Prosolina Porfírio de Affonseca, filha do subdelegado Evaristo Afonso da Silva e de Maria Porfírio da Rocha e Silva. Dessa feliz união, nasceram treze filhos: Sebastião Júnior; Dom José Gaspar de Affonseca e Silva; Sr. Celidônio (pai de Dona Ilka de Affonseca Nessralla e Carlos César); o médico Dr. César de Affonseca e Silva; Saul de Affonseca e Silva; a freira “Irmã Maria de Afonseca e Silva, da Congregação das filhas de Maria Auxiliadora, farmacêutica, a serviço da Santa Casa de Guaratinguetá”4; a professora Agar; Clélio de Affonseca; Philotéa (a primeira); a dominicana Irmã Francisca de Sales, que no século se chamou Philotéa (em homenagem à outra irmã falecida); Jésus, solteiro, farmacêutico, que herdou a profissão do pai; Sebastião de Afonseca Filho, que assumiu o nome do pai e do irmão primogênito (falecido criança), e a caçula Terezinha.

 

Homem da fé.

Sebastião de Affonseca e Silva nasceu num lar de fé. E dupla fé! A fé pública, firme, boa e valiosa, autêntica, segura e eficaz, proveniente da pena de seu pai, serventuário da Justiça, que, durante 53 anos, prestou relevantes serviços como escrivão e tabelião do cartório do 1º Ofício do Judicial e Notas e oficial do Registro Geral de Hipotecas 5. E a fé cristã católica, própria da religiosidade do povo mineiro, professada por toda a família, que rendeu a Araxá, a Minas Gerais e ao Brasil nada menos que sete sacerdotes, “todos primos entre si”6.

Em piedoso ambiente cristão, Sebastião de Affonseca e Silva viveu e criou sua família. Esse espírito de fé foi determinante para a vocação dos três filhos consagrados ao serviço de Deus.

Seu filho Dom José Gaspar, figura proeminente do episcopado brasileiro, foi o 14º bispo e 2º Arcebispo Metropolitano de São Paulo, tendo assumido o trono episcopal com apenas 38 anos e falecido 5 anos depois, em 1943, num desastre de avião, no Rio de Janeiro. O coração filial do nobre Arcebispo revela, com precisão, a figura do venerando patrono da Cadeira nº 96 desta Casa:

 

Muitos exemplos edificantes temos lido nos livros, antigos e recentes! Nenhum, porém, que nos comovesse tanto como o amor ao trabalho e ao espírito de fé que contemplamos no coração do nosso pai estremecido, o qual [...], zelando durante 25 anos pela lâmpada do Santíssimo Sacramento, nunca a deixou apagar-se por culpa sua, levantando-se para reacendê-la nas noites de ventania, sempre que receava ter-se o vento insinuado pelas fendas dos vitrais e extinguido a chama sagrada do santuário.

Seus atos, suas virtudes, sua piedade, seu espírito de fé e resignação, sua modéstia e silencio valem para nós mais do que todas as fortunas reunidas.7

 

Homem da caridade.

Sebastião de Affonseca e Silva, inspirado no Apóstolo Tiago, pôde expressar: “eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”8.

Além de piedoso cristão católico, exercia a caridade por meio das obras sociais, com especial atuação na Sociedade de São Vicente de Paulo. Em 1901, foi confrade fundador e primeiro tesoureiro da Conferência São Domingos de Gusmão, de Araxá. Teve o privilégio de celebrar bodas de ouro da fundação daquela conferência e a “efeméride de como sócio fundador ocupar o cargo de tesoureiro por 50 anos (1901-1951)”. Seguidor de Antônio Frederico Ozanan, foi fundador e provedor da Vila Vicentina, localizada no Bairro Santa Teresinha, em Araxá.

Fiscal da Provedoria da Irmandade de São Francisco e São Sebastião, Affonseca e Silva, juntamente com seus coirmãos, conseguiu, em 1947, “a criação da primeira Capelania para a Irmandade e para a Igreja histórica”9. Membro da Irmandade de Nossa Senhora da Abadia, mantenedora da Santa Casa de Misericórdia de Araxá, o Major Sebastião foi seu vice-provedor por longos anos, tendo sido reeleito sucessivamente entre 1908 e 1921. Na década de 1940, continuava integrando o corpo administrativo, como secretário da provedoria, daquele estabelecimento de saúde10.

