PADRE BELCHIOR PINHEIRO DE OLIVEIRA

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 67

Por Cel. PM Carlos Alberto Carvalhaes

“... E agora Padre Belchior?, indaga o Príncipe Pedro.
- Se Vossa Alteza não se faz Rei do Brasil, será prisioneiro das Cortes e talvez deserdado por elas. Não há outro caminho senão a Independência, responde Belchior de imediato.
- Padre Belchior diz o Príncipe Pedro, eles querem e terão sua conta. As Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo, ‘rapazinho brasileiro’. De hoje em diante estão quebradas as nossas relações. Nada mais quero do Governo Português e proclamo, para sempre, o Brasil separado de Portugal”.

(Diálogo às margens do Riacho Ipiranga, São Paulo, em 7 de setembro de 1822)

 

INDEPENDÊNCIA OU MORTE!
Como se denota do episódio da Proclamação da Independência, o Padre Belchior Pinheiro de Oliveira não era um simples componente da comitiva de D. Pedro.

Foi ele quem precipitou os acontecimentos de nossa Independência. Sua presença de espírito e patriotismo influíram na decisão do Soberano que libertou o Brasil dos grilhões que nos uniam a Portugal.

Infelizmente, a História tem dessas coisas. As verdades ficam quase sempre deixadas à margem da realidade e se perdem com a vaporização inevitável do tempo.

Padre Belchior resumia, em si,o pensamento político brasileiro que antecedeu a 1822, época que coincidiu com os começos da atividade filosófica no Brasil, segundo testemunho de Nelson Saldanha, em seu O Pensamento Político no Brasil.

Kant começa a penetrar no solo e na inteligência pátria através do Padre Feijó e de Silvestre Pinheiro Ferreira, que concebeu o primeiro curso de filosofia no Real Colégio de São Joaquim.

Falemos um pouco das origens de nosso ilustre biografado.

Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, neto de Tomaz Antônio Pacheco Galindo e Maria Genoveva Ribeiro de Andrade, filha do coronel José Ribeiro de Andrade e Ana da Silva Borges.

Belchior era filho do Capitão Belchior Pinheiro de Oliveira e D. Floriana Rosa de Oliveira, filha do coronel José Ribeiro de Andrade. Nasceu no Tejuco, hoje Diamantina, portal do Vale do Jequitinhonha, a 8 de dezembro de 1778 e foi batizado a 23 de dezembro do mesmo ano, antevéspera do Natal, na Capela de Santo Antônio do Tejuco.

Estudou no Seminário de Mariana e foi ordenado, em 21 de dezembro de 1798, no Oratório do Paço Episcopal de São Paulo, por D. Mateus de Abreu Pereira, com autorização especial do Bispado de Mariana, pelo Frei Cipriano de São José.

Estudioso e dedicadíssimo às leituras bíblicas recebeu licença para estudar Cânones e Direito Civil, em Coimbra, onde se torna bacharel, em 5 de julho de 1809.

Consciente das novas ideias muda, também, a linguagem acadêmica da época. A contínua enxurrada de livros e de conhecimentos humanísticos invade e cresce na mente da juventude da época. Belchior não fica imune à angústia da influência que tomou conta daquele tempo. A penetração da Maçonaria dissemina nova ética política o que, desperta verdadeiro rebuliço intelectual nos meios atuantes e influentes do período.

Ao retomar ao Brasil, logo após seu bacharelado em 1809, é iniciado na Maçonaria, da qual recebe fortes influências que, somadas às suas convicções políticas e religiosas, só fazem aumentar seu imenso amor à Pátria e às questões que urgiam rápidas soluções.

Pelas suas andanças e pela sua militância política, chegou a ser indicado deputado pela Província de Minas às Cortes de Lisboa, honraria que recusou, quando assinou, em 25 de fevereiro de 1821, documento à Junta Governativa, negando-se a ir à Metrópole.

Ao ingressar no Clube da Resistência, ao lado de José Joaquim da Rocha, ali, nas reuniões na casa deste, conhece e torna-se amigo de D. Pedro, fazendo-se seu confidente e mentor intelectual.

O Regente, afável quando necessário, passa a convidar o Padre Belchior a acompanhá-lo em suas andanças e viagens de pacificação. Veio, segundo registros históricos, a Vila Rica, em março de 1822.

Novamente, acompanhou o Príncipe Regente Pedro, na memorável viagem a Santos, em agosto de 1822. Com ele, estava às 16 horas do dia 7 de setembro e ficou, para sempre, nos anais da História Pátria como aquele que precipitou a Independência do Brasil.

Foi um homem daqueles que estava à frente do seu tempo.

Por que escolhi o Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, titular da Cadeira 67, como meu Patrono, na Casa de João Pinheiro? Primeiro, pelas suas qualidades de grande brasileiro, mineiro da gema, conterrâneo de minha saudosa mãe Virgínia Brandão Carvalhaes, pela sua carreira maçônica, pelo efetivo interesse pelo estudo, compreensão, interpretação, participação e comunicação da História, não só a narração e descrição dos fatos históricos, mas, também e, mais profundamente, do ser ético-político do homem.

E, lembrando, mais uma vez, a tarde de 7 de setembro de 1822, outro registro se faz:
"– Enquanto D. Pedro, montado em sua besta de viagem, bradava ‘Independência ou Morte’, Padre Belchior, num ato de sublime simplicidade, abaixa-se na relva e recolhe os papéis pisoteados pelas patas do animal de montaria de D. Pedro, naquele momento enfurecido”.

Daquele instante histórico, ficou, também, marcada a imagem do Padre Belchior, que “discreta e humildemente, entrou para a História do Brasil”.

Nosso ilustre patrono, Padre Belchior Pinheiro de Oliveira, que dá seu nome a uma das ruas de Belo Horizonte, faleceu em 12 de junho de 1856 e está sepultado entre as escadarias do adro e as da Matriz da cidade mineira de Pitangui, isto porque, como Maçom, naquela época, apesar de sua condição de sacerdote, não pôde ser sepultado no interior da Matriz.

Há homens que esperam que as coisas aconteçam, outros, que fazem que elas aconteçam e estes fazem a História”.