CARLOS PEIXOTO DE MELO FILHO

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 62

Por Francisco Fausto de Albuquerque

Carlos Peixoto de Melo Filho nasceu em Ubá, Minas Gerais, em lº de junho de
1871. Seu avô paterno, Francisco Peixoto de Melo, foi eleito deputado provincial pelo partido conservador, em 1860. Sucedeu, na Assembleia Provincial e, depois na Câmara Geral, seu pai, Carlos Peixoto de Melo, que ainda foi o último senador mineiro do Império.

Os estudos preparatórios foram feitos no Ateneu Mineiro de Juiz de Fora. Concluídos os preparatórios com brilhantismo aos 14 anos, prestou exames em São Paulo, e mediante a autorização especial do Ministro da Justiça, matriculou-se na Academia de Direito de São Paulo, em agosto de 1885.

Ingressou na política, logo a seguir, elegendo-se presidente da Câmara de Ubá e deputado estadual. Em 1903, passou a deputado federal, em mandatos sucessivos até sua morte, em 1917.

Era, considerado uma das figuras principais da Câmara Federal, nas duas primeiras décadas do século XX, sobretudo por sua reputação como nacionalista controverso e palestrante combativo. A fama de empertigado patriota era alimentada, ainda, por alguns dados biográficos: recém-chegado ao Rio, para o exercício do cargo de deputado, Carlos Peixoto participava de grupos de discussão sobre os destinos nacionais, com Afrânio Peixoto, Euclides da Cunha e Miguel Calmon du Pin e Almeida, futuro ministro da Viação (1906-1909) e da Agricultura (1922-1926), tendo-se tornado leitor assíduo de Alberto Torres (1865-1917), nos anos seguintes. Desse autor, defendia as idéias da proeminência do Estado forte, a crítica à representatividade popular baseada no sistema eleitoral e, o que nos interessa especialmente, a visão de que o Exército, como força permanente, seria inútil. Nas palavras de Torres, “a defesa militar nem é o principal, nem o primeiro, nem o mais vigoroso dos nossos meios de defesa”.

A partir de 1905, Peixoto se destacaria, continuamente, como parlamentar, sobretudo por seus projetos de valorização e regularização do comércio do café e intensificação de sua propaganda no exterior, para aumento do consumo. Na presidência de Affonso Penna, era o líder do grupo de deputados integrado por Pandiá Calógeras, David Campista, Afrânio Meio Franco, Gastão da Cunha e Miguel Calmon du Pin e Almeida, e conhecido como “jardim de infância”, em referência à pouca idade e, mais ainda, aos presumidos “romantismo” e “ingenuidade” de suas propostas de renovação das práticas políticas republicanas e de maior centralização dos problemas sociais e econômicos, na pauta da câmara.

Seu nome tomou-se reconhecido, nacionalmente, pela atuação na disputa eleitoral, para a sucessão de Affonso Penna; embate que polarizou o Marechal Hermes da Fonseca, então ministro da Guerra, com candidatura vista como representativa das Forças Armadas, e Rui Barbosa, que, na ocasião, lançou a “campanha civilista”. Em protesto contra as ambições presidenciais de Fonseca – candidato e eleito em 1910, à revelia das preferências do próprio presidente Penna, que tendia a apoiar seu então ministro da fazenda, David Campista, Carlos Peixoto renunciou às lideranças da câmara e do PRM, em maio de 1909. Sua razão principal teria sido a lealdade ao presidente Penna e ao colega, Campista, do “jardim de infância”; no entanto, ao episódio somaram-se versões de que Peixoto, na verdade, resistiria ao tom militarista da candidatura Hermes, Ministro da Guerra responsável pela regulamentação da Lei do Recrutamento Militar Obrigatório, em 1908.

Grande apóstolo da verdade orçamentária, conseguiu impor maior rigor e precisão no planejamento e controle financeiro. Ao mesmo tempo se insurgia contra emissões de papel-moeda incontroladas, e acúmulos de déficits, de um exercício para outro.

Após suas renúncias ao cargo máximo da Câmara, Carlos Peixoto retomou às atividades forenses, no foro do Rio de Janeiro, com muito êxito.

Nesta última fase de sua vida, Carlos Peixoto Filho contava com um círculo muito restrito de amigos, que ainda frequentava sua casa, ente os quais nenhum elemento conterrâneo.

Isolado em sua casa, Carlos Peixoto Filho, ainda, esboçava um livro de análise social do Brasil, que se intitulava “Natureza e Cultura”.

Desgraçadamente a tuberculose, que há muito tempo o ameaçava, atacou-lhe o frágil organismo.

Carlos Peixoto Filho não deixou descendentes na política, por ter permanecido solteiro, mas passou o bastão da liderança regional a quatro primos, sobrinhos do seu pai.

Em 29 de agosto de 1917, faleceu em sua casa, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Nesse dia, apresentava melhoras e conversava, animadamente, com Álvaro de Carvalho, Miguel Calmon e Souza Leão. Porém, uma súbita hemorragia pulmonar sufocou-o em poucos minutos, quase sem agonia. Miguel Melo, que o assistiu nestes momentos lúgubres, recebendo em seu peito golfadas de sangue, ouviu da Carlos Peixoto Filho seu derradeiro grito: “Está tudo perdido!”.