Por iniciativa sua, em 1912, formou-se a primeira floresta de eucaliptos de Araxá, no terreno aos fundos da Vila Vicentina11. Contribuiu para a construção do novo prédio que abrigou a Santa Casa de Araxá, inaugurado por ocasião do Centenário da Independência do Brasil, tendo figurado entre os paraninfos da solenidade.

 

Homem do trabalho e da comunidade.

Sebastião de Affonseca e Silva foi nomeado Coletor Municipal de Araxá em 1901, permanecendo na função até 1912 (12).

Em 1914, juntamente com outros companheiros, fundou a inusitada Sociedade de Auxílios Mútuos “A Protectora Dotal Mineira”, que tinha “por fim operar em peculios por auxilios mutuos, constituindo dotes por casamentos e anniversarios”13, distribuídos entre os associados. O funcionamento dessa sociedade foi autorizado, em todo o território nacional, pelo então Presidente da República, Marechal Hermes da Fonseca, por meio do Decreto Federal nº 11.176, de 30 de setembro de 1914.

Também naquele ano, Sebastião de Affonseca e Silva figurou como paraninfo das solenidades cívicas, religiosas e sociais de inauguração dos serviços “Força e Luz” de Araxá, encerradas com baile comemorativo no Grupo Escolar14. Ainda no início do Século XX, atuou como coletor federal, muitas vezes cumulando a função de coletor da Câmara, bem como prestava, com exclusividade, o serviço de “telephone” em Araxá, mediante associação particular por ele mesmo agenciada.

Homem de visão, vivia à frente de seu tempo. Em 1928, já figurava entre as “pessoas e firmas distinguidas pela Municipalidade de Planaltina, Estado de Goyaz e que, coherentes com a mudança da capital da Republica, acceitaram a doação de suas terras no Planalto Central de Goyaz”15.

 

Homem da saúde.

Em 1911, “obteve licença da Diretoria de Saúde Pública de Minas Gerais para desempenhar a profissão de farmacêutico”: “PHarmaceutico com ‘ph’ maiúsculos”, como dizia o saudoso luzense Mauro Corgozinho Raposo. Sua “Pharmacia São Sebastião” funcionou em Araxá, na Praça Coronel Adolpho e “na Av. Antônio Carlos, n.º 32”16. Por 51 anos, exerceu o sacerdócio farmacêutico, auxiliado pelos funcionários Guilmar França e Orlando da Cunha e Oliveira. Mantinha em seu estabelecimento “completo e variado sortimento de preparados e drogas chimicas nacionaes e extrangeiras.” Sempre aviava as receitas “com promptidão e asseio a qualquer hora do dia ou da noite” e aceitava “a incumbencia de mandar vir das grandes praças commerciaes, qualquer preparado ou droga chimica”17, conforme se vê de anúncio publicitário resgatado na revista O Trem da História, da Fundação Cultural Calmon Barreto (FCCB), de Araxá-MG.

Suas fórmulas eram criteriosamente manipuladas, sendo as mais conhecidas a “poção contra gripe, denominada Araxaína; poção espasmódica; julepo [...] gomoso usado contra diarreia e indicado para crianças”, bem como “cápsulas feitas com óleo de erva-de-santa-maria e indicadas como vermífugo”, além do “anestésico contra picadas”18.

 

Homem metódico e organizado.

De estatura baixa e forte, nunca se separava de seus óculos escuros e jamais dispensava o terno de linho. Sempre foi muito organizado e fiel aos seus horários e compromissos. Mesmo idoso, todas as tardes fazia sua caminhada pelas ruas de Araxá. Cumpria tão rigorosamente a rotina, que muitas vezes as pessoas acertavam o relógio pela sua presença em determinado lugar. O sapateiro Nado, ao vê-lo, aferia os ponteiros e exclamava “4 e 12!” todos os dias, no exato momento em que Sebastião passava à porta de seu estabelecimento, conforme relato do neto Carlos César de Afonseca.

 

Homem da cultura.

Araxá deve “a ele o trabalho pioneiro de reunir parte significativa da documentação histórica disponível sobre” o Município19. Pelo seu íntimo contato com as fontes primárias e os arquivos oficiais das repartições públicas por onde atuou, reuniu, ao longo de quase 70 anos, inúmeros documentos que resultaram nos arquivos do Museu Dona Beja e em coleção mantida na Fundação Cultural Calmon Barreto.

