DOM JOAQUIM SILVÉRIO DE SOUZA

PATRONO DA CADEIRA NÚMERO 75

Por Pe. Ismar Dias de Matos


Dom Joaquim nasceu na Fazenda das Peneiras, perto de São Miguel do Piracicaba, hoje Rio Piracicaba, comarca de Santa Bárbara, em 20 de julho de 1859, filho de Antônio de Souza Monteiro e de Ana Felícia Policena de Magalhães. Esse ilustre mineiro nasceu no ano em que morreu o
Santo Cura d’Ars, São João Maria Vianney, patrono dos párocos, cuja memória celebramos dia 04 de agosto.

Aos 13 anos ingressou no Seminário de Mariana, sob a direção dos padres da Congregação da Missão, conhecidos como Lazaristas. Depois foi para o Seminário Maior do Caraça. Em 1881, quando o Imperador Dom Pedro II visitou aquele famoso educandário, o jovem estudante de Teologia Joaquim Silvério foi escolhido para falar, em nome do corpo discente, ao ilustre visitante.

Com 23 anos incompletos foi ordenado presbítero em 04 de março de 1882, por Dom Antônio Correia de Sá e Benevides, bispo de Mariana. Após a ordenação presbiteral, além de ser professor de Latim, Português e História no Seminário do Caraça, foi Vigário de Inficcionado, atual Santa Rita Durão, e Capelão do Recolhimento das Freiras de Macaúbas. Além destes encargos, não deixou de cultivar as letras, colaborando em jornais católicos, como “O Apóstolo” e “Minas Gerais”. Escreveu, ainda como padre, os livros Sítios e personagens (lª edição em 1896; 2ª ed. 1930) e O lar católico (1900).

O primeiro biógrafo de Dom Joaquim, o então seminarista Celso de Carvalho, enumera e comenta, além das já citadas, outras obras que escritas por Dom Joaquim: Aos meus seminaristas, Vida de Dom Silvério Gomes Pimenta, Finezas de mãe e obrigações de filho, Abreviado despertador dos deveres sacerdotais, Educação na escola, e 16 Cartas Pastorais, destacando-se a primeira delas, que foi a Pastoral de saudação cujo título é “Do apostolado católico” (1905), a “Pastoral sobre o Jubileu Constantiniano”, em 1913, e “Do ensino e exemplo de São Francisco de Sales”, 1923 (Cf. CARVALHO, Celso de. Dom Joaquim: primeiro arcebispo de Diamantina, Petrópolis: Ed. Vozes, 1935, p. 117-16 1).

Em 16 de janeiro de 1902, com 42 anos, foi eleito bispo titular de Bagis e coadjutor de Dom João Antônio dos Santos, primeiro bispo de Diamantina, em Minas Gerais. Em 02 de fevereiro foi sagrado bispo por Dom Silvério Gomes Pimenta, que teve como consagrantes Dom João Batista Correia Nery, Bispo de Pouso Alegre, e Dom Fernando de Souza Monteiro, Bispo do Espírito Santo. Em 05 de maio de 1905, Dom Joaquim assumiu o pastoreio da Diocese de Diamantina.

Segundo Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta (1890-1982), que fora seu bispo auxiliar, as atividades episcopais de Dom Joaquim pareciam seguir uma trilogia capital: Clero, Imprensa e Educação, como se pode ver.

Fundou o semanário A ESTRELA POLAR em 01/01/1903, para ser o informativo da Diocese. Noticioso e doutrinal, mas também literário, o jornal tinha como lema: ITER PRAEBENS TUTUM (mostrando o caminho certo), e estava sob os cuidados do Cônego Severiano de Campos Rocha. O jornal circula até os dias de hoje.

Fundou a Associação de São José, para manter a obra das vocações sacerdotais. Em 1912 fundou o “Boletim Eclesiástico”, órgão da Cúria diocesana destinado a ser o traço de união e um instrutor do clero. Em 1927 abençoou a recém-fundada “A Messe”, revista da Obra das Vocações Sacerdotais.

Criou escolas normais em Itambacuri, Conceição do Mato Dentro, Curvelo e Diamantina. Criou em todas as paróquias da Arquidiocese a Confraria da Doutrina Cristã. (Cf. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFIC O DE MINAS GERAIS, Revista, v. VI: Centenário do nascimento de Dom Joaquim Silvério de Souza, p. 131-141).

Grande conhecedor dos escritos de Dom Joaquim, o saudoso arcebispo Dom José Pedro Costa viu em seus escritos uma segunda trilogia: EUCARISTIA, NOSSA SENHORA e o PAPA (Cf. COSTA, Dom José Pedro. Vanguardeiros: homenagem a Dom Joaquim Silvério de Souza no 60º aniversário de sua morte a 30 de agosto de 1933. Diamantina: Gráfica EPIL, 1993, p. 35).

Em 29 de janeiro de 1909, Dom Joaquim foi nomeado Arcebispo Titular de Axun e coadjutor da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde estava o Cardeal Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti (1850-1930), chamado de o “Cardeal da América Latina”. Alegando motivos particulares e questões de saúde, Dom Joaquim continuou em Diamantina.

Aos 57 anos, em 28 de junho de 1917, tornou-se Arcebispo de Diamantina e recebeu o pálio arquiepiscopal em 18/10/1919 das mãos de Dom Silvério Gomes Pimenta.

