SAUDAÇÃO PÓSTUMA AO ASSOCIADO RICARDO ARNALDO MALHEIROS FIÚZA

                                              

Desembargador Aluízio Alberto da Cruz Quintão

                                               Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais

 

 

Meu caro Dr. Ricardo Fiúza, muito apropriado é este ambiente respeitável da Academia Mineira de Letras para a despedida de você pelos amigos, colegas e admiradores.

Figura de destaque no meio intelectual e social de Minas Gerais, você conquistou amplíssima rede de relacionamento por suas qualidades de homem de bem e profissional correto, sempre amável e cordial, a distribuir simpatia e firmar empatias em todos os setores em que atuou, dedicada e fecundamente, como revela seu longo currículo de professor, jurista e escritor.

Rende-lhe, por isso, homenagens a serem permanentes o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais que você vinha integrando e honrando como associado efetivo. Titular da cadeira No. 81, teve como patrono o Desembargador João Bráulio Moinhos de Vilhena, primeiro vice-presidente da diretoria inaugural de 1907 do Presidente João Pinheiro da Silva e depois como um de seus sucessores, presidente que foi de 1910 e 1911.  A meu convite, você aceitou participar da Diretoria e foi eleito membro da Comissão de Admissão de novos associados da atual administração de 2016/2019, datando de menos de uma semana seu último parecer, exarado, como sempre, com senso de equidade e zelo pela nossa Casa de João Pinheiro.

Sinto-me impulsionado, nesta hora, a deixar também minha homenagem pessoal que se faz alimentada pela lembrança de sua imagem de colega e amigo de tantos anos. Reforça-me o apoio do tratado Sobre a Amizade (De Amicitia) do filósofo e jurista romano Marco Túlio Cícero.

Se para ele, há mais de 21 séculos, eram de suma importância para a República Romana as relações fundadas na amicitia, resumida esta na afeição, na confiança e na lealdade, você soube viver e relacionar-se, esbanjando tais qualidades, qual cidadão exemplar imbuído de virtudes essencialmente republicanas de que o Brasil tanto precisa.

Segundo meu registro particular, amizade é o que ficou plantado em nossos corações e mentes pela convivência respeitosa, leal, instrutiva e orientadora e apoiador, no curso de meio século de conhecimento e apreço mútuos.

Eis que o vejo, semblante de gente meigamente séria e olhar verdadeiro, sempre prontos de sorriso e abraço para os colegas e contemporâneos da Faculdade de Direito da UFMG.

É a mesma Imagem que se manteve no exercício profissional diverso e patentemente dedicado e competente, como aquele prolongado de várias décadas, nos meandros dos altos escalões administrativos do Tribunal de Justiça, entre os quais a Secretaria da Presidência e a Coordenação da Escola Judicial.

No magistério ampliaram-se os benefícios de sua personalidade que seus colegas professores soubemos visualizar e admirar, pela gama cativada de alunos que o Prof. Ricardo Fiúza, anos a fio, tão bem orientou nos estudos do Direito e, com seus inúmeros escritos, ajudou a trilhar as sendas da Arte do Bom e do Justo.

Entre muitas entidades culturais de sua devoção e ação, o Elos Club de BH do Elos Internacional da Comunidade Lusíada (de cuja diretoria participou) esteve, como pude partilhar, nos primórdios da exteriorização de sua produtiva idolatria para com a cultura lusíada e, em especial, para com Portugal de seus antepassados e de sua visitação anual.

Meu mais sincero tributo a você cheguei a fazê-lo, de público e por escrito (que você generosamente publicou) feito em solenidade de outra entidade, o Centro da Comunidade Luso-brasileira, que você abrilhantou com muitas palestras e com gentil apoio à minha presidência, formando um trio de assessoria especial, de estímulo e aconselhamento, com o Desembargador Francisco de Assis Figueiredo e Nirlando Moacir de Miranda Beirão, ambos também de saudosa memória.

Seus numerosos amigos tivemos a satisfação de ver, em 1987 (10/06 – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas), o Governo Português reconhecer seus serviços relevantes de divulgação da rica herança lusíada, história e valores da nação lusa, no Brasil e no exterior, bem como à devoção à Pátria de seu avó Comendador Manoel Bento Malheiros, natural de Ponte de Lima, lá terras do Alto Minho.  Com justiça, você recebeu a elevada condecoração da Ordem do Infante Dom Henrique, grau de oficial. E honraria de maior reforço haveria de vir com a concessão da cidadania portuguesa.

Em comunhão com a Academia Mineira de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico, unido aos sentimentos pessoais deste seu presidente, lamenta a inesperada perda de um de seus valorosos associados e assim deixa aqui externadas suas condolências, num abraço fraterno de solidariedade e conforto a Janice, dileta esposa Janice Maria Pinto Neves Fiúza, aos filhos Edgard e Georgina e demais familiares.

Vá em paz ao encontro de Deus, amigo Ricardo, como fez por merecer.

Vá até com aquela certeza multimilenar do mesmo jurista Cícero citado no início para quem: “As almas dos seres humanos são divinas e o retorno ao céu é tanto mais fácil quanto forem justas e mais puras.”

Adeus, Dr. Ricardo Arnaldo Malheiros Fiúza.                                                                    

BHte., 23/06/2019