Em 1925, com o amigo Hildebrando de Araújo Pontes, Sebastião fundou a Sociedade de Geografia e História do Brasil Central, com sede em Araxá, da qual se elegeu diretor sob a presidência daquele,20 que é patrono da Cadeira nº 100 deste Instituto, hoje ocupada pelo Dr. Paulo Ramiz Lasmar.

Reconhecendo sua “capacidade comprovada [...] para versar o assunto”21 ligado ao passado, Dom Alexandre Gonçalves Amaral, proclamou que Sebastião “é uma vigorosa afirmativa de vocação para pacientes pesquisas históricas22

Integrava o Instituto de Genealogia de Minas Gerais. Em 1957, aparece na “Relação dos Sócios Correspondentes”23 do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, ao lado do seu conterrâneo Mário de Castro Magalhães. Nessa época, os então 80 sócios efetivos iniciaram o processo de escolha dos patronos de suas cadeiras. Até então, não existiam as Cadeiras nº 81 a nº 100.

 

Publicações.

Na Revista do Instituto, encontra-se uma única publicação de sua autoria, datada de 1959, “Reminiscências Históricas: A Fundação da Povoação do Desemboque”24. Entretanto, sua obra é vasta e grandiosa, iniciando-se no alvorecer do Século XX, quando já divulgava na imprensa local o resultado de suas pesquisas.

O primeiro livro dele encontrado vem a ser “Subsídios para a História do Araxá e Duas Palavras sobre o Triângulo Mineiro: Publicação até 1890”. Editado em 1915, numa parceria, trata-se de coletânea de artigos publicados no jornal Correio de Araxá, os quais foram redigidos por Clodion Cardoso, com base nas pesquisas de Sebastião de Affonseca e Silva, “cuja tarefa árdua e meritória, consistia em escavar factos e documentos, onde os encontrasse, como elementos basicos em torno dos quais o collaborador litterario interferisse o seu espírito e o seu critério de historiador”25. Conforme consta do posfácio, as publicações foram interrompidas, já que, compromissado com a verdade histórica, Sebastião não aceitou o modo como o colaborador passara a interpretar os fatos mais contemporâneos da história de Araxá.

Em 13 de julho de 1943, concluiu a sua “Monografia Histórica e Geográfica de Araxá”, com 372 páginas datilografadas e encadernadas em 2 volumes, entregues ao então Prefeito, Álvaro Cardoso de Menezes. O precioso trabalho contempla “a história e as efemérides de Araxá, decorridas desde o ano de 1671, [...]sobre o ‘território’, a ‘nação”, os ‘sertões’, o ‘município’ e a ‘cidade de Araxá’, com suas miraculosas águas, descritas em Capítulo Especial”26. Sobre a “nação” dos índios araxás, refere-se “a essa tribo com ternura, porque ele mesmo se jacta de descender da velha raça através de sua bisavó [...], autêntica araxana.”27

Três anos depois, em 1946, essa monografia veio a ser publicada pelo Governo do Estado, sob o título de “História do Araxá”, após adaptação feita por Ayres da Matta Machado Filho, patrono da Cadeira nº 35 deste Instituto, que a resumiu e adaptou-lhe “o tom geral à índole do trabalho”28.

Em outubro de 1947, trouxe à lume “A Paróquia de São Domingos de Araxá: Desde os primórdios da sua fundação em 1780 até os dias de hoje – Arte religiosa”, obra escrita a pedido da Provedoria da Irmandade de São Sebastião e São Francisco, da qual era fiscal. Além de resgatar a história religiosa, o trabalho divulga a artística “obra do genial escultor Bento Antônio da Boa Morte”29, considerado “o Antônio Francisco Lisboa de Araxá”, responsável por talhar em cedro doze imagens veneradas na patriarcal igreja de São Sebastião, construída em 1804 por José Pereira Bom Jardim.

Também deixou a “Sucinta Monografia da História de Araxá”30: obra inédita, datilografada pelo bisneto Eduardo Elias, que carinhosamente guarda uma cópia desse trabalho, juntamente com a bengala do “Vô Bastião” (a mesma bengala com que o bisavô cutucava o bisneto, convidando-o para assumir a máquina de escrever e auxiliar o venerando historiador em seu trabalho).