Dom Joaquim foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, da Sociedade Internacional de História, de Paris, e fundador da centenária Academia Mineira de Letras, e ocupava a cadeira 23, cujo patrono é Joaquim Felício dos Santos, jurista diamantinense. Dom Joaquim é patrono da cadeira 39 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, fundada em 15/11/1962, em Uberaba, em uma homenagem do acadêmico Dom José Pedro Costa, primeiro ocupante da Cadeira.

Em 1932, o então Núncio Apostólico no Brasil, Dom Bento Aloysio Masella, foi a Diamantina levar a Dom Joaquim a condecoração que lhe fora dada por S.S o Papa Pio XI: a de Conde Romano e assistente ao Sólio Pontifício. (Cf. CARVALHO, o.c, p. 70-7 1).

Outras importantes homenagens ao grande arcebispo: o povo da antiga cidade mineira de São Domingos do Rio do Peixe a renomeou de Dom Joaquim; seu nome foi dado a escolas, ruas e praças e, em 1959, no centenário de nascimento, o presidente JK mandou cunhar um selo dos Correios com a sua efígie.

Concluo estas páginas apresentando o testamento de Dom Joaquim, publicado na primeira página do jornal A Estrela Polar, edição de 10/09/1933, Ano XXXI, n°7:

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Por este instrumento, por mim escrito, datado e assinado, para valer como meu condicilo, de acordo com os artigos 1651 e 1655 do código Civil Brasileiro, eu, Joaquim Silvério de Souza, primeiro Arcebispo da Arquidiocese de Diamantina, filho do Capitão Antônio de Souza Monteiro e Dona Anna Felícia Policena de Magalhães, estando em pleno gozo de minhas faculdades mentais, faço esta declaração do que se deve cumprir após meu falecimento e para que se saiba a verdade quanto aos bens por mim havidos ou como tais considerados, ou sob minha administração.

Como é meu dever, agradeço a Deus todas as graças espirituais e temporais a mim concedidas e humildemente lhe suplico perdão de todos os pecados, infidelidades à graça, negligências, omissões, de que me tornei culpado durante o curso da vida, e de modo particular no exercício do ministério sacerdotal e pastoral.

No propósito de exalar o último alento firme na fé de tudo quanto ensina a Santa Igreja Católica, em cujo seio tenho a felicidade de viver e da qual, apesar de indigno, tenho a honra de ser ministro, entrego minha alma a Deus pelas mãos de Maria Imaculada, cujo especial amparo, assim como o patrocínio de seu castíssimo esposo, São José, a proteção de São Joaquim, de Santo Antônio, principal Patrono da Arquidiocese, do meu Anjo Custódio, invoco para os meus derradeiros momentos de vida na terra.

Não aos que mais de perto me ajudaram a levar o peso da administração do Arcebispado, mas a todos os sacerdotes e fiéis sob minha jurisdição, os agradecimentos a que têm direito pelos serviços que prestaram e consolações que deram à minha alma, e a quem de qualquer modo contristei os sentimentos do meu pesar e o pedido de sua indulgência para comigo.

Desejo que as Missas a que tenho direito e as que deixo recomendadas sejam celebradas quanto antes. Dos sacerdotes e fiéis deste Arcebispado e das Dioceses que outrora formaram o Bispado de Diamantina, e são hoje sufragâneas desta Igreja Metropolitana, espero a caridade de suas intercessões diante de Deus em meu favor.

Na campa da sepultura que recolher meus ossos, desejo, caso seja possível, se leiam, como contínua invocação minha, as palavras:
SPES MEA, DOMINE, MISERICORDIA TUA. Declaro que de meu não possuo coisa alguma.

A meus irmãos ou a filhos seus dei, já há anos, por instrumento legal, e observada também a legislação canônica, alguns alqueires de terra que na Freguesia de São Miguel do Piracicaba (atual Vila Rio Piracicaba) constituíram por doação de meus pais, patrimônio para minha ordenação, e no mesmo fim dispus da pequena herança destes havida.

Como consta de certidão oficial existente na Secretaria do Arcebispado, dei à Mitra Arquidiocesana os livros que me pertenciam e para ela foram adquiridos os posteriores à doação.

A ela pertencem todos os paramentos, imagens, alfaias, sacros utensílios, objetos de qualquer natureza existentes no Palácio e que não pertençam a outras pessoas.

Simples administrador dos bens da Mitra, nada para mim reservei ainda do que me podia pertencer segundo as leis canônicas, mas tudo, tirado o necessário para minha manutenção, empreguei para o bem da Arquidiocese, principalmente na educação da juventude e amparo das vocações sacerdotais.

Tendo em vida feito o que pude aos que me são mais próximos em sangue, como declarado ficou acima, e não podendo lhes deixar bens temporais, que não possuo, peço que vivam sempre como bons filhos da Igreja e mantenham honrado o nosso nome de família.

Aos Exmos. Srs. Dom Antônio Jose dos Santos,que me tem feito a caridade de sua valiosa cooperação durante anos e, na sua falta, a Monsenhor Levi Pires de Oliveira, e, no impedimento deste a Monsenhor Gabriel Amador dos Santos ou a seu sucessor na Secretaria do Arcebispado, aos quais todos renovo minha eterna gratidão, rogo o favor de fazer que se execute, de acordo com a legislação do País, esta minha disposição ou declaração de última vontade. Rogo, enfim, a Deus que me conceda a graça de servi-Lo menos imperfeitamente do que até hoje, durante os dias que por sua infinita misericórdia ainda viver sobre a terra. Diamantina, 09 de fevereiro de 1929. Dom Joaquim, Arcebispo de Diamantina”.

O santo e sábio arcebispo faleceu no dia 30 de agosto de 1933, em Diamantina.