Ainda há notícia de outra obra de imensurável valor: “Ana Jacinta de São José (Dona Bêja in-natura) Sua vida em ordem cronológica do berço ao túmulo – 1800-1874 – Coletânea de narrativas ouvidas de pessôas septuagenárias, octogenárias, nonagenárias e quási centenárias.” Desse trabalho inédito, datilografado em 1950, apenas a folha de rosto encontra-se disponível em plataforma eletrônica do Arquivo Público Mineiro, graças à cópia obtida por Hélio Gravatá em 1985. Apesar da informação manuscrita de que o “original inédito acha-se no museu de Araxá”31, não foi localizado, a despeito de insistentes buscas nesse sentido.

A importância dessa obra justifica-se pelo fato de sempre ser citada, ou, antes dela, o seu autor, por todos aqueles que escreveram sobre “a Vênus do Sertão”, a exemplo de Thomas Leonardos, Waldir Luiz Costa, J.G. Almeida e Hildebrando Pontes.

 

Criador do mito Dona Bêja.

João Dornas Filho reconhece Sebastião de Affonseca e Silva “como ‘mentor’ legítimo e a principal fonte sobre Dona Beja”32. De fato, o Major Sebastião pode ser considerado o criador do mito sobre a figura de Ana Jacinta de São José, a famosa Dona Bêja, que projetou Araxá para Minas, o Brasil e o mundo.

Seu entusiasmo com a figura de Dona Bêja era tamanho que, em 1957, “foi o principal idealizador e organizador da primeira Festa Cultural-Social, realizada em Araxá”33 por ocasião do lançamento do livro de Thomas Leonardos, “Dona Beija, a Feiticeira do Araxá”, o qual, baseado no trabalho original de Affonseca, foi transformado em grande sucesso da televisão brasileira, na década de 1980, pela então Rede Manchete.

Tal qual Dona Bêja – sem o “i”, como preferia –, Sebastião de Affonseca e Silva muitas vezes percorreu o “imbiara” (o caminho das águas) do Barreiro, indo fazer uso das miraculosas fontes no entorno do Grande Hotel. As belas pinturas dos “painéis artísticos das Termas [...] trabalhados com forte temática histórica”34, certamente, receberam orientação de Sebastião, dada a riqueza de detalhes e registros históricos que contêm.

 

Patriarca do Araxá.

Abnegado, Sebastião muito colaborou com tantos quantos desejaram escrever sobre o Araxá, fornecendo-lhes dados encontrados em suas pesquisas ou recebidos pela tradição oral. Sempre recebia o reconhecimento dos amigos escritores. Na dedicatória lançada em um exemplar da sua “Notícia Estatístico-Corográfica e Histórica do Município de Araxá”, Hildebrando Pontes assim escreveu:

 

Ao Sebastião de Affonseca e Silva, araxaense distincto dentre os que mais o são, amigo dedicado e fiel, caracter amoldado em o mais puro crisol e espírito de eleição, offereço este exemplar do meu modesto trabalho que, se algum merecimento tem, muito deve á collaboração que o excellente amigo lhe prestou.

 

Com efeito, toda razão assiste a Waldir Luiz Costa, quando, nas páginas de seu livro “Da Maloca ao Palácio”, aduz que “não se poderá, hoje como nunca, escrever uma frase sequer sobre a história de nossa terra [Araxá] e de nossa gente, sem ouvir-lhe a palavra abalizada, que se inspira numa vida de pesquisa honesta e de trabalho meritório35.

O Major Sebastião de Affonseca e Silva foi o grande historiador que teve “obstinação em recuperar o passado histórico”36, que constitui o mais famoso e o mais delicioso doce na mesa da cultura do seu querido Araxá.

O prestígio e a respeitabilidade de que gozava fizeram-no conhecido como “um patriarca da cidade”, muitas vezes recebendo o tratamento de Major, talvez não por eventual patente militar, mas principalmente pelo grande amor devotado ao povo e à sua terra. Essas características repercutiam longe. Em 1934, foi convidado pelo então Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, “para ser o “informante oficial do município”37, na estratégia de relacionamento com os intelectuais, “livre para a produção de uma cultura oficial que abrigava correntes ideológicas das mais diversas”38.

Era, portanto, o porta-voz oficial da sociedade araxaense.

 

Na eternidade.

Piedoso, caridoso, trabalhador, persistente, culto, honrado e admirado: assim viveu Sebastião de Affonseca e Silva, que faleceu, aos 90 anos de idade, em 9 de agosto de 1968, no seu Araxá. Seu nome está imortalizado, na terra natal, no Bairro Santa Terezinha, em cerca de 900 metros de avenida retilínea e arborizada, com duas pistas e canteiro central, entre a Avenida Getúlio Vargas e a Rua Dr. Edmar Cunha.

Araxá: terra de onde primeiro se avista o sol. Exprime também “vigilância, inspeção a ação de ver. Gente vigilante”. Sebastião de Affonseca e Silva honrou esse nome, porquanto permaneceu sempre vigilante, observador e atento aos fatos históricos e documentos que registram o passado do território e da gente araxaense e araxana. Hoje, do Araxá celestial, continua velando pela querida terra, cantada nos versos do seu concidadão honorário Dr. Renato César Jardim, Juiz de Direito, membro da Academia Araxaense de Letras e da Academia de Letras do Brasil, Seção Minas Gerais:

 

Alvissareira terra, generosa alma materna,

carregas o brilho do filho que a sublima.

A cada manhã darás à luz quem ilumina

e do sol serás parturiente eterna.39

 


 

[1] Sobre a Origem das Famílias Affonseca e Silva. O Trem da História: Boletim informativo do Setor de Pesquisas e Publicações da Fundação Cultural Calmon Barreto, Ano IX, nº 29, Dez/1999, pp. 5-6.

[2] MENDES, Juliana. Família Affonseca e Silva e Família Costa Braga. Disponível em: http://www.genealogy.com/forum/regional/countries/topics/brazil/1644/. Acesso em: 10 jul 2016.

[3] PINTO, Herbert Sardinha. Discurso de Posse. Revista do IHGMG, nº XX. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1986, p. 294.

[4] SÃO PAULO, Arquidiocese Metropolitana de. In Memoriam de Dom José Gaspar de Afonseca e Silva: 1901-1943. 2. ed. aum. São Paulo: Ave Maria, 1944, p. 8.

[5] SILVA, Sebastião de Affonseca e. Monografia Histórica e Geográfica de Araxá. Inédito. Original datilografado mantido na FCCB de Araxá, p. 153.

[6] SILVA, Sebastião de Affonseca e. A Paróquia de São Domingos de Araxá: Desde os primórdios da sua fundação em 1780 até os dias de hoje. – Arte religiosa. Araxá, Março de 1941. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1947, p. 67.

[7] SILVA, Dom José Gaspar de Afonseca. Pastoral de Saudação aos seus Diocesanos. São Paulo: A Gazeta, 1939, pp. 14-15.

[8] SÃO TIAGO. Carta de São Tiago. Capítulo 2, versículo 18. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/acf/tg/2. Acesso em: 10 jul 2016.

[9] SILVA, Sebastião de Affonseca e. A Paróquia de São Domingos de Araxá: Desde os primórdios da sua fundação em 1780 até os dias de hoje. – Arte religiosa. Araxá, Março de 1941. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1947, p. 67.

[10] Santa Casa de Misericórdia de Araxá. O Trem da História: Boletim informativo do Setor de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural Calmon Barreto, Ano II, nº 12, Jan/Fev/mar/1994, pp. 4-7.

[11] Santa Casa de Misericórdia de Araxá. O Trem da História: Boletim informativo do Setor de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural Calmon Barreto, Ano II, nº 11, Out/Nov/Dez/1993, pp. 8-9.

[12] MUNICÍPIO DE ARAXÁ-MG. Câmara Municipal de Araxá: 180 anos de história e memória 1831-2001. Araxá: Câmara Municipal, 2011, p. 48

[13] BRASIL. Decreto Federal nº 11.176, de 30 de setembro de 1914. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-11176-30-setembro-1914-575627-publicacaooriginal-98886-pe.html. Acesso em: 11 jun 2016.

[14] MUNICÍPIO DE ARAXÁ-MG. Câmara Municipal de Araxá: 180 anos de história e memória 1831-2001. Araxá: Câmara Municipal, 2011, p. 59-60.

[15] Relação das Pessoas que aceitaram terras no Planalto de Goyaz. Correio da Manhã, 8 jun 1928, pp. 10-11. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=089842_03&pesq=Sebasti%C3%A3o%20de%20Affonseca%20e%20Silva. Acesso em: 11 jun 2016.

[16] Farmacêuticos da 1ª Metade do Séc. XX. O Trem da História: Revista do Setor de Arquivos, Pesquisas e Publicações da Fundação Cultural Calmon Barreto. Ano 18, nº 46, nov/2008, p. 8.

[17] Idem.

[18] Idem.

[19] BARRETO, Fundação Cultural Calmon. Lugar de Memória. Araxá: FCCB, 2001, p. 139.

[20] PONTES, Hildebrando de Araújo. História de Uberaba e a Civilização no Brasil Central. Uberaba: Academia de Letras do Triângulo Mineiro, 1970, p. VI.

[21] AMARAL, Dom Alexandre Gonçalves. Prefácio. In. SILVA, Sebastião de Affonseca e. A Paróquia de São Domingos de Araxá: Desde os primórdios da sua fundação em 1780 até os dias de hoje. – Arte religiosa. Araxá, Março de 1941. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1947, p. 7.

[22] Idem.

[23] Relação dos Sócios Correspondentes. Revista do IHGMG. Volume IV. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1957, p. 311.

[24] SILVA, Sebastião de Affonseca e. Reminiscências Históricas: A Fundação da Povoação do Desemboque. Revista do IHGMG. Volume VI. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1959, pp. 295-298.

[25] História do Araxá. In. SILVA, Sebastião de Affonseca e; CARDOSO, Clodion. Subsídios para a História do Araxá e Duas Palavras sobre o Triângulo Mineiro: Publicação até 1890. Araxá: Correio de Araxá, 1915, p. s/nº.

[26] SILVA, Sebastião de Affonseca e. Monografia Histórica e Geográfica de Araxá. Inédito. Original datilografado mantido na Fundação Cultural Calmon Barreto, de Araxá, pp. 4-5.

[27] LEONARDOS, Thomas. Dona Beija: A Feiticeira do Araxá. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 49.

[28] SILVA, Sebastião de Affonseca; MACHADO FILHO, Aires da Mata. História do Araxá. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1947, p. 3.

[29] SILVA, Sebastião de Affonseca e. A Paróquia de São Domingos de Araxá: Desde os primórdios da sua fundação em 1780 até os dias de hoje. – Arte religiosa. Araxá, Março de 1941. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1947, p. 9.

[30] SILVA, Sebastião de Affonseca e. Sucinta Monografia da História de Araxá. Inédito. Original datilografado mantido pelo bisneto Eduardo Elias Nesrralla.

[31] SILVA, Sebastião de Affonseca e. Ana Jacinta de São José (Dona Bêja in-natura) Sua vida em ordem cronológica do berço ao túmulo – 1800-1874 – Coletânea de narrativas ouvidas de pessôas septuagenárias, octogenárias, nonagenárias e quási centenárias. Inédito. Capa digitalizada disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/gravata_brtdocs/photo.php?lid=36713. Acesso em: 19 jun 2016.

[32] MONTANDON Rosa Maria Spinoso de. DONA BEJA: Desfazendo as Teias do Mito. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em História. 2002, p. 169. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp000158.pdf. Acesso em: 19 jun 2016.

[33] LEONARDOS, Thomas. Dona Beija: A Feiticeira do Araxá. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1986, p. 17.

[34] LIMA, Glaura Teixeria Nogueira. Das Águas Passadas à Terra do Sol: Ensaio sobre a História de Araxá. Belo Horizonte: BDMG Cultura, 1999, p. 65.

[35] COSTA, Waldir Luiz. Da Maloca ao Palácio. 2. ed. Goiânia: Gráfica Popular, 1987, p. 3.

[36] LIMA, Glaura Teixeria Nogueira. Das Águas Passadas à Terra do Sol: Ensaio sobre a História de Araxá. Belo Horizonte: BDMG Cultura, 1999, p. 5.

[37] MONTANDON Rosa Maria Spinoso de. DONA BEJA: Desfazendo as Teias do Mito. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em História. 2002, pp. 90-91. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/cp000158.pdf. Acesso em: 19 jun 2016.

[38] Idem.

[39] JARDIM, Renato César. Imortalidade do Efêmero. Araxá: Gráfica Santa Amélia, 2005, p. 37.